Programa da Globo exibe 'blackface' e é acusado de racismo
Blackface: Programa comandado por Ana Maria Braga é acusado de racismo. Personagem estereotipada ridiculariza a figura da mulher negra em diversos aspectos. Seguidores da atração protestaram nas redes sociais
Natália Sena, Geledés
Nesta segunda (12), começou a 21ª edição do ‘Jogo de Panelas’, quadro no programa Mais Você, comandado por Ana Maria Braga. O barbeiro Willian foi o primeiro anfitrião dentre os cinco participantes e fez como tema de seu jantar ‘sexo oposto’, no qual homens se fantasiavam de mulheres e mulheres se fantasiavam de homens.
Com um discurso sobre igualdade de gênero, o participante erra ao se caracterizar de ”nega maluca”, uma personagens extremamente estereotipada, ridicularizando a figura de mulher negra em diversos aspectos.
Nas redes socias, seguidores do programa comentaram o caso e criticaram a produção do programa:
Eu acordo e vejo uma nega maluca no #JogoDePanelas. PORRA ANA MARIA, 2016 E TU AINDA ME DEIXA ISSO?
— Leona Luna (@leonalunaa) 12 de dezembro de 2016
Sou negra, tenho Black, ñ tenho sobrancelhas branca, ñ sou maluca e ñ me visto como uma retardada então BlackFace é ridículo.#JogoDePanelas
— Carolina Oliveira (@carolaynii) 12 de dezembro de 2016
A pessoa não tem consciência, não lê sobre o assunto e não tem ninguém pra avisar que “Nega maluca” /Black face apenas: NÃO #jogodepanelas
— Andreia com i (@DeiaCardoso) 12 de dezembro de 2016
Você acha que a humanidade tá evoluindo, aí tem black face logo de manhã no #jogodepanelas pra provar o contrário.
— J A C Y J U L Y (@JacyJuly) 12 de dezembro de 2016
Porque BlackFace é racismo?
Blackface é o nome dado para a caracterização de pessoas não negra com personagens atribuídos aos negros. Aqui no Brasil, se naturalizou a figura da ‘nega maluca’ nos carnavais em todo o pais, como uma forma de forçar o esteriótipo da mulata sexualizada, de cabelo crespo,com os lábios de vermelhos e a ridicularização do ser negro através de uma caricatura exagerada. Essa ‘homenagem” racista em tom humorístico se naturaliza durante séculos e mesmo com todas as informações nacionais e internacionais sobre o tema, muitos se negam a acreditar que estariam ofendendo ou descriminando alguém.
Se engana quem acha que fazer blackface agride e ofende apenas os negros brasileiros, em diversos países existe uma constante luta para que as pessoas se conscientizem de como essa “brincadeira” não é alegre ou inofensiva, e tenham a dimensão de quão naturalizado é o Racismo nas sociedades. Em Amsterdã por exemplo, existem protestos sobre a tradição do ajudante do papai noel Zwarte Piet. De acordo com a tradição, Zwarte Piet, uma figura de pele negra, olhos brilhantes, cabelo crespo e boca vermelha, aparece em dezembro trazendo presentes. Ele sobe através das chaminés das casas enquanto as pessoas dormem, para trazer os seus presentes. Desde o início do século 21 discussões surgiram sobre a natureza racista deste personagem.
Nos Estados Unidos a prática ganhou popularidade durante o século 19 e contribuiu para a proliferação de estereótipos em relação aos afro-americanos. Em 1848, minstrel shows com blackfaces eram uma arte nacional americana da época traduzida em arte formal, como óperas em termos populares para uma audiência geral. No início do século 20, blackface ramificou-se dos minstrel shows e se tornou uma um gênero de teatro próprio, até que terminou com o Movimento de direitos Civis dos negros em 1960.
Willian pode não ter a consciência racista da prática que cometeu, mas toda a produção do programa deveria fazer uma reciclagem de conteúdos que iram para o ar, afinal, imagina-se que dentro da maior emissora do país se tenha pesquisadores da história, uma equipe que aponte os erros e acertos antes de um programa ir para o ar.
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