Cinema

Sônia Braga comenta decisão do MinC de não indicar ‘Aquarius’ para o Oscar

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Aquarius não foi o indicado do Brasil para concorrer ao Oscar por motivos meramente ideológicos. Os atores e o filme passaram a ser perseguidos por setores conservadores e pelo atual governo após protestos contra o golpe

A atriz Sônia Braga, protagonista de Aquarius

Homenageada na última segunda-feira (12) em um evento no Festival Internacional de Cinema de Toronto, a atriz Sônia Braga, 66, comentou sobre a decisão da comissão do MinC (Ministério da Cultura) de não indicar o aclamado filme “Aquarius” como candidato brasileiro ao Oscar 2017.

“‘Aquarius’ não foi rejeitado e, sim, outro filme foi o escolhido em um processo natural. Eram vários competidores, reflete o gosto estético da comissão deste Ministério da Cultura”, disse a atriz.

Na manhã de segunda-feira, a comissão divulgou que o drama “Pequeno Segredo”, dirigido por David Schurmann, será o representante brasileiro na disputa por uma indicação na categoria de filme estrangeiro.

“Este filme [‘Aquarius’], que foi como uma missão de resgate de minha carreira no Brasil, tem uma vida própria, e bem dele. Ele foi a Cannes, vai ao festival de Nova York, tem estreia garantida em mais de 50 países, foi recebido com elogios pela crítica e por plateias no Brasil e mundo afora. ‘Aquarius’ me deu a alegria de estar aqui com vocês celebrando minha carreira”, disse Braga.

Kleber Mendonça Filho, diretor do filme, também comentou o fato de Aquarius não ter sido indicado pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil como melhor filme estrangeiro na disputa do Osca.

Para Mendonça Filho, a opção está “em sintonia” com a atual situação política do país e que, a partir daí, a decisão é “coerente e já esperada”

“No final das contas, Aquarius é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível. Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de Aquarius um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento”, disse Mendonça Filho pela rede social.

“Para além de decisões institucionais via Governo Brasileiro, Aquarius tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadores nos cinemas brasileiros, com um tipo de impacto popular também raro. Mais ainda, é um filme que já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país”, afirmou.

O filme ainda pode concorrer a indicações em outras categorias, já que estreia nos Estados Unidos no fim de outubro. Pelas regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, qualquer filme que estreie comercialmente em Los Angeles até 31 de dezembro de 2016 e fique em cartaz por pelo menos sete dias, com três sessões diárias, pode concorrer.

‘Atestado de burrice’

Para a jornalista Cynara Menezes, boicotar obras de arte em função de ideologia é atestado de burrice.

“Boicotar obras de arte em função da posição ideológica dos autores é o maior atestado de burrice que um ser supostamente pensante pode dar. Aquarius é um filme ‘de esquerda’? Não. É um filme, sem dúvida, contra a especulação imobiliária. Mas precisa ser de esquerda para se o opor à destruição das cidades onde vivemos para que meia dúzia de privilegiados nade em dinheiro?”, questionou Cynara.

Cynara refere-se ao boicote sugerido pelo blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, que esta semana pediu aos seguidores para que não assistam ao filme.

“O que essa gente propõe? Que quem é de direita nunca mais ouça Chico Buarque? Que quem é de esquerda nunca mais leia Jorge Luis Borges? Que tenhamos de escolher entre Picasso e Dalí, entre García Márquez e Vargas Llosa, a depender de como pensamos politicamente? É impossível criticar sem assistir, ler ou ouvir”, acrescentou a jornalista.

Michel Temer e o cinema brasileiro

A diretora e roteirista Anna Muylaert criticou a escolha do Ministério da Cultua em seu perfil no Facebook.

“O que esperar do futuro? Que os amigos de Michel Temer sejam daqui pra frente os grandes autores do cinema brasileiro – independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao publico? A resposta é triste e é: provavelmente sim. Com esta escolha de hoje, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro. Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, porque haveria de ser diferente com o cinema?”, questionou.

“Do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro”, disse.

“Ora Kleber Mendonça fez um filme – goste-se ou não – importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes – a mais difícil do mundo. Além disso, está tendo sucesso de público e de critica no seu país de origem. Escolher outro filme para representar o Brasil agora – um filme que ninguém viu – não é apenas uma derrota para Aquarius – Filme, é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos.”

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