De Beethoven para Dona Marisa Letícia: marcha fúnebre por ocasião da morte de uma heroína. Por um devoto de Santa Cecília
Jornal GGN
À diferença do Procurador da República Deltan Dallagnol, não opero no wi-fi de Deus. Ainda não. Mas faço a minha parte.
Na madrugada de sábado, recebi uma mensagem de Heitor Villa-Lobos, enviada diretamente do Paraíso. Ele se encontrara na noite de sexta-feira com Radamés Gnatalli, Ernesto Nazareth e Tom Jobim. Resolveram homenagear Dona Marisa Letícia, o ex-presidente Lula e seus familiares. Com música.
Assim foram tomar um cafezinho com Ludwig van Beethoven. Embora surdo, Beethoven acompanha com grande atenção a política internacional. Rabiscou no seu famoso caderno de conversação uma pergunta sobre Lula (“meu xará”, como fez questão de dizer). Depois, escreveu que hoje dedicaria a Sinfonia Nº 3 op. 55 (“Eroica”), que dizem ter sido inspirada por Napoleão Bonaparte quando este ainda era republicano, a Lula e ao povo brasileiro.
Radamés, que também foi um exímio pianista, falou da morte de Dona Marisa Letícia. Disse que se pudesse estar no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo do Campo na tarde de sábado, tocaria de Beethoven o terceiro movimento da Sonata Nº 12 op. 26 em lá bemol maior, a Marcia funebre sulla morte d’un Eroe. Beethoven rabiscou no caderno que ele mesmo faria questão de tocar esse movimento, não fosse a surdez. Confidenciou aos colegas brasileiros que anunciaria o movimento como Marcia funebre sulla morte d’una Eroina, Marcha fúnebre por ocasião da morte de Marisa Letícia, heroína do povo brasileiro.
Impossibilitados de participarem da cerimônia de adeus, os músicos pediram ao grande pianista Sviatoslav Richter que autorizasse a transmissão da sua monumental gravação da Marcha fúnebre, feita ao vivo durante um recital em Moscou em 15 de outubro de 1976. Consultado, Richter concordou na hora.
Cliquem no link abaixo, amigas e amigos navegantes, e ouçam Beethoven, que também não baixou a cabeça e que várias vezes, de forma insuperável e contagiante na 5ª Sinfonia op. 67, mas também nessa Marcha fúnebre, pôs em música o percurso ‘das trevas à luz’. De lambuja e para ilustrar esse percurso, oferecemos a sonata inteira. A Marcha fúnebre inicia no vídeo aos 9 minutos e 55 segundos.
P.S. Beethoven, informou Tom Jobim com um sorriso maroto bem captado por Villa-Lobos, ainda escreveu no seu caderno de conversação um recado ao ex-Presidente Lula: “De Luís para Luís: coragem, amigo! Moro passa, a Globo também. O povo volta. Os cães ladram, a caravana passa. Por cima!”
Beethoven, sonata op. 26 (com a Marcha fúnebre rededicada a D. Marisa Letícia, na interpretação de Sviatoslav Richter):
Brinde especial: Beethoven, Sinfonia Nº 5 op. 67, na eletrizante leitura da Royal Philharmonic Orchestra sob a regência de René Leibowitz, gravada no fim da década de 1950. A ‘passagem das trevas à luz’ (transição do 3º ao 4º movimento), começa aos 19 minutos e 55 segundos. Eco nada longínquo da Revolução Francesa, a quinta de Beethoven é música de combate por excelência. Contra o golpe de 2016, denominado “arrastão de trombadinhas” por Eugênio de Aragão, só o arrastão da resistência popular:
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