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O ‘fascismo’, os ‘juizecos’ e a seletividade de Renan Calheiros

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Renan Calheiros descobriu que Polícia Federal é “fascista” e Brasília tem “juizecos” depois que a água bateu nele. Acossado pelo escândalo dos grampos, o presidente do Senado pediu ao amigo Michel Temer uma “reunião de emergência” com os chefes dos três Poderes

Renan Calheiros, presidente do Senado (reprodução)

Kiko Nogueira, DCM

Renan Calheiros apostou no cavalo errado.

Em agosto, às vésperas da derrubada de Dilma Rousseff no Senado, disse que o “processo deixará lições para todos para sempre”.

A democracia, segundo Renan, “se corrigirá e o povo nos corrigirá. A democracia é falha porque é humana, mas é sublime. Um dia a história nos julgará e a única certeza será de que não nos omitimos”.

Agora, acossado pelo escândalo dos grampos, ele pediu ao amigo Michel Temer uma “reunião de emergência” com os chefes dos três Poderes para discutir a ação da Polícia Federal.

Soltou os cachorros sobre o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, a quem acusou de “chefete de polícia”.

Vai ingressar no STF contra a busca e apreensão na Casa. “É lamentável que isso aconteça, um espetáculo inusitado, que nem a ditadura militar fez, com a participação do ministro, que não tem se portado como ministro do Estado”, afirmou.

Tenho ódio e nojo a métodos fascistas. Como presidente do Senado, cabe a mim repeli-los. Um juizeco de primeira instância não pode, a qualquer momento, atentar contra qualquer poder”.

Renan Calheiros ecoa declarações de Gilmar Mendes e de Aloysio Nunes, para quem “o juiz Moro, que se acha o superego da República, tem que dizer quais artigos do projeto da lei do Abuso do Poder, impedem a ação da Justiça.”

Enquanto a Operação Lava Jato se concentrou nos suspeitos de sempre, nenhum deles foi tão duro — muito pelo contrário. Renan achou que Michel daria um jeito e que escaparia com vida.

O Brasil vive uma bagunça que foi institucionalizada pelo impeachment, um caos legitimado por um presidente que se sente à vontade para mentir sobre cúpulas com líderes internacionais e que dá jantares com dinheiro público para aprovar emendas constitucionais.

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Sérgio Moro foi inflado nos últimos dois anos. O Judiciário hipertrofiado não é novidade. Se o gênio do fascismo, como diz Renan, foi libertado, quem vai colocá-lo de volta na garrafa?

Não serão Renan e seus colegas, mas a grade da programação da Globo. Até lá, segue o baile.

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