A PEC 241 ou os fins justificam os meios?
Raphael de Matos Rodrigues*, Pragmatismo Político
“A mente um branco a ser escrito pelo coração cheio de tudo…”
Eis que mexendo em registros orgânicos e fluídos de minha falecida mãe, encontro essa frase. Penso que o repouso silencioso e austero que cerceia a peculiaridade de poucos – como minha mãe –, é um orgulho cândido de não se exteriorizar nos ambientes desumanizados e disformes da banalidade capital. No frigir dos ovos, todo o temperamento de anômalos ou prosaicos se contrai intrinsecamente em um átomo solitário de pensamentos vertiginosos, esperando pelo Big Bang, com a mente cheia de tudo e o coração em branco.
Quando o Big Bang se faz presente nas tortuosas derivações do real, seja por ganância desenfreada ou júbilo a um sanduíche de presunto, percebemos como o real hoje se transveste nas vias coercitivas da liberdade ilusória da política. No momento, nos vemos nessas tortuosas derivações do real no que diz respeito ao embate sobre a PEC 241, que congelará as despesas do Governo Federal com cifras corrigidas pela inflação por até 20 anos.
Simplificando o paradigma desse cenário que antagoniza, mais uma vez, o país em mocinhos e bandidos, temos o pressuposto de que ela pode dirimir o problema do desemprego e restituir os investimentos. Isso acontecerá, pois o orçamento não terá aumentos, acompanhando apenas a inflação e promovendo pouco crescimento nos gastos. No entanto, o custo dessa empreitada é o grande problema e o centro da discussão ideológica que se concentra no prejuízo à saúde e a educação.
É fato que a PEC 241 representará um prejuízo aos investimentos gerais do país. Todavia, no que concerne à saúde e a educação, lembremos que em governos anteriores aferimos a máxima: “vamos priorizar a saúde e a educação”; e isso também não foi cumprido – o que, claro, não justifica nenhuma argumentação, mas é importante lembrar para sabermos que não existem mocinhos nessa história.
Sabemos que é necessário resolver o temor da dívida pública, entretanto por que essa resolução parte de uma prerrogativa simplória, que recairá principalmente em bolsos frívolos? E os juros? Porque os juros não são levados em consideração? A economia parece só funcionar se o mercado estiver em homeostase com os ideais do governo. E isso é o que ocorre de fato. Estamos entregues a mãos improdutivas do mercado.
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No limite entendo que nenhum brasileiro queira o calote, bancos quebrados, perda de dinheiro, dentre outras consequências, e sabemos que não existirá um preceito divino ou uma quimera imaculada que nos dirá o que é certo ou errado. Destarte, às vezes, só precisamos tirar à força os olhos do computador e direcionar o nosso órgão sui generis à ação. Longe do sofá…
*Raphael de Matos Rodrigues é analista de sistemas, profissional de marketing e graduando Ciências Sociais na Universidade de São Paulo; pai, filho, espírito livre e colaborou para Pragmatismo Político