As melhores reações à trapalhada do MPF na denúncia contra Lula
Até Reinaldo Azevedo, o mais radical opositor de Lula na mídia brasileira, menosprezou e se disse envergonhado com a denúncia de Deltan Dallagnol e sua turma contra o ex-presidente: "Constrange os meios jurídicos! Facilitaram para o PT"
Denunciado nesta quarta-feira (14) pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, o ex-presidente Lula foi identificado como “comandante máximo do esquema de corrupção” pelo procurador Deltan Dallagnol.
Em um Power Point que virou motivo de deboche na internet por estar recheado de erros e deslizes básicos, Dallagnol afirma que Lula foi beneficiado com R$ 3,7 milhões de propina da OAS em um esquema que envolvia bilhões de reais.
Companheiro de Dallagnol na peça acusatória, o procurador Roberson Henrique Pozzobom chegou a admitir que não tinha provas contra Lula.
‘Constrange jurídicos’
Entre as reações de destaque à denúncia, uma chamou atenção. Reinaldo Azevedo, o mais radical opositor de Lula na mídia brasileira, menosprezou a acusação sem provas e se disse envergonhado com a apresentação de Deltan Dallagnol e sua turma contra o ex-presidente.
“A avaliação quase unânime é a de que Dallagnol se perdeu, encantado com a própria retórica. O que se avalia é que o MPF terá de se dedicar ao esforço defensivo de demonstrar que nada tem contra Lula”, escreveu Azevedo.
Segundo Azevedo, os investigadores “se dedicaram a demonstrar que Lula era o chefe da organização criminosa. Só que essa acusação, esse tipo penal, não apareceu. É um erro primário, fruto do açodamento e do estrelismo”.
“A defesa apresentada pelos advogados de Lula deixa claro que eles perceberam o erro cometido por Dallagnol e seus dallagnolzinhos”, finalizou o blogueiro da Veja.
‘Hipóteses’
Para o advogado e professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Estevam Serrano, a denúncia contra Lula é baseada em hipóteses e não em fatos.
“É absolutamente ilegal um agente do Estado afirmar que um cidadão é ‘comandante máximo de um grupo criminoso’ sem que ele sequer tenha tido oportunidade de defesa. Neste caso, o agente está descumprindo o dever jurídico de preservar a imagem e a figura do réu”, diz Serrano.
Do ponto de vista jurídico, enquanto o réu não é condenado, não há como fazer esse tipo de afirmação, de acordo com o jurista.
Pedro Estevam Serrano acredita que a acusação do MPF seja inconsistente, uma vez que, de acordo com ele, não há provas concretas em relação à participação de Lula no esquema de corrupção da Petrobras.
“A hipótese prévia imaginária prepondera em relação aos fatos. Me parece que a acusação num processo jurídico normal não prosperaria”, afirma. Nesse sentido, Serrano é enfático: “Não acredito na prisão dele [Lula]”.
Para o jurista Serrano, o sistema de justiça no Brasil, a partir da Lava Jato, está produzindo uma medida de exceção no interior da democracia.
“Há uma roupagem jurídica para o que no fundo é um julgamento político, com suspensão dos direitos da Constituição. Creio que o objetivo é o de evitar a participação de um candidato popular com chances de vitória nas eleições de 2018”, avalia.
De acordo com ele, a tentativa é de se produzir um discurso acusatório para fabricar o apoio de uma parcela da sociedade de forma fictícia antes do processo encerrar.
Inepta
O jornalista Luis Nassif avalia que a denúncia de Dallagnol é inepta e expõe o Ministério Público Federal.
“Depois de meses com o país aguardando em suspense o grande dia da apresentação da denúncia, a peça acusadora assemelha-se a um livro de ensino básico montado com a assessoria do Google”, diz Nassif.
“Descrevem os escândalos da Petrobras, o mensalão, o presidencialismo de coalizão, a história de José Dirceu no PT, em um “enrolation” sem par. E terminam com um duplo abuso. O primeiro, de não terem apresentado uma prova sequer contra Lula. O segundo de, mesmo assim, terem alimentado os jornais de manchetes falsas por meses e meses, e, agora, oferecerem a denúncia, com uma peça que expõe o Ministério Público Federal à galhofa”, acrescentou o jornalista.
‘Paranoicracia’
Para o deputado Jean Wyllys (PSOL), o Ministério Público Federal do Paraná conseguiu transformar o que deveria ser uma denúncia séria e sustentada em provas num “constrangedor comício político anti-Lula e antipetista, cuja estrela principal foi um tosco power point que, em minutos e acertadamente, virou alvo de chacota nas redes sociais”.
Wyllys ainda considerou inacreditável que a imprensa tenha dado voz e holofote aos procuradores. “A Globo News e a home da Folha de São Paulo levaram aquele esquema de ensino fundamental a sério. Por que será? É surreal a imprensa lhe dar microfones sem crítica”, ponderou o parlamentar.
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