“Nota de pesar” de Romero Jucá sobre morte de Zavascki é piada de mau gosto
Se há uma pessoa no País que não deveria sequer se manifestar sobre a morte de Teori Zavascki, esse alguém é Romero Jucá. Mas o senador optou pelo cinismo
Se existe uma pessoa no Brasil que não deveria sequer se manifestar acerca da morte do ministro do STF, Teori Zavascki, esse alguém é o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB). Mas o senador optou pela desfaçatez.
Nesta quinta-feira, o senador afirmou em sua página oficial no Facebook que “o falecimento de Zavascki é uma grande perda para o país e para a justiça brasileira. O ministro sempre desempenhou um trabalho com precisão técnica e discrição necessária. Todos nós lamentamos a perda e estamos solidários à família, amigos e admiradores”.
A ‘nota de pesar’ divulgada por Romero Jucá contradiz o que o próprio senador pensava sobre Zavascki. O político estava na mira do ministro do STF.
Em um famoso áudio divulgado quando Dilma Rousseff ainda era presidente da República (relembre aqui), Jucá e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, dialogam sobre as possibilidades de ‘estancar a sangria da Lava Jato’, em um grande acordo que envolveria os três poderes para colocar Michel Temer no poder.
Em determinado momento da conversa, Jucá e Machado falam sobre buscar “alguém que tem ligação” com Teori Zavascki.
“Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém”, disse Machado.
“Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça]”, afirmou Jucá.
A conversa entre Machado e Jucá ocorreu em março, pouco antes da votação em que a Câmara aceitou dar continuidade ao processo de impeachment.
Teori Zavasci era o relator da Lava Jato no STF, operação na qual Romero Jucá é investigado e citado em dezenas de delações. Nessa posição, o magistrado tinha o poder de homologar delações e ditar o ritmo dos processos sobre o esquema de corrupção que envolviam pessoas com foro privilegiado — ou seja, deputados, senadores e ministros.
Sergio Machado também é investigado. Em maio, o próprio Teori Zavascki homologou a delação de Machado, que tem menções ao presidente da República, Michel Temer, e a políticos de PMDB, PSDB, PP e PT.
Repercussão nas redes
A manifestação de Jucá sobre o falecimento de Zavascki foi recebida com revolta por internautas.
“Esse era o ‘pacto’? ‘Profecia’ de Romero Jucá se concretizando”, disse o internauta. “Ainda bem que fez uma notinha escrita e não gravou vídeo. Aí não ia dá pra esconder a cara de felicidade”, comentou outro.
“Agora conseguiu botar o Michel lá, fez um pacto com o Supremo e com todo mundo e estancou a Lava Jato, né? Presta atenção, House of Cards”, disse outro usuário, citando a série exibida no Netflix.
“O melhor travesseiro é a consciência limpa! Boa noite, senhor insônia”, disse outro, ironizando Romero Jucá. “Tô tentando entender se esse perfil é do senador ou da mãe Diná. Passou umas rasteiras em todos videntes. Sujo, escroto. Pacto? Profecia se concretizando”, comentou uma internauta.
Homem forte de Temer
Articulador do impeachment, Romero Jucá é um dos homens fortes de Michel Temer. Foi ministro do Planejamento no início da gestão, mas só durou uma semana e meia no cargo.
Jucá pediu demissão justamente após as denúncias de que negociava o fim da Lava Jato se intensificaram. Na época, Temer afirmou que o senador seguiria “auxiliando o governo”, mesmo depois de demitido.
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