“Não tenho vocação para dar tiro na cabeça, como o Getúlio, nem para deixar o país, como Jango. Vão ter que disputar comigo nas urnas”. Lula pediu ainda que a imprensa brasileira conceda a ele o mesmo espaço que deu aos seus acusadores. Confira os principais pontos do pronunciamento do ex-presidente
Em discurso em que variou entre humor, emoção e momentos mais agressivos, o ex-presidente Lula acusou os membros do MPF de inventarem uma “mentira” e a imprensa de cumplicidade.
“Descobri que tanto meus acusadores como uma parte da imprensa estão mais enrascados e comprometidos do que eles pensam que eu estava. Construíram uma mentira, como se fosse o enredo de uma novela. Tenho convicção que setores da imprensa que mentiram vão ter que inventar outra versão para sair dessa encalacrada. Continuem falando. A história mal começou e eles pensam que está terminando”, avisou.
O ex-presidente citou Tiradentes para dizer que, independentemente de se perseguir lideranças como ele ou o principal personagem da Inconfidência Mineira, os ideais sobrevivem.
“Acredito nas ideias de Tiradentes. Não adianta esquartejar, as ideias sobrevivem e anos depois veio a independência do país. Se me tirarem da política, vão ter problemas com o golpe que deram. Vão ter problema com o que tiraram do povo trabalhador. Vão ter problema em entregar o pré-sal, a Petrobras, as indústrias, a Caixa, o Banco do Brasil”, disse.
Lula indicou acreditar que as ideias as quais acredita que sobreviverão já estão nas ruas com a geração mais jovem, que tem se manifestado contra o governo golpista de Michel Temer. “O país que eu sonho está longe. Subimos um degrau na escala social que eles estão tirando agora. Criminalizar o Lula é bobagem. Essa meninada que evitou o Alckmin de fechar escolas, que está vindo para as ruas para reivindicar democracia, essa meninada é o Lula multiplicado por milhões”, afirmou.
Segundo ele, a perseguição de que ele, o PT e Dilma Rousseff são vítimas começou em 2005, baseada na lógica da criminalização da política com o apoio da mídia, como têm denunciado cientistas políticos, juristas e pensadores progressistas. “A lógica não é mais o processo e os autos, a lógica é a manchete. Ou seja, quem vamos criminalizar pela manchete. Está acontecendo isso desde 2005. O PT tem que ser extirpado da história, assim fizeram com o partidão na década de 50.”
O ex-presidente também associou a perseguição contra ele, seu governo e ao governo de Dilma Rousseff com outros líderes populares que governaram o país. “Getúlio governou com mão dura. Juscelino talvez tenha sido vítima de mais inquéritos do que eu. João Goulart vocês sabem o que aconteceu. Não tenho a vocação de Getúlio de me dar um tiro, do Jango de sair do Brasil. Vão ter que disputar comigo na rua”, prometeu.
Ele voltou a dizer, como Dilma insistiu em sua defesa no processo de impeachment, que foram os governos petistas que criaram condições republicanas para as investigações da Polícia Federal e atuação do Ministério Público. “Tiramos da sala o tapete que escondia a corrupção deste país”, disse, momento em que foi aplaudido.
Segundo Lula, o “show de pirotecnia” do Ministério Público ao anunciar as acusações de que ele comandaria um esquema de corrupção vinculado à Petrobras deveria constranger as autoridades do país. “O procurador-geral da República deve estar pensativo. Os ministros do Supremo devem estar pensativos. O diretor-geral da Polícia Federal deve estar pensativo. À custa do que esse espetáculo? À custa do que divulgar um produto que não tem como entregar?”
Também usou a afirmação dos membros do MPF, que repercutiu em todo o país, de que eles não têm prova contra ele, mas têm convicção, para ironizar o silêncio sobre a apreensão de helicóptero da empresa do filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), Gustavo Perrella, com 400 quilos de cocaína, em 2013. “Eu vi um artigo do (Luis) Nassif que chamou a atenção. Eles sabiam e tinham provas de um helicóptero com 400 kg de cocaína. Tinham provas, pegaram o helicóptero, mas não tinham convicção. Então não prenderam ninguém”, disse. “Provem uma corrupção minha que eu irei a pé para ser preso em Curitiba.”
“Me dedicaram um apartamento que eu não tenho. Uma chácara que eu não tenho. Me dedicaram ser o comandante maior da corrupção. Sem provas, mas com convicção”, acrescentou.
Assista a íntegra:
RBA
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