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Como combater a estupidez que sacramenta o bom senso?

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Apertem os cintos. O bom senso sumiu. Atitudes estúpidas como a agressão à senadora Vanessa Grazziotin precisam ser combatidas. Se lugar nenhum é adequado para tamanha babaquice, muito menos o interior de um avião lotado em pleno voo

O sujeito que provoca uma figura pública precisa entender que quem está ali não é um cidadão comum

Mauro Santayana*

Vanessa Grazziotin foi agredida, na última semana, em um voo de carreira da Latam, entre Brasília e Curitiba, pelo advogado paranaense Paulo Henrique Rocha Loures Demchuk, que tentou arrancar de sua mão o telefone celular com o qual a senadora filmava as provocações que lhe eram dirigidas por ele.

Se a senadora não se feriu seriamente, isso não vem ao caso, para usar uma expressão muito em voga na capital paranaense.

O que importa é a intenção por trás do fato, que, aliás, tem se repetido insistentemente, com outros personagens e voos, desde 2013.

“Quero ver se essa senadora vai ter coragem de pegar outro avião de novo – rsrsrsrsrs”, comentou, sobre o fato, apoiando o primeiro, um energúmeno, em uma rede social, evidenciando que o verdadeiro propósito por trás desses episódios – que estão longe de ser espontâneos ou descoordenados – é pressionar, constranger, chantagear, engessar, representantes eleitos de milhares de eleitores brasileiros, impedindo seu livre exercício de direitos básicos do texto constitucional, como o de opinião e o de ir e vir.

Ora, esse tipo de atitude, covarde, irresponsável, temerária, pode, se não for firmemente combatida pelas autoridades, ter um efeito diametralmente oposto.

Não será de estranhar que políticos e parlamentares como Vanessa Grazziotin, encontrem, entre seus apoiadores – a senadora teve 672.920 votos nas últimas eleições – 10, 20, ou 30 bem fornidos eleitores para cuidar de sua segurança em seus deslocamentos, e numerosos outros eleitores dispostos a financiar, por meio de doações, o salário ou a ajuda de custo desses guarda-costas e o seu transporte, para preservar a dignidade e incolumidade pessoal de quem mereceu seus votos no último pleito.

O sujeito que provoca uma figura pública – não interessando a que orientação política ou partido pertença – precisa entender que quem está ali não é um cidadão comum, mas milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares de brasileiros, portadores de um documento chamado título eleitoral, que o escolheram, entre muitos outros, e que a ele transmitiram, pelas urnas, a inquestionável autoridade e o poder intransferível de seu voto.

Da mesma forma, devem agir todos os funcionários do Estado diante de um representante eleito.

Atrás de cada deputado, prefeito, senador, governador, presidente, existem milhares, dezenas de milhares, milhões de outros brasileiros que exigem que sua vontade seja respeitada, e que se estivessem ali, no caso de Vanessa Grazziotin, teriam linchado o advogado do episódio em segundos, em reação ao desrespeito e à agressão sofrida pela pessoa que elegeram para representá-los e defender seus interesses no Congresso Nacional.

É contra isso, o contrato social do voto – o único que pode garantir um mínimo de paz e liberdade em um país com 206 milhões de habitantes e as proporções do Brasil – estabelecido pelo reconhecimento do poder da maioria, que se levanta e se insurge, da forma mais tosca e imbecil, o incipiente e ridículo fascismo tupiniquim.

Em nota, depois do ocorrido, o agressor, invertendo os papéis, tentou se fazer de vítima (de filmagem não autorizada) e aproveitou para fazer profissão de fé do fascismo rasteiro e desinformado e do “achincalhe” como arma política, dizendo que “no momento em que o Estado brasileiro e seus funcionários de alto escalão são responsáveis pelos maiores crimes da história do Brasil” (errado, o “Estado”, como a ele se refere Demchuk, dando ao termo ares ideológicos, não pode ser responsabilizado por crimes de bandidos antigos, como Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, este já liberado outra vez pelo Juiz Sérgio Moro) e os maiores crimes já cometidos no Brasil foram os de tortura e assassinato cometidos pela corja reunida à sombra da ditadura militar; “é fundamental que o cidadão os antagonize (hostilize), é fundamental que o cidadão se oponha à autoridade (do voto), (normalmente ilegítima e irracional) (qual seria, para o advogado, a autoridade “legítima e racional” então? A do Estado, que ele parece odiar e desprezar?)

“Nesses momentos – prossegue o agressor – o ato de achincalhar não apenas intregra o movimento político (sic) (que “movimento” político? o fascista?) como é inerente a ele…

Para a população (que população, a fascista? ) que não detém poder instituído (detém sim, por meio do voto) o ato de achincalhar (irritar, insultar, agredir?) é uma bela (para o fascismo, toda violência desatada e estúpida é bonita) forma de demonstrar seu descontentamento contra os parasitas (que parasitas? os banqueiros, que levam 14% do dinheiro dos impostos, certos funcionários públicos que ganham muito acima que o teto constitucional, ou os grandes sonegadores, que desviam R$ 500 bilhões por ano?)

Ora, está explicado porque ele e outros imbecis do movimento a que, parece, pertence, odeiam a “política” e a autoridade advinda da soberania da vontade popular.

Porque – pelo menos até agora – eles não têm votos.

E não aceitam que tenham voto aqueles que não pensam exatamente como eles e que resistem, bravamente, à sua constante pressão e provocação, sem se acovardar.

Porque eles não têm mais força do que a da provocação rasteira, chula, de um bando de idiotas se esforçando para aparecer, repetindo paradigmas hipócritas e informações falsas, tentando insultar quem está sentado, em frente, em outra poltrona do avião.

A pseudo força de três ou quatro sujeitos que acham –como ocorre no caso do próprio país – que representam a maioria dos passageiros, quando os eleitores que apoiam e votaram na mulher que estão tentando atacar covardemente encheriam tranquilamente 5.000 aviões do mesmo modelo daquele em que essa estúpida e miserável agressão aconteceu.

Resta saber o que vai ocorrer quando “políticos”, artistas, intelectuais e lideranças de movimentos sociais que estão sendo atacados optarem por andar com 10 ou 20 seguranças como escolta.

Quando os que tiverem opinião contrária a eles passarem a fazer o mesmo.

E quando dois desses grupos se encontrarem em plena viagem e qualquer um dos lados – normalmente o mais estúpido, arrogante e ignorante – partir para a provocação e a violência.

Haverá uma batalha campal em pleno ar, colocando em risco a segurança de toda a aeronave?

Começaremos a jogar aviões no solo porque estamos nos recusando a enfrentar, desde o primeiro indício, esse alegado direito à agressão e à imbecilidade?

Será que não haverá dentro desse avião algum parente, ou um ente querido, de um dos exemplares da malta odienta e ignara que apoiou a atitude fascista desse indivíduo na internet?

É por isso que, independente de sua opinião política, caro leitor – seja você de esquerda, de direita ou de centro, viralatista ou nacionalista ou um funcionário da Infraero ou da Polícia Federal –, é preciso assegurar que esses agressores sejam exemplarmente punidos e processados – como não ocorreu depois do voo para Curitiba – a cada vez que eles provoquem ou agridam alguém durante um voo, antes que haja uma reação à altura, e em cadeia, e ocorra uma tragédia de grandes proporções.

Porque, agindo como estão agindo, eles não estão colocando em risco apenas a segurança de quem eventualmente estejam insultando e agredindo, mas a sobrevivência de toda a aeronave, de todos os passageiros, de toda a tripulação.

Será que haverá um maluco fascista nesse avião? Será que ele vai surtar e agredir alguém? Será que esse alguém ou a sua segurança vai reagir? Será que mais alguém vai entrar na briga? Será que alguém pode estar armado nesse voo? Será que o avião vai cair?

Pense nessas possibilidades – que não estão no manual de instruções que se encontra na bolsa da poltrona à sua frente – antes de iniciar uma discussão política a bordo de uma aeronave comum de passageiros. Ou da próxima vez que você estiver entrando, ou embarcando seu filho, sua filha, sua mãe, em um avião de carreira, neste absurdo Brasil em que estamos vivendo hoje.

Nunca é demais lembrar – recorrendo ao bom senso no lugar do senso comum sórdido, hipócrita e tosco que está se espalhando como um vírus pelo país – que um avião lotado em pleno voo não é o melhor lugar para a prática desse tipo de babaquice. Ou é?

*Mauro Santayana é um jornalista brasileiro vencedor do Prêmio Esso

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