Redação Pragmatismo
Justiça 17/Nov/2016 às 16:26 COMENTÁRIOS
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Por que a Lava Jato abandonou o caso Celso Daniel?

Publicado em 17 Nov, 2016 às 16h26

Usado para atrair mídia, caso Celso Daniel virou "irrelevante" para a Lava Jato. Às vésperas do impeachment, procuradores prometiam ligar assassinato ao PT e imprensa festejou. Agora, a operação diz que o caso é dispensável porque não encontrou provas

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Caso Celso Daniel (Montagem: Pragmatismo Político)

Cíntia Alves, Jornal GGN

Há anos, a imprensa ventila a versão de que Ronan Maria Pinto, empresário do setor de transporte e dono do jornal Diário do Grande ABC, teria extorquido a cúpula do PT – incluindo Lula – com ameaças envolvendo a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Em abril, a operação Lava Jato decidiu surfar publicamente nessa onda e desenterrar o caso na operação Carbono 14, às vésperas da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara.

Aquele mês começou com os jornais noticiando que a Lava Jato conseguiu associar a morte de Celso Daniel aos esquemas de corrupção do chamado Petrolão. Os procuradores mostraram determinação em descobrir por que Ronan foi o destinatário final de quase R$ 6 milhões que teriam origem num empréstimo fraudulento que José Carlos Bumlai, o “amigo de Lula”, tomou junto ao Banco Schahin. O grupo, por sua vez, teria sido compensado com um contrato bilionário com a Petrobras.

Para prender Ronan, Sergio Moro escreveu que era “possível que este esquema criminoso [envolvendo o empréstimo] tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave“.

A notícia estampou capa de jornais e revistas. A Veja publicou que os procuradores da Lava Jato estavam próximos de descobrir que, afinal, matou Celso Daniel.

Diante de Moro, Marcos Valério, que decidiu colaborar com a Lava Jato, fez uma verdadeira cena. Disse que queria muito colaborar, mas sem dar todos os detalhes que tinha sobre a suposta motivação do PT em pagar pelo silêncio de Ronan Maria Pinto porque temia por sua própria vida.

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A força-tarefa, em maio, disse ter feito um “intercâmbio de informações com o Ministério Público Estadual de São Paulo, que investigou o assassinado de Celso Daniel, para auxiliar nas investigações sobre os motivos do pagamento que estão em aberto.”

Passados sete meses, o Ministério Público Federal apresentou as alegações finais do caso pedindo que Ronan, entre outros, seja condenado por ter sido o destinatário final de parte do empréstimo fraudulento. Marcos Valério foi agraciado com um pedido de absolvição, segundo o Estadão desta quinta (17).

Sem provas, nem convicções

Depois de produzir inúmeras manchetes prometendo esclarecer os mistérios por trás da morte de Celso Daniel, os procuradores, contudo, classificaram o episódio como “irrelevante” para a ação que será julgada em breve por Sergio Moro.

O que importa para eles é que Ronan teria recebido, comprovadamente, pouco mais de R$ 5,7 milhões – descontado o custo da operação. O valor não é tratado pelo MPF como empréstimo de fato porque Ronan não conseguiu provar que algum dia pagou de volta qualquer parcela pelo montante recebido.

Quanto à tese de que o pagamento se deu porque o empresário do ABC teria detalhes da morte de Celso Daniel, incômodos ao PT, os procuradores da Lava Jato não acharam provas.

O que consta nos autos são duas delações, uma de Marcos Valério e outra de Alberto Youssef, que não foram corroboradas por outros elementos.

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A posição do MP beneficiando Valério e solicitando a condenação dos demais acusados, inclusive deixando o caso Celso Daniel de lado, já era esperada.

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Já em maio, passada a votação do impeachment na Câmara, a força-tarefa já havia dado sinais, nos jornais, de que abandonaria o barco.

Poucas semanas após a prisão de Ronan, o Estadão publicou: “Nessa nova investigação, o MPF não conseguiu encontrar indícios que ligassem o empréstimo com a morte de Celso Daniel, ligando o caso da Lava Jato com a morte do prefeito. (…) O MPF deixou, assim, de denunciar extorsão. ‘É prematura se ter uma afirmação conclusiva de que essa extorsão existiu e os motivos dela.’ Quando foi deflagrada em 1.º de abril, o procurador afirmou que ‘até o final da investigação’ a Lava jato pretendia descobrir ‘a razão pela qual Ronan recebeu esses valores’.”

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