São muitas as frases que nem sempre ajudam, mas são normalmente usadas por quem interage com alguém que tem câncer. Professor de comunicação da Universidade Estadual de San Francisco revela o que não dizer a uma pessoa diagnosticada com a doença
Há coisas que não devem ser ditas, em especial para quem sofre de câncer. Nesse caso, ações e ofertas de ajuda muitas vezes valem mais que palavras de esperança.
“Quando terminar a quimioterapia, vai estar bem melhor”. “Eu tenho um conhecido que teve um câncer muito parecido, e viveu mais de 80 anos”. “Não se preocupe, tudo vai estar bem”.
São muitas as frases que nem sempre ajudam, mas são comuns entre as usadas por quem interage com alguém diagnosticado com câncer.
Contudo, ainda que as intenções sejam as melhores possíveis, muitas vezes o que é dito é exatamente o que o paciente não quer – ou não precisa – ouvir. Pelo menos é isso o que defende Stan Goldberg, professor de comunicação da Universidade Estadual de San Francisco, nos EUA.
Goldberg se define como “um sobrevivente do câncer” e um amante da flauta de bambu japonesa. Ele é autor do livro Loving, Supporting, and Caring for the Cancer Patient (“Amando, apoiando e cuidando de um paciente com câncer”) e enfrenta uma forma agressiva de câncer de próstata.
“O paciente não quer que você o anime. Não quer que lhe diga que tudo vai ficar melhor quando, na realidade, as pessoas não têm a menor ideia de qual é o alcance ou o diagnóstico do câncer”, observa Goldberg.
O professor salienta que também não ajuda falar do câncer de outras pessoas, porque “isso não te diz nada já que não sabem exatamente que tipo de câncer têm”, afirma. Cada caso é um caso.
Goldberg afirma que conselhos que começam com “se eu estivesse em seu lugar” também não costumam funcionar já que “uma pessoa não sabe pelo que a outra está passando”.
“As pessoas com câncer vivem em um mundo diferente de uma pessoa sadia. Percebem as coisas de forma diferente”, assegura o professor. Por esta razão, diz ele, é difícil saber o que sente e pensa um paciente. Em vez de julgar ou de tentar animar o outro, é preciso simplesmente aceitar.
Ajuda específica
Um erro comum, diz Goldberg, é focar em palavras ou na escolha de determinadas palavras e não oferecer ajuda para coisas práticas no dia a dia. Mas o professor diz que os pacientes são compreensivos e entendem que as pessoas querem demonstrar compaixão e apreço.
“É preciso pensar no que a pessoa enferma precisa e essa deve ser a chave da interação”, explica o especialista.
Ele diz ainda que, ao oferecer ajuda, é importante ser prático e específico.
Nem sempre pedir para que a pessoa lhe diga o que precisa é a melhor abordagem.
Goldberg sugere, por exemplo, oferecer para ir com a pessoa ou fazer as compras para ela, para que não fique ainda mais cansada.
“Isso é muito mais significativo que qualquer coisa que você possa falar”.
E quando lhe descrevem um procedimento médico, ficar calado e ouvir é uma boa alternativa. Responder que já leu algo na internet sobre o tema não acrescenta muito.
O importante, esclarece Goldberg, é deixar que o paciente conduza e dite os rumos da conversa.
Em causa própria
Embora muitas das recomendações de Goldberg estejam fundamentadas no senso comum, foi a própria história dele que o motivou a investigar a melhor forma de agir com pacientes de câncer.
“Tudo começou há uns 20 anos, quando uma amiga me chamou e me disse que tinha um câncer de mama (estágio 4). Não sabia o que dizer. Reagi como todo mundo, dizendo ‘sinto muito'”.
Goldberg conta que logo percebeu que era o mais sem graça que se podia dizer diante da situação. “Expressava minha solidariedade, mas não ajudava em nada”.
O diálogo com a amiga o fez pensar sobre o tema. Anos mais tarde, ele próprio foi diagnosticado com câncer. Ao dar a notícia aos amigos, reparou que recebia sempre a mesma resposta, idêntica ao que havia dito à amiga no passado.
A própria experiência como paciente e também como voluntário em hospitais permitiu que Goldberg aprendesse como se relacionar de uma maneira mais positiva com quem está doente.
“A chave é julgar menos, aceitar mais. Falar menos e escutar”, afirma. “Se faz isso, você terá menos problemas em saber o que é ofensivo e o que não é”.
BBC
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