O silêncio de Aécio Neves diante da prisão de Eduardo Cunha
A prisão de Eduardo Cunha não parece ser um tema palatável para Aécio Neves. O senador tucano, que se aliou ao ex-presidente da Câmara para tirar Dilma Rousseff do poder, só falou sobre taxa de juros e PEC 241 desde que Cunha foi detido pela Lava Jato
O senador Aécio Neves ainda não se pronunciou sobre a prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No dia em que o ex-presidente da Câmara foi detido pela Polícia Federal, a única declaração pública do líder tucano foi sobre a redução na taxa básica de juros pelo Copom.
“A primeira redução da taxa de juros em quatro anos, definida há pouco pelo Copom, é um indicador de que a economia do país começa a caminhar de volta para a normalidade de onde os governos do PT a retiraram”, postou o tucano em sua página no Facebook, depois de um dia de silêncio sobre a prisão do peemedebista, com quem se aliou para tirar Dilma Rousseff do poder.
Aécio também falou sobre a votação da PEC 241 em uma coletiva a jornalistas, cujo conteúdo foi distribuído por sua assessoria de imprensa. Sobre Cunha, até o fechamento deste texto, nem uma palavra.
‘Silêncio dos inocentes’
A opção pelo silêncio após a prisão de Eduardo Cunha não foi exclusividade de Aécio Neves. O jornalista José Roberto de Toledo, do Estadão, observou que o Congresso Nacional está ‘mudo’.
“A prisão de Cunha é por tempo indeterminado. O que o ex-deputado pensa hoje pode não ser o mesmo que venha a pensar amanhã, ou daqui a um mês, ou um ano. Marcelo Odebrecht é um que entrou na cela pensando de um jeito e está tentando sair dela justamente porque começou a pensar diferente, a admitir delatar”, diz Toledo.
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“É por ter consciência de que qualquer previsão sobre a disposição delatora de Cunha é um chute que a maioria dos deputados federais não usou suas contas no Twitter ou seus perfis no Facebook para fazer crítica, projeção ou um comentário sequer sobre o ex-colega. Melhor não aparecer, não cutucar a memória nem dar ideias ao mais poderoso presidente da Câmara desde Ulysses Guimarães. É o autêntico silêncio dos inocentes”, acrescenta.
Temer ordena “lei do silêncio”
O governo tenta evitar que a tensão provocada em Brasília afete o Palácio do Planalto depois da prisão de Eduardo Cunha. A blindagem ao Planalto foi determinada pelo próprio presidente Michel Temer, que deixou Tóquio na manhã de ontem, quando a ordem do juiz Sérgio Moro foi executada.
Apesar do pedido para que ninguém comentasse o episódio para evitar levar a crise para o governo, há uma preocupação com os problemas que Cunha possa criar para Temer e seus ministros, atrapalhando os planos de assegurar a aprovação da PEC 241, na semana que vem, e até a governabilidade.
Cunha é considerado uma pessoa “vingativa” e já disse que “não vai cair sozinho”. Com isso, auxiliares de Temer sabem que ele tem ligação com vários ministros peemedebistas e pode, em caso de fazer delação premiada, tentar arrastar para o buraco aliados do presidente e até o próprio Michel Temer.
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