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Curiosidades 04/Ago/2016 às 15:13 COMENTÁRIOS
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Por que os islandeses são tão felizes?

Publicado em 04 Ago, 2016 às 15h13

O segredo da felicidade dos islandeses: por que este país, à deriva no congelante Atlântico norte, está sempre no topo dos rankings de felicidade no mundo?

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Há muitos anos, visitei a Islândia no meio do inverno. Eu estava fazendo a pesquisa para um livro sobre felicidade global, e a pequena nação nórdica me intrigava.

O que esse país, à deriva no congelante Atlântico norte, estava fazendo no top dos rankings de felicidade no mundo?

Em busca de respostas, interroguei qualquer pessoa disposta a falar, jantei harkls – ou tubarão podre – bebi demais e, claro, tomei um banho na Blue Lagoon (Lagoa Azul), as águas geotermais de outro mundo que se tornaram sinônimo da felicidade islandesa.

Pouco depois de eu ir embora, os maiores bancos da Islândia quebraram e a economia do país chegou à beira do colapso como efeito colateral da crise financeira de 2008.

A taxa de desemprego se multiplicou por oito. A confiança em instituições, como bancos e o Parlamento, despencou.

Supus que felicidade do país também iria derreter.

Mas eu estava errado.

A crise econômica teve um efeito limitado na felicidade“, de acordo com a cientista de saúde Dora Gudmundsdottir, autora de um estudo publicado na revista científica Pesquisas de Indicadores Sociais.

Não apenas a felicidade geral da população teve apenas uma pequena oscilação durante a crise como 25% dos islandeses disseram que estavam ainda mais felizes. Como isso ocorreu?

Mandei um e-mail para Karl Blöndal, editor de um jornal que eu havia conhecido em Reykjavik. “Muitas pessoas foram fortemente atingidas, aposentados perderam sua poupança. Mas uma de comunidades pequenas é que todo mundo que você conhece está a seu alcance“, explicou.

Aqueles que perderam seus empregos não estão isolados, o risco de alienação não é o mesmo que seria em sociedades maiores.”

Ali estava uma verdade essencial sobre a felicidade islandesa: é majoritariamente um empreendimento coletivo.

A Islândia, apesar de ter uma capital cosmopolita como Reykjavik, lembra uma pequena cidade em muitos aspectos. As pessoas não precisam se preocupar em “cair num buraco negro”, dizem eles, porque não há buraco negro para cair; sempre há alguém para te pegar.

Como me disse um imigrante americano, se seu carro está preso na neve, sempre (sempre mesmo) alguém vai parar para te ajudar. Os níveis de confiança são tão altos que não é raro ver uma criança de seis anos andando sozinha para a escola na escuridão do inverno.

Em uma declaração tipicamente islandesa e otimista, Blöndal ainda viu uma oportunidade dentro da crise.

Agora podemos limpar o Estado. Quem sabe isso seja uma oportunidade para forjar uma sociedade mais aberta, onde o poder é mais difuso e os antigos interesses pessoais e barreiras econômicas estejam fora do caminho.”

A ideia de uma sociedade justa e aberta parece ser a chave.

De acordo com um relatório recente da ONU sobre felicidade global, a felicidade é distribuída de forma equilibrada na Islândia.

Ou seja, a maioria dos islandeses é mais ou menos igualmente feliz, enquanto em outros países – principalmente na América Latina e no Oriente Médio – a felicidade varia muito.

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Isso é importante porque novas pesquisas mostram que “as pessoas são significativamente mais felizes onde há menos desigualdade de felicidade“.

Em outras palavras, não é possível ficar muito feliz se seu vizinho está muito triste – e os islandeses parecem reconhecer intuitivamente essa verdade essencial.

Eles também desenvolveram um forte senso de resiliência com séculos de privação e isolamento.

Pense na escuridão do inverno, erupções vulcânicas e no terreno tão inacreditável que a Nasa enviou os astronautas da missão Apollo, em 1965, para treinar ali para suas caminhadas lunares.

Você vê esse tipo de otimismo teimoso todos os dias na Islândia. Você vê no jeito que as pessoas nadam em piscinas abertas, o ano todo, ou em como não há nenhum estigma ligado a deixar um emprego ou um relacionamento ruim.

Essa resiliência também pode ser encontrada na rica cultura literária do país, que data das antigas sagas – contos Viking de heroísmo frente à adversidade.

Hoje, a Islândia publica mais livros per capita do que qualquer país do mundo. Alguns psicólogos acreditam que a literatura – e outras fontes culturais – servem como um amortecedor em tempos difíceis.

As histórias são um veículo para expressar dor, e a dor que se expressa é uma dor menor. Também são um meio para uma cultura expressar sua energia criativa.

E os islandeses certamente reconhecem o valor da palavra escrita, atitude refletida em um ditado popular islandês: “Melhor ir descalço do que sem livros”.

Eric Weiner, BBC

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