Denúncia contra Lula: "Não temos como provar. Mas temos convicção"
Procuradores da Lava Jato cometeram série de gafes ao tentar explicar denúncia contra Lula nesta quarta-feira. Além de uma amadora apresentação em Power Point, houve a confissão de que não há provas contra o ex-presidente. A hashtag #MasTenhoConviccao ficou entre as mais comentadas nas redes sociais
Os Procuradores da Operação Lava Jato denunciaram nesta quarta-feira (14) o ex-presidente Lula, sua esposa, Marisa Letícia, e outras seis pessoas. O centro da denúncia seria a lavagem de dinheiro no caso da reforma do tríplex no Guarujá (SP).
A confusão que se deu em torno de um ‘Power Point’ apresentado pelos procuradores para explicar a denúncia gerou uma série de memes na internet.
“Lula é comandante máximo de esquema criminoso”, disse o procurador Delton Dallagnol, chefe da Lava Jato. A frase já estava estampada nos portais da imprensa comercial enquanto corria a coletiva, indicando que os veículos dispunham previamente do material exibido.
SAIBA MAIS: As melhores reações à trapalhada do MPF na denúncia contra Lula
Na coletiva à imprensa, que aconteceu após a apresentação do ‘power point’, os procuradores foram questionados por alguns jornalistas sobre a fragilidade da denúncia contra Lula, que não apresentava nenhuma prova.
Foi quando o procurador Roberson Henrique Pozzobom afirmou: “Não temos como provar, mas temos convicção”.
Curiosamente, Roberson é o mesmo que esteve no centro de uma grave polêmica em abril deste ano, quando foi acusado de induzir um homem a incriminar o ex-presidente Lula.
Nas redes sociais, a hashtag #MasTenhoConviccao figurou entre as mais comentadas do dia.
‘Show midiático’
De acordo com a defesa de Lula, as acusações representam um show midiático e são “de cunho claramente político para o fim estabelecido desde o início da operação, que é impor uma condenação indevida e injusta ao ex-presidente”.
Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, disse em entrevista coletiva que a denúncia foi apresentada em um inquérito que tramitava de forma oculta. O MPF requereu e o juiz de Curitiba (Sérgio Moro) deferiu a tramitação oculta.
“Lamento profundamente que hoje a Lava Jato tenha se utilizado dos recursos dos cidadãos para fazer uma narrativa falsa, de fim político e estranha à própria denúncia apenas para atingir a reputação de Lula e seus familiares.
Delegado fã de Aécio Neves
“O que serviu de base para o MP fazer denúncia é um relatório de um policial [delegado] que tem um histórico contrário a Lula. Enquanto eu apresento provas, lá se apresentam hipóteses feitas por uma pessoa que não tinha condições de isenção e por isso fez de forma secreta”, disse.
“O delegado que indiciou Lula o fez sem dar a oportunidade de esclarecer. Indiciou porque já tinha a intenção de fazê-lo a qualquer custo”, acrescentou.
Cristiano se refere ao delegado Márcio Anselmo, que foi cabo eleitoral de Aécio Neves e costumava chamar Lula de “anta” nas redes sociais.
Em novembro de 2014, o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma matéria que revelou que todos os delegados da Lava Jato eram simpáticos ao PSDB e a Aécio Neves.
MPF ou partido político?
Em entrevista no no salão verde da Câmara, o deputado Paulo Pimenta afirmou que setores do MPF perderam completamente a isenção e que se transformaram em um partido político com a finalidade de acabar com a vida de Lula.
Pimenta também disse que os procuradores não apresentaram nenhuma prova, mas, sim, uma tese que parte de um pressuposto.
“Dr. Dallagnol fez apresentação de uma tese que parte de um pressuposto ilegal, ele busca um culpado e, a partir dessa culpa do presidente Lula, desenvolve uma tese para justificar o seu ponto de vista”, disse.
O deputado lembra que os procuradores culparam o atual sistema de governabilidade para a aprovação de projetos com base em propina, porém, esqueceram-se de que esse sistema existe há muito tempo.
“A mesma base política que deu maioria pro presidente Lula foi a mesma base que deu governabilidade para FHC por oito anos”, lembrou.
Pimenta ainda ratificou que empresas envolvidas e denunciadas nesse esquema já participavam de processos ilícitos em governos anteriores e criticou o que os procuradores chamaram de “república da propina”.
“Se era a propina que determinava qualquer votação da base aliada, isto lhe permite, então, imaginar que a indicação para os ministros do Supremo Tribunal Federal, para os ministros do Tribunal de Contas da União, para os ministros do Superior Tribunal de Justiça, foram realizados, também, nessa mesma lógica”, afirmou.
“Se estas empresas para adquirirem contratos pagavam propina pro governo federal, e, por conta disso, remuneravam agentes públicos, de maneira legal ou ilegal, por que razão eu teria que acreditar que estas mesmas empresas não mantêm essas mesmas práticas nos contratos que detém há décadas nos governos estaduais, capitaneados – especialmente -, pelo PSDB, pelo PMDB, pelo DEM e assim por diante?”, questionou.
Dilma
A presidente impedida Dilma Rousseff comentou a denúncia contra Lula. “É lamentável que uma denúncia sem provas seja feita contra o presidente Lula e sua família. É evidente que esta denúncia atende ao objetivo daqueles que pretendem impedir sua candidatura em 2018. Mais uma vez, a democracia é ferida. Mais uma vez, grave injustiça é cometida sem fundamentos reais. Agora, o alvo é o ex-presidente Lula. Certamente, ele saberá se defender e as pessoas de bem saberão reagir”, afirmou.
VÍDEOS:
Complemento:
(1) Operação Lava Jato: como tudo começou — https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/04/operacao-lava-jato-como-tudo-comecou.html
(2) Investigadores da Lava Jato tentam induzir homem a incriminar Lula — https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/04/investigadores-da-lava-jato-tentam-induzir-homem-a-incriminar-lula-revela-gravacao.html
(3) Procurador da Lava Jato admite que PT foi único a não impedir investigações — https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/04/procurador-da-lava-jato-diz-que-pt-e-o-unico-que-nao-impede-investigacoes.html
(4) Delegado da Lava Jato que apoiou Aécio Neves quer censurar a internet — https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/03/delegado-da-lava-jato-que-apoiou-aecio-neves-quer-censurar-a-internet.html