Juristas

Sergio Moro se irrita com pergunta do advogado de Lula

Share

Sergio Moro voltou a entrar em embate com a defesa de Lula. Dessa vez, juiz da Lava Jato se irritou com uma pergunta feita por um dos advogados do ex-presidente sobre "delações a la carte" em audiência com o doleiro Alberto Youssef

Sérgio Moro, juiz federal da Operação Lava Jato (reprodução)

Cíntia Alves, Jornal GGN

O juiz Sergio Moro saiu em defesa da Operação Lava Jato durante a audiência do doleiro Alberto Youssef, que testemunho, na semana passada, no processo em que Lula é acusado de receber propinas da OAS na forma de um apartamento no Guarujá, entre outras vantagens ilícitas.

A partir dos 34 minutos do vídeo abaixo, o advogado José Roberto Batochio, defensor de Lula, tenta fazer uma “última pergunta” da defesa a Youssef.

Comenta-se no meio forense, pelo menos em algum setor dele, que existe uma delação que se denominou delação premiada a la carte”, disse Batochio.

Moro imediatamente decide interromper Batochio: “Doutor, decline quem comenta isso. Isso é calunioso, inclusive! Eu peço que decline quem é [que comenta isso]”, disse o juiz.

É um comentário geral. Eu ouvi no meio dos advogados. É objeto, se Vossa Excelência quiser, inclusive, em fonte abertas. Existem sites que noticiaram isso citando nomes”, respondeu Batochio.

Moro insistiu: “Já que a afirmação contém um tom calunioso, peço que o doutor decline.”

Calunioso a quem?”, rebateu Batochio.

Calunioso a parte do Ministério Público…”, disse Moro. Antes de conseguir concluir o raciocínio, um procurador da República que acompanha a audiência decidiu completar a resposta do juiz: “[calunioso] à Justiça, à administração da Justiça, porque fazer uma colaboração a la carte pressupõe que tem uma outra parte: o Ministério Público precisa da homologação da Justiça.”

O procurador disse ainda que considera “ofensiva a pergunta” de Batochio, além de “desnecessária”.

O advogado de Lula devolve questionando o procedimento do MPF na presente ação: “Acho que muito mais ofensivo é uma acusação que não tem razão de ser, manifestamente improcedente e ilegal.”

O site mencionado a Moro, segundo Batochio, é o Consultor Jurídico. O advogado referia-se possivelmente a este artigo, muito anterior à Operação Lava Jato, de 2006, quando estava em voga no Paraná o caso Banestado, também estrelado por Youssef.

No artigo, um grupo de advogados – a maioria, de maneira anônima – manifesta repúdio a uma prática recorrente naquele estado: “(…) ofertar ao acusado [de crimes financeiros, principalmente] uma lista de possíveis pessoas a serem denunciadas em troca de redução de pena.”

A “maquinação a la carte” teria sido reproduzida num grau mais elevado pela força-tarefa da Lava Jato, acredita a defesa de Lula.

Moro, depois de muita discussão, permitiu que a pergunta fosse feita a Alberto Youssef. O doleiro negou conhecer o que significa a expressão “delação a la carte”. Batochio esclareceu seu ponto: “Delação a lar carte seria a apresentação dos nomes e a sugestão para que se trouxessem fatos que incrimassem esses nomes previamentes apresentados.”

Youssef respondeu, por fim, que não tem conhecimento de que essa seja a prática na Lava Jato e afirmou que sua colaboração premiada não foi feita dessa maneira.

Delator de plantão

Batochio já havia levantado esse tema diante de Moro em outra audiência.

Ao interrogar o ex-senador Delcídio do Amaral, o advogado quis saber se Delcídio era um “delator de plantão” que também teria aderido à colaboração a la carte.

A ideia seria mostrar que quando o Ministério Público Federal não tem provas para dar materialidade a uma acusação, um delator é convocado para resolver essa “deficiência”.

Leia também:
Erro de Sergio Moro custa casamento, emprego e reputação de ex-diretor da OAS
Gilmar Mendes deixa Sergio Moro atônito no Senado Federal
Professor de Harvard aponta ilegalidades da Lava Jato contra
Eugenio Raúl Zaffaroni diz que arquivar processo contra Moro foi “escândalo jurídico”
Os três erros da Justiça na “Operação Lula” e o imaculado Delcídio
Livro revela erros da Lava Jato e objetivos não-declarados da operação
Observações de jornalista e escritor italiano constrangem Sergio Moro

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook