"Confesso que fiquei bastante feliz com o convite, mas sou obrigado a decliná-lo. É uma questão de princípios". Confira a honesta justificativa do jornalista que recusou convite para trabalhar em um jornal da Globo
O jornalista Leonardo Mendes, autor do blog Van Filosofia e colunista do DCM, divulgou uma carta aberta em resposta ao jornal Diário Catarinense — veículo de mídia impressa do grupo RBS, braço da Rede Globo na região sul do Brasil.
No texto, Mendes explica por que recusou o convite para assinar uma coluna no jornal. Leia a seguir.
por Leonardo Mendes
Fui convidado a escrever uma coluna no jornal Diário Catarinense, do grupo RBS, braço da Globo no sul do país. Abaixo a minha resposta, em forma de carta aberta:
Queridxs amigxs da RBS/Globo,
confesso que fiquei bastante feliz com o convite, mas sou obrigado a decliná-lo.
É uma questão de princípios: eu não trabalho para empresas que atentam contra a democracia e que atuam de modo tão sujo quanto a Globo, a serviço de ideais tão mesquinhos.
Confesso também que perguntei quanto vocês estariam dispostos a me pagar, apenas por curiosidade, e peço desculpas por isso.
É que eu assisti esses dias ao filme Nove Rainhas, em que um dos personagens diz que não faltam garotos de programa, o que falta é potencial de investimento.
Digamos que por 1 milhão de reais eu aceitaria o cargo, por dois meses. E depois passaria a vida me purificando da experiência de trabalhar para a Globo.
Sabia que o valor oferecido não seria esse, e que eu não aceitaria, por isso peço desculpas por ter feito vocês perderem tempo elaborando uma proposta.
Eu prefiro vender o meu corpo na esquina mais imunda, a vender meu trabalho como jornalista a uma empresa como a Globo.
Não julgo aqueles que o fazem, e inclusive tenho grandes amigxs nessa empresa, que considero pessoas maravilhosas.
Acredito que essxs amigxs acreditem que a Globo pode mudar, que elxs possam ajudar nessa mudança.
Já eu acredito que o jornalismo da Globo não tem salvação, e é uma questão de tempo perder a pouca credibilidade que lhe resta, junto à parcela mais ignorante da sociedade, ou seja, a classe média que vai às ruas com a camisa da CBF contra a corrupção.
Um avanço civilizatório fatalmente acabará com isso, e a família Marinho terá que aceitar que não lhe resta futuro no jornalismo, talvez apenas no entretenimento e dramaturgia (a série Justiça é ótima).
Por isso entrar para o time de jornalistas da Globo, para mim seria lutar contra esse avanço civilizatório.
Eu espero ainda poder comemorar o fim do Jornal Nacional, o fim do Diário Catarinense, a venda de toda a estrutura jornalística a disposição da família Marinho e de seus comparsas.
A Globo é hoje a minha Bastilha. Sua queda é a minha vitória.
Nossas diferenças são inconciliáveis.
Sinceramente,
Leo Mendes
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