Política

Eduardo Cunha se diz traído por Michel Temer: “não fez nada por mim”

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Eduardo Cunha cobrou lealdade por colocar Michel Temer na Presidência, mas acabou expulso do Congresso sob as barbas do governo que ajudou a empossar e pelas mãos do grupo político que ele próprio fortaleceu. Em entrevista, o deputado cassado deu pistas do que vem por aí

Eduardo Cunha e Michel Temer (Ag. O Globo/André Coelho)

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve seu mandato cassado nos últimos minutos da segunda-feira (12), marcando o fim de uma força política que fez avançar o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Sem sair da linha polêmica que vinha seguindo, Cunha caiu atirando e apontou o governo de Michel Temer como um dos culpados pela perda do mandato.

Um emissário do Planalto, em reunião com Cunha, tentou colocar panos quentes. “Eduardo, o governo não pode tudo”, explicou. Mas Cunha não se convenceu. Patrono do impeachment, cobrava lealdade por colocar Michel Temer na Presidência.

Acabou expulso do Congresso sob as barbas do governo que ajudou a empossar e pelas mãos do grupo político que ele próprio fortaleceu. Abatido, com olheiras e mais calado do que o normal, confidenciava a amigos horas antes da cassação: “O Michel não fez nada por mim”.

Eduardo Cunha também guarda mágoas em razão do apoio do governo Temer à candidatura de Rodrigo Maia (DEM) à presidência da Câmara. “Eu culpo o governo Temer por ter patrocinado a candidatura do presidente que se elegeu [Maia]. Com esse apoio, de certa forma, o governo aderiu à agenda da minha cassação”, disse.

Além de reclamar de Michel Temer nesta segunda, Eduardo Cunha criticou muito Moreira Franco, secretário do presidente. O único poupado foi Geddel Vieira Lima — “esse sempre foi correto comigo”, dizia ele.

O que vem agora?

Cunha deu pistas do que vem por aí. “Contarei tudo do impeachment”. Ele espera lançar um livro sobre os bastidores da deposição de Dilma Rousseff em dois meses.

A cassação do deputado marca o fim, ao menos por ora, de sua carreira política, já que com a Lei da Ficha Limpa a perda do mandato o deixa inelegível por oito anos, mas não encerra a controvérsia que cerca o deputado.

Cresce agora, no ambiente político, o temor que faça uma delação premiada no âmbito da Lava Jato, podendo envolver integrantes do atual governo.

Questionado por jornalistas se faria este tipo de acordo, Cunha afirmou que apenas criminosos fazem delação. “Não cometi crimes e não tenho o que delatar”, afirmou.

De líder do impeachment a deputado cassado

Cunha saiu de um contexto em que era uma das principais lideranças políticas do Congresso para uma situação de debandada de aliados. Antes, no tempo em que presidiu a Câmara entre 2015 e 2016, reuniu um grupo de parlamentares da base do governo Dilma que sob seu comando impôs derrotas importantes em votações caras ao Palácio do Planalto.

O grupo de mais de 200 parlamentares tornou-se uma tropa capaz de prolongar a tramitação do processo de cassação por quebra de decoro parlamentar que Cunha sofreu sob a acusação de ter mentido quando depôs espontaneamente à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.

Na ocasião, negou ter contas no exterior, mas documentos dos Ministérios Públicos da Suíça e do Brasil apontaram a existência de contas dele e de familiares no país europeu.

Ainda assim, Cunha mantinha sua força política junto ao grupo de mais de 200 parlamentares e ganhou especial interesse de integrantes da oposição a Dilma, que viam no deputado a chance de levar adiante um impeachment da então presidente.

Passou a ver sua força diminuir quando o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia e o transformou em réu, em março deste ano.

Em maio, o STF determinou seu afastamento do cargo de presidente da Câmara e a suspensão de seu mandato. Em junho, o deputado tornou-se réu em uma segunda ação penal.

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com agências

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