A mídia grande jogou pedra em dona Geni. Não sabiam se ela havia recebido ou doado R$ 75 milhões, mas espumaram de ódio e indignação seletiva. O objetivo principal era relacionar o programa Bolsa Família à “corrupção generalizada”. A farsa finalmente foi revelada
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) admitiu nesta terça-feira que estava errada a informação de que um beneficiário do Bolsa Família doou R$ 75 milhões para a campanha eleitoral este ano. O valor real dessa doação foi de R$ 75.
A candidata Maria Geni do Nascimento (PDT), de 56 anos, concorreu a uma vaga de vereadora em Santa Cruz da Baixa Verde, uma cidade de 12 mil habitantes no sertão de Pernambuco.
Ela concorreu com o nome de Geni e não se elegeu. Maria Geni é agricultora e beneficiária do Bolsa Família.
A candidata recebeu uma única doação, sabido hoje de R$ 75, do estudante universitário Pedro Henrique da Silva. Ela obteve apenas 13 votos e ficou 55ª lugar, entre 68 candidatos.
O alvoroço que o caso provocou em parte da mídia brasileira nesta semana foi de uma irresponsabilidade gritante.
Nas rádios CBN e Jovem Pan os comentaristas estavam indignados com o “caso de uma beneficiária do Bolsa Família que doou R$ 75 milhões” na eleição de 2016. Na verdade, dona Geni não havia doado, mas recebido uma doação.
Tomados por ódio e cegueira, os articulistas sequer checaram quem doava e quem recebia na história inverídica. O objetivo principal era relacionar o programa Bolsa Família à “corrupção generalizada”.
Na Folha de S.Paulo, o colunista Bernardo Mello Franco destrinchou o caso. Leia abaixo o que ele escreveu:
A notícia foi divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral: uma beneficiária do Bolsa Família doou R$ 75 milhões a uma campanha política. Com ar de escândalo, a corte listou o caso entre os “indícios de irregularidades mais relevantes” do primeiro turno.
Ao avisar a imprensa, o TSE informou que “compartilhou imediatamente o material com o Ministério Público Eleitoral”. A corte também acionou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário para a abertura de uma investigação.
Rapidamente, vazou-se o nome da suspeita: Maria Geni do Nascimento. Ela se candidatou a vereadora pelo PDT em Santa Cruz da Baixa Verde, no sertão de Pernambuco. É lavradora, tem 56 anos e não completou o ensino médio.
Segundo o banco de dados da Justiça Eleitoral, Geni teria recebido, e não doado, os R$ 75 milhões. Mesmo assim, seu caso parecia perfeito para confirmar duas teses em voga: o cadastro do Bolsa Família é uma bagunça e o veto às doações de empresas levaria o caos às eleições.
O presidente do TSE, Gilmar Mendes, declarou em setembro que doações de beneficiários de programas sociais indicavam fraudes e crimes eleitorais. “Ou essa pessoa não deveria estar recebendo o Bolsa Família ou ocorre o fenômeno que chamamos de ‘caça-CPF’, que é a ideia de se manipular o CPF de alguém que está inocente”, disse o ministro.
Nesta terça (18), descobriu-se que Geni não era fraudadora nem laranja. Ela apenas errou ao preencher o sistema eletrônico e informar sua única ajuda de campanha: R$ 75, doados por um estudante que recebe auxílio-alimentação da universidade pública. “Ela digitou zeros demais”, explicou Raquel Salazar, da corregedoria do TRE de Pernambuco, ao “Jornal do Commercio”.
A assessoria do TSE me disse que cabe à candidata, e não ao tribunal, providenciar uma correção. Até aqui, nenhuma autoridade se desculpou com Geni. Ela levou pedradas de todos os lados, mas não se elegeu. Teve apenas 13 votos.
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