Racismo não

Jovem negra perde vaga de medicina para branco que fraudou cotas

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“Me sinto chicoteada, como se tivesse voltado para o tronco”. Estudante negra perde vaga em faculdade de medicina após dois alunos brancos fraudarem sistema de cotas. A jovem lançou um desafio aos falsários: “Passem um dia na pele de um negro”

(Imagem: Universidade Federal de Pelotas — UFPel)

Uma estudante negra de 24 anos perdeu sua vaga na faculdade de medicina depois que dois alunos brancos fraudaram o sistema de cotas da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), do Rio Grande do Sul.

Em entrevista ao site R7, a jovem disse que se sente chicoteada, como se tivesse voltado para o tronco. “Você volta pro tronco. Você se sente chicoteada de novo. Eu tive meus sonhos roubados. É incrível que precise de uma lei para negros entrarem na universidade. Eu me senti roubada”, desabafou.

Depois de uma série de denúncias feitas pelo Setorial de Negros e Negras da universidade, os alunos brancos responsáveis pela fraude foram expulsos da instituição.

A estudante afirma que “um negro sabe que ele é negro” e que gostaria que os brancos que fraudaram as cotas para poder entrar na universidade deveriam passar um dia na pele dela. Assim, saberiam como é o cotidiano de uma pessoa que sofre diretamente com o racismo todos os dias.

“Gostaria que eles saíssem na rua e ouvissem os mesmos xingamentos que eu ouvia [quando criança] na rua. Mais uma vez, eles querem ocupar um espaço que não é deles. Quando eles ocupam um lugar que não é deles, eles estão de novo negando o lugar das pessoas que deveriam estar ali. Estão novamente excluindo elas”, disse a jovem.

Ela afirma que, com a expulsão dos alunos que fraudaram o sistema, ela começa a ter uma esperança de que agora o processo será mais cuidadoso e que os negros realmente ocupem essas vagas destinadas para eles.

“O meu ano de 2014 terminou no dia 30 de dezembro de 2016, com a expulsão deles. Tudo o que você acreditava, você deixa de acreditar. Porque você continua sendo oprimido”, conta.

Depois das denúncias, a jovem afirma que muitos negros estão sendo reprimidos e que, por isso, prefere não se identificar. Mesmo assim, ela diz que sabe que está fazendo o certo ao denunciar os casos e que tem “a consciência tranquila”.

Após toda a investigação dentro da faculdade de medicina, ela é categórica sobre sua decisão em relação ao curso: “Desisti”.

“Como eu vou concorrer com esse tipo de pessoa? Nada é feito. Você não tem meios de competir com essa gente. Eles têm tudo a favor deles. Eles querem que os negros ocupem os lugares, mas não que dividam o lugar com eles. Eles não te querem em um curso conceituado, em uma loja comprando com eles. Eles não querem te ver”, finaliza.

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