Doze fases da Lava Jato se passaram entre a operação Acarajé e a Omertà, e a força-tarefa ainda não identificou quem é o "Santo" que aparece como receptor de propina da Odebrecht em duas obras que ocorreram durante as gestões do PSDB em São Paulo
Cíntia Alves, Jornal GGN
Doze fases da Lava Jato se passaram entre a operação Acarajé e a Omertà, e a força-tarefa ainda não identificou quem é o “Santo” que aparece como receptor de propina da Odebrecht em pelo menos duas obras que ocorreram durante as gestões do PSDB em São Paulo: a duplicação da rodovia Mogi-Dutra e a expansão de linhas do Metrô.
O codinome “Santo” consta na famosa planilha da Odebrecht que vazou em meados de março e, imediatamente, foi colocada sob sigilo pelo juiz federal Sergio Moro, que remeteu a parte que envolve repasses da companhia a políticos para o Supremo Tribunal Federal.
De acordo com o Estadão desta terça (27), se a Polícia Federal tivesse identificado quem é o Santo que aparece nas anotações apreendidas pela Lava Jato em posse de um dos diretores da Odebrecht, ele poderia ter sido indiciado na nova fase, chamada de Omertà – que, ao lado da fase Arquivo X, foi classificada pelo ex-presidente Lula como operação “Boca de Urna”, pois atingiram apenas o PT com os pedidos de prisão contra Antonio Palocci e Guido Mantega.
A publicação de hoje dá uma nova pista sobre Santo: ele aparece ligado a um pedido de pagamento de R$ 500 mil, em 2004, relacionado a uma “ajuda de campanha” com vistas aos “interesses locais” da Odebrecht em São Paulo.
A PF disse não ter identificado quem é Santo mesmo sabendo quem talvez poderia fazê-lo: o diretor da Odebrecht responsável pelo contrato da Linha 4 do Metrô, Marcio Pellegrini, que foi quem enviou a mensagem com o pedido de “doação” ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como “departamento de propinas”.
Santo é apenas um entre vários potenciais receptores de propina sob as gestões do PSDB em São Paulo que figuram na lista da Odebrecht que está com a Lava Jato há pelo menos seis meses, a julgar pela data da primeira notícia sobre o assunto na imprensa.
Em 26 de março, a Folha de S. Paulo mostrou, com base nos documentos da Lava Jato apreendidos na fase Acarajé, que Santo era o destinatário de R$ 3,3 milhões em propina referentes a um contrato de R$ 68 milhões vencido pela Queiroz Galvão na licitação da duplicação da rodovia Mogi-Dutra.
A suspeita é de que houve cartel e favorecimento a empresas derrotadas no certame, entre elas a Odebrecht. “Padrão idêntico levou o Ministério Público Federal a apontar a formação de cartel das empreiteiras para lotear as obras da Petrobras, mediante pagamento de propina“, anotou a Folha. Mas diferentemente do que ocorreu com o caso da Petrobras, a denúncia envolvendo obras sob a gestão Alckmin não avançou.
No manuscrito apreendido pela PF, os R$ 3,3 milhões aparecem como “custos com Santo” em função da licitação. Há ainda outro trecho nos documentos, de acordo com a Folha, indicando que o pagamento a ele pela Odebrecht deveria ser de R$ 687 mil, em parcelas. A primeira parcela sairia no momento da homologação da licitação, em fevereiro de 2002. A segunda, na assinatura do contrato, e as demais, ao longo da execução da obra.
“Como ainda não existe análise dos peritos sobre as anotações e o respectivo cruzamento com desembolsos do governo, não é possível afirmar se as projeções da anotação encontrada com o executivo se concretizaram.”
À época, o governo Alckmin disse que não iria tecer comentários pois se tratava de um problema da Queiroz Galvão. Hoje, com o indício de propina na obra do Metrô, diz que não mantém esse tipo de relação com empreiteiras.
Quando a planilha da Odebrecht vazou, Dilma Rousseff ainda não havia sido afastada da presidência em caráter definitivo. Somente quando a primeira decisão do Senado sobre o impeachment saiu, em maio passado, é que Michel Temer assumiu o cargo e indicou para o Ministério da Justiça o então secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes.
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