Após bajulação, artistas pedem que programa "Roda Viva" mude de nome
Artistas e intelectuais pedem e Chico Buarque estuda tirar música 'Roda Viva' do programa da TV Cultura. Nome da atração também pode ser modificado. Reação ocorre após bajulação dos representantes da grande imprensa na entrevista com Michel Temer. Clima de subserviência e camaradagem rendeu repercussão negativa
O cantor e compositor Chico Buarque apoia o movimento lançado nesta semana pelo site “Jornalistas Livres” contra o uso da música ‘Roda Viva’, de sua autoria, no programa da TV Cultura.
A reação ocorreu após a entrevista de Michel Temer na atração. Na ocasião, os representantes da grande mídia convidados para questionar o presidente exerceram papel de subserviência e camaradagem.
Temer foi entrevistado no Palácio da Alvorada por Willian Corrêa (coordenador geral de jornalismo da Cultura), João Caminoto (diretor de jornalismo do Grupo Estado), Sérgio Dávila (editor executivo da “Folha de S.Paulo”), Eliane Cantanhêde (colunista de “O Estado de S. Paulo”) e Ricardo Noblat (colunista de “O Globo”).
Na internet, milhares de internautas ironizaram o tom da entrevista e uma série de memes viralizou.
A assessoria de imprensa de Chico Buarque garante que o músico está desconfortável com a música no programa.
“Chico tem simpatia pela campanha [para retirar a música], mas ele deu autorização para o uso da canção no programa e vale o que está escrito”, informou a assessoria de imprensa do cantor, que afirmou estar estudando se o documento que libera o uso da canção lançada em 1967 para o programa de entrevistas da Cultura tem prazo de validade.
“Que ele tem um certo desconforto de ver a música dele em um programa que, nas últimas edições e já há algum tempo, é bastante diferente e desvirtuado do programa original, ele sente”.
Artistas e intelectuais exigem o fim do estelionato com o nome “Roda Viva” e Chico Buarque já estuda retirar a música da abertura do programa. Reação ocorreu após a bajulação dos representantes da grande imprensa com Michel Temer no programa da TV Cultura
VÍDEO:
Confira abaixo o post dos Jornalistas Livres:
A TV Cultura, berço de iniciativas inovadoras da TV nacional, há 30 anos exibe o programa Roda Viva. Originalmente um espaço destinado ao bom jornalismo, palco de entrevistas históricas com personalidades das mais diversas áreas, o programa transformou-se em um triste aparato de propaganda do governo de SP e, agora, também do governo federal. A crítica perdeu espaço para a bajulação; a pluralidade foi substituída pelo pensamento único; o jornalismo, expulso do programa, agoniza perante o festival de gentilezas e afagos entre os governos e os profissionais da notícia.
Ao romper descaradamente com a democracia e o compromisso com a informação, assumindo o papel de agência de publicidade, o programa não merece mais carregar como nome de batismo o título, e como música de abertura a ilustre canção de um artista que jamais virou as costas para a democracia e os interesses do povo brasileiro: Chico Buarque.
Roda Viva é um marco da luta contra a ditadura militar. A canção, grito metafórico contra a censura vigente; a peça, alvo de ataques fascistas, ícone da resistência cultural ao regime de exceção. É uma afronta que sirva de batismo a uma sessão semanal de bárbara tortura à democracia, tendo como verdugo principal o editor da ex-revista Veja, há muito transformada em panfleto ideológico conservador e mitômano.
A entrevista com o presidente Michel Temer, exibida no último dia 14 de novembro, foi, para citar outra canção de Chico, a gota d’água. Em uma cena de realismo fantástico, o próprio presidente agradece o “espaço de propaganda” do seu governo, em vídeo gravado pelo âncora do programa e fartamente divulgado nas redes sociais. Tamanha promiscuidade não poderia
passar em branco; movidos pela indignação, nós, abaixo-assinados, resolvemos dar um basta.
A gente toma a iniciativa, viola na rua a cantar:
EXIGIMOS A IMEDIATA MUDANÇA DO NOME DO PROGRAMA, ASSIM COMO A RETIRADA DE “RODA VIVA” DA ABERTURA DO MESMO.
Não aceitamos que afrontem nossa História, esvaziando o significado de algo que nos é tão caro: a memória da resistência democrática no Brasil.
Esta campanha conta com o aval do próprio Chico, que já manifestou o desejo de procurar os meios legais para impedir que sua obra seja atrelada ao servilismo indecente do programa. Mas nós queremos mais: queremos transformar este manifesto em uma imensa campanha em defesa da democracia e de denúncia da relação promíscua entre setores da imprensa e segmentos políticos e empresariais.
Convidamos todos e todas a também assinar este texto, “pois quem tiver nada pra perder, vai formar comigo o imenso cordão”!