A aposentadoria vai mudar e não são apenas os jovens que serão atingidos. Com as novas regras propostas pelo governo Temer, chega ao fim o sonho de se aposentar com um valor que garanta a sobrevivência. O que fazer? Especialistas dão dicas de acordo com a sua idade
As novas regras para a aposentadoria propostas pelo governo Temer na PEC 287 foram recebidas com rejeição pela maior parte da população brasileira e por especialistas em previdência e economia.
A ‘reforma’ do governo vai acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição, que atualmente é de 35 anos para homens e 30 para mulheres. Segundo a regra atual, um trabalhador que começou a contribuir com 20 anos, por exemplo, pode se aposentar aos 55 (aplicando-se, no caso, o fator previdenciário). Pela proposta do governo, essa pessoa terá de trabalhar dez anos a mais – é preciso completar pelo menos 65 anos, com tempo mínimo de contribuição de 25 anos.
Todos os trabalhadores com até 50 anos e trabalhadoras com até 45 serão atingidos pela mudança, se a PEC 287 for aprovada. Os que ultrapassaram esta faixa serão submetidos a uma “regra de transição”, com um “pedágio” de 50%.
Quem teria de contribuir mais dois anos pela regra atual, por exemplo, vai precisar ficar na ativa por mais três.
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Há ainda outro agravante. Para obter os vencimentos integrais, o trabalhador terá que permanecer 49 anos na ativa. Em caso de aprovação da PEC 287, o benefício passa a ser calculado levando-se em conta a parcela de 51% das maiores contribuições com 1% adicionais a cada ano de contribuição.
Portanto, para receber 100% do salário, o trabalhador terá que contar, após os 65 anos, com 49 anos de contribuição. Isso significa ter começado a contribuir com a Previdência aos 16 anos.
A PEC 287 também liquida o benefício concedido aos professores. Devido ao caráter penoso de sua profissão, eles hoje podem se aposentar após 25 anos de contribuição (mulheres) ou 30 anos (homens). De acordo com a nova regra, só com 65 anos de idade somado a 49 anos de contribuição para receber o benefício total.
O que fazer?
Para o professor de Finanças do Insper, Ricardo Humberto Rocha, quem chegar aos 60 anos sem nenhuma reserva, terá de cortar radicalmente os gastos, reduzir o padrão de vida e procurar novas alternativas de renda, como trabalhar como professor, com consultoria, ou arranjar outros tipos de emprego.
“Depois dos 55 anos, fica muito difícil conseguir se recolocar no mercado de trabalho, a não ser que tenha uma qualificação que já permita isso”, diz. “Se não juntou nada, ela terá de se reinventar.”
A alternativa a trabalhar até o fim da vida é seguir a fórmula da economia: terá de economizar parte do que ganha para formar uma poupança, ainda que comece tarde. Se a pessoa gasta todo o dinheiro que recebe, terá de buscar dois caminhos: cortar despesas e/ou aumentar os ganhos.
O planejador financeiro Augusto Saboia, da Saboia Advisors, acredita que a classe-média que mantém custo de vida elevado corre o risco de passar fome na velhice.
“Quem está na classe média, que não é rico, terá de aprender a reduzir os custos para poder economizar dinheiro e não passar fome na velhice”, diz.
O educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Dsop Educação financeira, afirma que o ideal é que a pessoa faça a sua autoprevidência sem contar com o INSS. “Apague o INSS da cabeça, porque não dá nem para dizer se ele vai sobreviver 30 anos e de que maneira estará”.
Onde investir
Segundo Domingos, é possível cortar de 20% a 40% dos gastos mensais fixos. “A faxina financeira deve abranger todos os gastos, desde o consumo de energia, água, telefone, gás, supermercado, feira, vestuário. Vale a pena trocar consumo não consciente pela poupança para realizar o sonho da aposentadoria”, diz.
O professor Rocha fez algumas sugestões de investimento para quem quer planejar sua aposentadoria. Segundo ele, o ideal é separar até 20% do rendimento líquido para investir.
Mas aqui cabe uma observação: o professor errou ao não considerar (propositalmente, ou não) que o Brasil ainda é um país que abriga milhões de pobres que não dispõem de reserva líquida para aplicar mensalmente e, muitas vezes, não têm condições de cortar gastos pois já vivem no limite da sobrevivência.
Dos 20 aos 30 anos. 50% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos — De 5% a 10% em ações (dependendo do perfil de risco – moderado a arrojado) — De 5% a 10% em fundos imobiliários (indicado para quem tem interesse em aplicar em imóveis mas quer diminuir o risco do investimento na compra de um único imóvel) — Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento.
Dos 30 aos 40 anos. 50% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos — De 5% a 10% em ações (dependendo do perfil de risco – moderado a arrojado) — De 5% a 10% em fundos imobiliários (indicado para quem tem interesse em aplicar em imóveis mas quer diminuir o risco do investimento na compra de um único imóvel) — Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento.
Dos 40 aos 50 anos. 25% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos — 5% em ações (se já estiver acostumado a investir nessa modalidade) — 10% a 15% em fundo imobiliário — Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento.
Dos 50 em diante. 80% em ativos de grande liquidez na renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento — 10% a 20% em Tesouro IPCA+ com prazos abaixo de 10 anos — 10% a 20% em fundos imobiliários.
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