Um dos principais procuradores da força-tarefa da Lava Jato admitiu que o acordo de delação premiada da Odebrecht pode levar alguns meses ou sequer ser finalizado. Braço direito de Sergio Moro, Carlos Fernando afirma que interesses do governo de Michel Temer podem interferir
Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou que o acordo de delação premiada da Odebrecht pode levar ainda, pelo menos, alguns meses ou sequer ser finalizado. Um dos braços de Sérgio Moro nas investigações assumiu que interesses do governo de Michel Temer podem interferir.
“Não tenho confiança absoluta em fechar um acordo, porque estamos num ambiente de instabilidade institucional no Brasil. (…) Não sei se há interesse do governo federal em que essas colaborações se efetivem. Boa parte do que é falado nessas colaborações, e não estou falando só da Odebrecht, se refere a personagens políticos que foram ou são do governo“, admitiu o procurador.
“Não há um acordo firmado com a Odebrecht, não há nenhum acordo. Existem muitos detalhes para resolver“, disse o procurador à agência Reuters. Segundo a reportagem, o aguardado acordo de delação de Marcelo ou outros executivos da empreiteira com os investigadores, a nível da Justiça Federal do Paraná, pode não ser fechado “devido à resistência de políticos“.
A negativa ocorre após notícias darem conta de que os depoimentos de executivos, como o de Pedro Novis, ex-presidente da Odebrecht, recaírem sobre o tucano José Serra, ministro de Relações Exteriores, além de outras delações envolvendo o próprio governo de Michel Temer e sua grande base aliada.
“Todas essas negociações são muitos complexas, demoram muito para terminar porque envolvem muitos fatos, muitos pessoas“, negou Lima, nesta quinta-feira (27) em entrevista ao jornal em seu escritório em Curitiba, onde a Polícia Federal, procuradores e o juiz federal Sérgio Moro vêm conduzindo a Lava Jato.
Em mais de uma vez, o procurador da República negou que haja avanços no acordo com a Odebrecht, seja com os funcionários e ex-executivos, seja de leniência a nível do Ministério Público Federal com a empresa. A reportagem consultou os advogados da Odebrecht, que afirmaram que não poderiam falar sobre negociações em andamento com os investigadores.
Após inicialmente negar colaborar com a Operação Lava Jato, desde a sua prisão em 2015, Marcelo Odebrecht resolveu informar o que sabe, com o intuito de abrandar a sua pena de 19 anos em prisão em Curitiba.
Leia também:
A Lava Jato terá forças e vontade para enfrentar o PSDB?
Executivos da Odebrecht admitem caixa 2 milionário para José Serra
Sergio Moro diminuiu pena do doleiro Youssef de 121 para 3 anos de prisão
O ‘fascismo’, os ‘juizecos’ e a seletividade de Renan Calheiros
Procurador da Lava-Jato diz que PT é o único que não impede investigações
Livro revela erros da Lava Jato e objetivos não-declarados da operação
Operação Lava Jato: como tudo começou
Carlos Fernando dos Santos Lima, que vê possibilidades de conseguir boas informações na Lava Jato, admitiu que acordos desse tipo que interferem membros do governo Temer podem representar uma ameaça para o próprio andamento da investigação.
Citou como exemplo o projeto de Lei de Abuso de Autoridade, em tramitação no Congresso e defendida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Estão, na verdade, desincentivando que as pessoas investiguem, é muito simples“, disse Lima.
“Não tem realmente proteção em relação a sua investigação e não ser ameaçado pelo poder político, e isso vai impedir que novos casos apareçam. Por que eu vou arriscar e fazer isso se eu ganho o mesmo salário no final do mês se eu não fizer absolutamente nada?“, completou.
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook.