Até mesmo veículos de mídia favoráveis a Donald Trump desacreditavam na vitória do republicano. Conheça os segredos da única grande pesquisa que acertou o resultado da eleição presidencial nos EUA; ironicamente, levantamento é de um jornal ligado aos democratas
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos desafiou até mesmo as previsões de setores da mídia que apoiaram o candidato do Partido Republicano.
A única exceção foi o jornal Los Angeles Times. Durante os últimos quatro meses, a publicação do Estado da Califórnia divulgou pesquisas, em parceria com a Universidade de South Califórnia, mostrando intenções de voto para o bilionário bem maiores do que outras medições ao redor do país. De acordo com o LA Times, Trump registrou, em média, seis pontos percentuais a mais do que o atribuído por outros institutos de pesquisa.
“Nossas pesquisas foram recebidas com desconfiança e mesmo ultraje por alguns de nossos leitores, especialmente os democratas, que frequentemente nos criticaram. Mas a maioria das pesquisas no país mostrava (a candidata do Partido Democrata) Hillary quatro ou cinco pontos na frente”, escreveu David Lauter, chefe do escritório do jornal em Washington.
Lauter lembrou que o LA Times já havia destoado da concorrência em 2012, quando projetou uma vitória bem mais folgada do presidente Barack Obama na disputa com o republicano Mitt Romney do que a maioria das pesquisas.
O segredo, segundo o jornal, é uma diferença de metodologia na hora de refinar os resultados das entrevistas em relação à diversidade da população americana. Ironicamente, embora tenha apoiado a candidatura de Hillary, o LA Times acredita ter ajudado Trump ao revelar tendências que a campanha do republicano parece ter explorado muito bem.
Um exemplo: as pesquisas indicaram em agosto que as chances de vitória do empresário dependiam muito da mobilização de eleitores brancos que não haviam ido às urnas na eleição presidencial de quatro anos atrás. De acordo com as estatísticas eleitorais, Trump conseguiu aumentar o comparecimento em Estados considerados chave para sua vitória.
As pesquisas do jornal teriam ainda antecipado problemas para Hillary e possíveis diferenças entre as projeções de voto para a democrata e seu desempenho real nas urnas: eleitores de Trump entrevistados para as medições da USC disseram que “não se sentiam confortáveis” declarando seu apoio ao republicano ou a candidatos independentes pelo telefone.
As pesquisas do LA Times foram todas feitas online.
Se a publicação da Califórnia tinha motivos para celebrar, o mesmo não se pode dizer do principal “guru” americano das projeções. O economista Nate Silver, que ficou famoso por ter acertado o resultado das eleições presidenciais de 2008 e 2012 Estado por Estado, publicara na segunda-feira em seu blog, o 538, que Hillary tinha mais de 70% de chances de ser eleita presidente.
Desta vez, porém, Silver parece ter menosprezado as chances do candidato republicano (o democrata Obama derrotou nos pleitos anteriores John McCain e Romney). Diversas vezes durante a campanha ele deu chances de menos de 20% de vitória para Trump. O economista não foi o único a errar, claro, mas saiu dessa campanha com a reputação chamuscada. Isso ao contrário do historiador Alan Lichtman, que no final de outubro tinha previsto uma vitória de Trump.
Desde 1984, ele tem acertado o vencedor, com base em um questionário simples e que leva em conta uma análise de fatores tão diversos como derrotas militares e carisma de candidatos. Mesmo quando Trump se viu envolvido em denúncias de assédio sexual, Lichtman não mudou sua projeção.
Por que as pesquisas erraram?
Das 20 maiores empresas de pesquisas, incluindo redes nacionais de televisão e jornais que realizaram mais de 80 sondagens desde meados de setembro, apenas uma – a do jornal Los Angeles Times em associação com a USC Tracking (instituto da Universidade South California) – indicou de forma consistente a vantagem de Trump.
Larry Sabato, professor da Universidade da Virginia, tem um famosos blog chamado a “Bola de Cristal de Sabato”, no qual previu a vitória de Clinton. “Bola de Cristal tem agora uma enorme rachadura”, disse Sabato à AFP. “É evidente que algo aconteceu”, afirmou ao comentar o fracasso generalizado em interpretar a realidade.
Um dos problemas, indicou Sabato à AFP, é que as sondagens basearam suas amostragens no eleitorado como estava composto na eleição passada. Desta forma, simplesmente não captaram o número de eleitores de Trump, muito tímidos ou habilidosos em evitar os pesquisadores. “A participação de pessoas brancas nas zonas rurais foi enorme”, disse, enquanto a de negros e ‘millenials’ caiu.
Segundo matéria publicada no Upshot nesta quarta, Trump ganhou por causa de uma “enorme onda de apoio entre os eleitores brancos da classe trabalhadora”, o que era uma possibilidade, mas muito improvável.
“A visão tradicional das recentes eleições americanas deu ainda mais razão para pensar que Clinton estava segura. Pesquisas sugeriram que o presidente Obama venceu a eleição presidencial de 2012 apesar de ter pouco apoio entre eleitores brancos (…). Essas pesquisas mostraram que os eleitores brancos sem diploma eram apenas um terço do eleitorado. Isso foi interpretado como que não havia muito espaço para perdas adicionais, especialmente uma vez que um democrata branco substituiu o senhor Obama na cédula [de votação]”, afirmou o Upshot. “A verdade é que os democratas eram muito mais dependentes dos eleitores brancos da classe trabalhadora do que muitos acreditavam”
Variações demográficas
Nate Silver, do FiveThirtyEight, afirmou que as pesquisas falharam por conta de “grandes variações demográficas e regionais”. Ele fez um levantamento com base nas projeções do seu site e do Upshot para mostrar em que estados as pesquisas mais erraram, destacando os estados de Wisconsin, Michigan e Pennsylvania, cujas previsões mostravam vitórias de Hillary, mas que penderam para Trump.
Silver também procurou os erros entre a classe branca trabalhadora e as minorias. “A óbvia semelhança é a classe trabalhadora branca. A alegação das pesquisas de que os ganhos de Trump veio das minorias é duvidosa”.
informações de BBC e AFP
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