Brasil: unidade, resistência e extinção
Está se concretizando a extinção de direitos básicos adquiridos com o suor e a luta histórica das classes oprimidas brasileiras e muitos não estão se dando conta. A unicidade entre setores progressistas urge.
Luís Felipe Machado de Genaro*, Pragmatismo Político
Um dia depois das eleições municipais e o seu sofrido segundo turno, a Esquerda brasileira acordou derrotada, caída ao chão. A esperança de que ao menos duas capitais fossem governadas por nomes de peso do Partido Socialismo & Liberdade – Marcelo Freixo, no Rio, e Edmilson Rodrigues, em Belém – se esfacelou.
O astuto PSDB e o carcomido PMDB conquistaram o maior número de municípios. O PT, desde o golpe parlamentar orquestrado por Cunha, Temer, Jucá, setores do judiciário, da grande imprensa e do empresariado já descrente no projeto petista, ruiu de forma abrupta.
Hoje, as instituições ditas democráticas parecem não mais acatar projetos que desconstruam as eternas marcas da desigualdade brasileira, mesmo aqueles conciliatórios e aliancistas. Os fragmentados partidos de esquerda e centro-esquerda parecem não serem mais ouvidos. Burocratizados, os sindicatos perderam credibilidade. O povo não escuta mais os seus históricos representantes.
Descrentes com a política em um país onde a educação política nunca foi prioridade – e nós sabemos as razões – as classes subalternas escolheram o opressor, o empresário, o pastor, o conservador. Conjuntura de difícil interpretação, relegamos um entendimento maior para um futuro não muito distante, onde o lapso temporal nos dirá o que houve com o eleitorado brasileiro.
Se a solução parece não nascer dos palácios e urnas, é nas praças e avenidas que um novo horizonte terá que se desenhar – e será apenas pela unicidade de movimentos sociais históricos (mesmo enfraquecidos pelas concessões de doze anos de petismo), coletivos e observatórios urbanos.
Apesar de todas as dificuldades, desentendimentos e disputas no campo político-ideológico à esquerda, partidos e sindicatos terão de se unir juntamente com tais movimentos e intelectuais públicos, aliando as bandeiras históricas (luta pela terra, reforma urbana, tributária, etc.) com as atuais (desmilitarização das polícias, direitos da mulher e LGBTs, legalização das drogas, etc.).
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A esperança em momentos tão sombrios emerge com alunos e adolescentes. A ocupação nas escolas e universidades públicas contra a PEC 241 que bloqueia investimentos na Saúde e Educação – colocando princípios econômicos e o lucro de rentistas da dívida à frente do povo – e contra a antirreforma no Ensino Médio mostra a força dos novos atores sociais que brotam pelo país. Uma resistência admirável e necessária.
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Está se concretizando a extinção de direitos básicos adquiridos com o suor e a luta histórica das classes oprimidas brasileiras e muitos não estão se dando conta. A unicidade entre setores progressistas urge. Coordenadores e lideranças sociais precisam agir rapidamente, conversar entre si, organizar-se.
Apenas detendo a concretude de um projeto de país, uma agenda popular de mudanças estruturais, a luta nas ruas terá valia. Precisamos, por meio do confronto futuro, mobilizar forças inúmeras em meio à sociedade e criar espaços de diálogo e enfrentamento.
Uma luta contra a extinção de direitos. A extinção de nós mesmos.
*Luís Felipe Machado de Genaro é historiador, mestrando pela UFPR e colaborou para Pragmatismo Político