Aluna que pagou R$ 180 mil pelo ENEM pedia 'fora Dilma, contra a corrupção'
Jovem que contratou quadrilha por R$ 180 mil para obter o gabarito da prova do ENEM militava "contra a corrupção de Dilma Rousseff" nas redes sociais
A estudante Sofia Azevedo Macedo, filha de um comerciante de Carbonita (Vale do Jequitinhonha), é suspeita de contratar uma quadrilha especializada em fraudes no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2016 e em outros concursos realizados no País.
Um integrante da quadrilha, identificado como Jonathan Galdino dos Santos, foi registrado pela Polícia Federal (PF) testando o sistema com a candidata carbonitense. Ela estaria fazendo a prova em Capelinha (MG).
Segundo a Polícia Federal, Sofia afixou uma espécie de cartão com chip na altura do peito. O equipamento recebia ligações telefônicas e, por meio de um transmissor, enviava o áudio para o ponto, que era do tamanho de uma bateria de relógio e só podia ser colocado ou retirado do ouvido com pinça. Um integrante da quadrilha detida pela PF lia o gabarito para a candidata.
O transmissor também possibilitava que o criminoso ouvisse Sofia, que foi orientada a tossir para confirmar a compreensão das informações repassadas. Ainda de acordo com a PF, a estudante teria pago entre R$ 150 mil e R$ 180 mil para a quadrilha.
“Pela primeira vez constatamos o retorno de áudio por parte do candidato. A maneira que ele usava para demonstrar ao interlocutor que compreendia ou não o gabarito era por intermédio de tosse. Se tossia uma vez ele havia compreendido, se tossia duas vezes, o interlocutor repetia o gabarito”, disse o delegado Marcelo Freitas.
Escutas autorizadas pela Justiça mostram que antes do exame era feito um teste para verificar se o candidato conseguia escutar a voz de quem iria repassar as respostas para ele. Durante o cumprimento dos mandados foram apreendidos vários equipamentos usados na fraude. Confira no diálogo abaixo:
– Jonathan: Sofia, tá me escutando? Dá duas tosses aí, por favor.
– Sofia: [tosse duas vezes, indicando que estava escutando o bandido]
– Jonathan: Correto. Eu vou falar cinco palavras: casa, carro, tatu, prédio e cachorro. Entendeu? Dá uma tossida.
– Sofia: [tosse uma vez, indicando que entendeu a mensagem repassada por Jonathan]
– Jonathan: Pronto. Ok.
“Contra a corrupção”
Nas redes sociais, Sofia militava contra Dilma Rousseff e contra a ‘corrupção’.
Quando a mandatária petista foi reeleita para a Presidência da República em 2014, a jovem escreveu: “ridículo; o gigante acordou, deu uma mijadinha e voltou a dormir por mais quatro anos. Lamentável.”
No ano passado, ela celebrou um panelaço anti-Dilma realizado em Belo Horizonte.
Confissão com padre
As investigações da Polícia Federal iniciaram há 15 dias, quando uma candidata inscrita no Enem desabafou com um padre e foi aconselhada a denunciar a organização criminosa.
Após a denúncia, os integrantes da quadrilha foram monitorados de perto por agentes federais. O líder da quadrilha, que cursou medicina em Ipatinga (MG), foi registrado em vídeo recebendo dinheiro de um comparsa.