Retirando a obrigatoriedade de disciplinas como sociologia e filosofia, o governo de Michel Temer concede vida à Escola Sem Partido, um projeto que sucateará a educação e promoverá um atraso epocal do qual o Brasil jamais se recuperará.
Mailson Ramos*
Desmonte na educação: não tem outra definição para o que os porta-vozes do governo na imprensa chamaram de “o novo Ensino Médio”. Para além das análises preliminares, há uma constatação desanimadora: querem amortizar a consciência da juventude, e pior, impedi-la de pensar o mundo a partir de diferentes visões.
O que se impõe com o chamado “novo Ensino Médio” é um ensino de monocráticas ideias e de visões ultrapassadas, cujo único objetivo é fortalecer um sistema de poder onde estudantes sejam incapazes de contestar a sociedade a sociedade onde vivem.
Retirando a obrigatoriedade de disciplinas como sociologia e filosofia, o governo de Michel Temer concede vida à Escola Sem Partido, um projeto que sucateará a educação e promoverá um atraso epocal do qual o Brasil jamais se recuperará.
Um governo que extingue o ministério da Cultura – e depois o recria sob a pressão de protestos – não se importa com as artes e as manifestações culturais do país; tampouco com a sua identidade. E sob a batuta deste governo ultraconservador, o ministério da Educação retira a obrigatoriedade das Artes no currículo escolar.
A discrepância do poder autoritário não se disfarça; o Brasil que acaba de sediar as Olimpíadas no Rio de Janeiro, um espetáculo global para esportistas e não esportistas, retira a obrigatoriedade da Educação Física. Num país onde a maioria da população sofre de doenças ocasionadas por inatividade física (sedentarismo).
De todos os males, restringir o acesso de estudantes ao debate e ao pensamento crítico é uma tragédia da qual a sociedade brasileira deverá lamentar muito no futuro. A construção de uma sociedade não pensante – e movida por interesses puramente individuais e não coletivos – é a cartada deste governo impopular e ilegítimo.
Talvez disso tenha tratado o ministro da Educação quando se reuniu com Alexandre Frota e Marcelo Reis, aquele dos Revoltados Online. Naquele dia foram apresentadas propostas para alterar o Ensino Médio.
Note-se também que a imprensa salienta: “o projeto de alteração do Ensino Médio é debatido desde 2010”. Isso faz parte de uma referência ao governo anterior para não causar impacto nas camadas da população que rechaçam Michel Temer e sua turma desde o primeiro momento.
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O governo utiliza-se de estatísticas para mostrar que a educação não avança para destruí-la. O mesmo faz com a Petrobras, por exemplo: para combater a crise na empresa, reduzem-se os investimentos e a entrega ao capital externo. Desculpas e nada mais. O importante é desmontar.
Caríssimos, amanhã, se o seu filho chegar em casa e disser que jamais ouviu falar da Escola de Frankfurt porque a sua grade curricular não tem filosofia – e estas teorias são coisas de comunista – , lembre-se do recado deste humilde artigo. Lembre-se a que ponto chegou a insanidade mental da direita neste país.
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A reação a esta MP que os sabujos da mídia festejaram – como festejam todas as medidas do governo usurpador – deve ser imediata. Intelectuais devem tomar este projeto como inimigo da educação. Eles querem retirar disciplinas do currículo para estabelecer melhores números e falsear estadísticas com um ensino em realidade inepto.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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