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Como a América Latina reagiu ao impeachment de Dilma no Brasil

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Confira como EUA, Argentina, Cuba, Chile, Bolívia, Uruguai, Equador, Venezuela, El Salvador e República Dominicana reagiram à cassação do mandato da presidente eleita Dilma Rousseff

A Argentina, principal sócia do Brasil no bloco regional Mercosul, reagiu com cautela à destituição de Dilma Rousseff, cujo mandato presidencial será concluído por seu vice, Michel Temer.

Em nota divulgada nessa quarta-feira (31), o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “respeita o processo institucional verificado no pais-irmão” e reafirmou a vontade de continuar o processo de integração, num contexto de “respeito aos direitos humanos, às instituições democráticas e ao direito internacional”.

As reações ao impeachment de Dilma e à posse de Temer deixaram em evidência a crise que se instalou no Mercosul no fim de junho, quando o Uruguai concluiu seu mandato como presidente pro tempore do bloco. Cada um dos cinco países exerce o cargo rotativo por seis meses, antes de entregá-lo ao próximo, em ordem alfabética.

A partir de agosto, seria a vez da Venezuela, mas três dos quatro membros fundadores se opuseram. O Brasil, governado interinamente por Michel Temer, argumentou que os venezuelanos não haviam cumprido os requisitos necessários para serem considerados membros plenos. A Argentina e o Paraguai consideram que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está violando a cláusula democrática (condição para integrar o bloco) ao mandar prender líderes opositores.

Venezuela

A Venezuela que assumiu a presidência do Mercosul à revelia do Brasil, da Argentina e do Paraguai e em meio a uma grave crise econômica e política – foi o mais duro a reagir contra o impeachment de Dilma. Em comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores, anunciou que vai retirar definitivamente seu embaixador em Brasília, “para resguardar a legalidade internacional e em solidariedade ao povo do Brasil”.

Equador e Bolívia

O Equador e a Bolívia também prometeram retirar seus embaixadores de Brasília. E, juntamente com a Nicarágua, denunciaram o que consideram ser um “golpe parlamentar” contra Dilma Rousseff perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo secretário-geral, Luís Almagro, foi ministro das Relações Exteriores do Uruguai, no governo do ex-guerrilheiro Jose “Pepe” Mujica.

Almagro tem sido um dos maiores críticos da Venezuela. Segundo ele, a democracia naquele país deixou de existir, quando Maduro começou a perseguir seus opositores, que nesta quinta-feira (1º) convocarão uma grande marcha de protesto.

Eles conquistaram maioria no Congresso em dezembro e estão juntando assinaturas para convocar um referendo revogatório com o objetivo de destituir Maduro antes do fim de seu mandato em 2019. O objetivo é realizar o plebiscito antes do fim do ano, para realizar novas eleições presidenciais. Depois desse prazo, mesmo se Maduro for derrotado nas urnas, o vice dele assumirá o poder.

Uruguai

O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, afirmou nesta segunda-feira (05/09) que o governo de Tabaré Vázquez reconhece Michel Temer como presidente brasileiro, mas que considera “injusto” o processo de impeachment de Dilma Rousseff, afastada de forma definitiva do cargo na última semana.

“O Uruguai não reconhece governos, mas reconhece Estados. O não reconhecimento de um governo se dá de maneira indireta, através da retirada do embaixador e de alguma declaração que neste caso o Uruguai não fez”, disse Novoa a jornalistas após uma reunião do Conselho de Ministros.

Chile

A presidente do Chile, Michelle Bachelet – que como Dilma foi vítima da ditadura militar e cumpre seu segundo mandato – emitiu comunicado manifestando respeito “pelos assuntos internos de outros Estados e em relação à recente decisão adotada pelo Senado brasileiro”.

Além de expressar confiança de que o Brasil vai resolver seus desafios, Bachelet manifestou “apreço e reconhecimento à ex-presidenta Dilma Rousseff” e afirmou que os dois países “mantiveram relação intensa e produtiva durante seu mandato”.

Cuba

Cuba, que está em pleno processo de reaproximação com os Estados Unidos, depois de mais de meio século de guerra fria – também criticou o impeachment de Dilma.

Importante parceiro comercial do Brasil e um dos principais atores nas Relações Internacionais, os EUA assumiram uma postura moderada em relação à saída de Dilma da presidência. O porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby disse que “as instituições democráticas brasileiras agiram dentro de seu ordenamento constitucional”.

“Foi uma decisão feita pelos brasileiros e obviamente respeitamos isso. Estamos confiantes de que continuaremos as fortes relações bilaterais entre os dois países como as duas maiores democracias e economias do hemisfério”.

El Salvador

O presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, garantiu neste sábado (03/09) que está disposto a reavaliar a relação diplomática com o Brasil, por causa do impeachment de Dilma Rousseff, decisão que classificou como “golpe”.

“Estamos acompanhando o que está acontecendo no Brasil, para poder dar outros passos. Estamos dispostos a outros passos, porque não vamos permitir que na América Latina se imponha uma modalidade de golpes suaves para destituir governos que foram eleitos democraticamente”, afirmou o chefe de Estado.

Ex-presidentes

Os ex-presidentes da região que conviveram com 13 anos de governos petistas também se manifestaram. A antecessora da Mauricio Macri, Cristina Kirchner, expressou a sua opinião sobre o impeachment pelo Twitter: “América do Sul, outra vez laboratório da direita mais extrema. Nosso coração junto ao povo brasileiro, Dilma, Lula e os companheiros do PT. Se consumou no Brasil o golpe institucional”, disse.

Jose “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, afirmou em reunião com líderes sindicais que o impeachment de Dilma “foi um golpe anunciado”, mas que serviu de lição.

“A companheira Dilma não teve cintura para negociar e, sobretudo, surpreendeu muita gente de suas próprias fileiras porque quis frear o peso da crise econômica com algum tipo de medida relativamente conservadora”.

O ex-presidente da República Dominicana Leonel Fernández (1996-2000) afirmou nesta segunda-feira (05/09) que a destituição de Dilma Rousseff da Presidência brasileira foi uma “canalhada”, a qual mascarou uma “luta de poder” em torno dos recursos naturais do país.

Em sua coluna no jornal dominicano Listin Diario, Fernández, que também é presidente do PLD (Partido da Libertação Dominicana), apontou que não foram apresentadas provas de crimes contra a ex-mandatária, que manteve os direitos políticos de acordo com decisão dos senadores.

Nesse sentido, segundo ele, “o que aconteceu no Brasil em relação a Dilma Rousseff não foi um julgamento ou um impeachment”. “Foi, bem mais, uma espécie de teatro, um melodrama, uma tragicomédia que mascarou o fato de que, no fundo, realmente se trata é de uma luta de poder”.

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