Em texto, Roberto Kalil Filho classificou como "afronta à dignidade humana" a atitude dos médicos Gabriela Munhoz, Richam Faissal Ellakkis e Pedro Paulo de Souza Filho. Advogados de Lula estudam processar responsáveis por vazar exames e tripudiar da saúde da ex-primeira-dama
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo (leia a íntegra abaixo), o cardiologista Roberto Kalil Filho relembrou o juramento de Hipócrates que cita o “respeito absoluto ao ser humano” e defendeu que os profissionais envolvidos nos vazamentos dos diagnósticos de dona Marisa Letícia fossem punidos.
Roberto Kalil, que é medico de Lula e também atendia Marisa, classificou como “afronta à dignidade humana” a atitude dos médicos Gabriela Munhoz, Richam Faissal Ellakkis e Pedro Paulo de Souza Filho.
Momentos após a internação de Marisa Letícia no Sírio Libanês, a médica reumatologista Gabriela Munhoz publicou em um grupo de WhatsApp que compartilhava com colegas de faculdade, a confirmação do diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico grave da ex-primeira dama. As reações foram extremas (relembre aqui)
Os advogados do ex-presidente Lula estudam processar Gabriela e também aqueles que tripudiaram da saúde da ex-primeira-dama. Lula ainda não foi consultado, mas a equipe acredita que cabe uma indenização por danos morais.
Os advogados vão se habilitar no processo do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) para acompanhar os depoimentos dos médicos ao órgão de classe.
A seguir, leia o texto de Roberto Kalil:
Infelizmente, são comuns no Brasil, e em especial na rede pública, queixas de médicos e de outros profissionais de saúde sobre jornadas extenuantes de trabalho, afastamento da família, salários incompatíveis com uma vida digna e muito aquém do esforço, da dedicação e da responsabilidade exigidos pela carreira.
Fora isso, também são vítimas de violência por parte de pacientes ou acompanhantes que responsabilizam os médicos por todas as consequências produzidas pela doença.
Tais situações, evidentemente, comprometem a saúde física e mental desses profissionais e geram o desalento que os afasta de seus pacientes, o que acaba por punir justamente os mais necessitados, aqueles que já vivem nos limites da dignidade humana.
No entanto, quando afrontam a ética, quebram o juramento de Hipócrates proclamado ao receberem o título de doutor e compartilham publicamente segredos e sentimentos a eles confiados, os médicos violam um dos princípios mais sagrados da profissão, o sigilo médico.
Essa situação ocorreu recentemente com a divulgação pelas redes sociais de exames e dados clínicos não autorizados, além de comentários desairosos sobre pacientes públicos. O caso revela um dos lados perversos do comportamento humano, reprovável e absolutamente inadmissível para quem se apresenta como médico.
Pior ainda é testemunhar esses profissionais serem movidos por sentimentos menores e ideologias político-partidárias, fazendo apologia da morte, como lamentavelmente observamos na última semana.
O texto da jornalista Cláudia Collucci publicado nesta Folha na quinta (2/2) acerta no ponto nevrálgico sobre o tema: atitudes como essa merecem punição. Impossível tolerar que pacientes corram o risco de virar motivo de escárnio entre médicos inescrupulosos.
As direções de hospitais e unidades de saúde precisam ser firmes e punir esse tipo de comportamento antiético de forma exemplar, eliminando das instituições elementos que profanam o princípio do sigilo e do respeito devido a qualquer ser humano.
Também têm obrigação de denunciar imediatamente aos conselhos profissionais esses desvios, para a aplicação de sanções pertinentes.
O juramento de Hipócrates é claro: o médico deve guardar absoluto respeito pelo ser humano e atuar sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
Os cidadãos, quando buscam um serviço de saúde, principalmente quando precisam ser internados, seja em enfermaria ou na terapia intensiva, normalmente chegam fragilizados, não somente pela doença mas também pelo temor em relação ao que os espera.
Hospital, receio da dor e do imponderável, medicações desconhecidas, dor imposta por exames invasivos, cirurgias, agulhas, tubos e sondas são possibilidades tenebrosas que ninguém em sã consciência aceita calidamente.
As incertezas são muitas na fase de hospitalização; por isso a atitude dos profissionais de saúde tem o papel de resgatar a vida e dar dignidade à existência.
É urgente que os gestores da área da saúde pública ou privada desenvolvam estratégias robustas para envolver os médicos não somente nas políticas internas de humanização das instituições mas também no respeito ético para com seus pacientes. A dignidade humana deve ser inviolável.
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