'Doença da urina preta' chegou a fazer vítimas fatais na Bahia e também foi diagnosticada no Ceará. Conheça os sintomas e o que a ciência já descobriu sobre a enfermidade
A “mialgia aguda a esclarecer”, conhecida como doença da urina preta, matou duas pessoas na Bahia. No entanto, novos casos no estado já não são diagnosticados desde 5 de janeiro.
No Ceará, por sua vez, 10 novos casos foram confirmados pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA/CE) nesta terça-feira, 14. Outros 4 casos suspeitos foram descartados. Dos 10 casos, oito residem em Fortaleza, um em Salvador e outro em São Paulo.
ORIGEM. Em dezembro de 2016, moradores de Salvador e de dois municípios da região metropolitana da capital começaram a buscar os serviços de saúde com fortes dores musculares e urina escura. Desde então, mais de 50 pessoas na Bahia tiveram os sintomas. Duas delas morreram.
SINTOMAS. Pacientes têm dores fortes no pescoço e nos músculos. Em alguns casos, apresentam urina escura e insuficiência renal. Esses sintomas sugerem um quadro de rabdomiólise, que é a morte das células musculares por inflamação. Quando essas células morrem, liberam no sangue uma proteína chamada mioglobina, de coloração escura. A mioglobina é filtrada pelos rins, por isso a urina fica escura. Além disso, como a mioglobina é tóxica aos rins, uma grande quantidade presente no sangue pode levar à insuficiência renal. A rabdomiólise pode ter causas físicas (esforços físicos extremos ou trauma por esmagamento), químicas (toxinas ou drogas) ou infecciosas (por vírus ou bactérias). Por causa desses sintomas, a doença tem sido tratada nos boletins epidemiológicos como “mialgia aguda a esclarecer” (mialgia significa dor muscular).
PACIENTES. Segundo o infectologista Tiago Lobo, que atendeu vários pacientes com o quadro, a maioria das pessoas afetadas são de classe média alta, o que sugere que a doença não tenha relação com falta de saneamento básico.
CAUSAS. Ainda não há uma conclusão definitiva. As duas principais hipóteses consideradas são:
1. Intoxicação por peixe
Dos 52 pacientes da Bahia, 44 afirmaram terem comido peixe e 8 disseram que não comeram. Os peixes consumidos foram das espécies olho de boi e badejo.
Existem casos registrados em vários lugares do mundo de pacientes com sintomas parecidos aos da Bahia e do Ceará provocados pela ingestão de peixe, classificados como doença de Haff. Em 2008, um surto de doença de Haff ligado ao consumo do peixe pacu-manteiga atingiu 27 pessoas no Amazonas.
Desde 1924, quando a doença foi descrita pela primeira vez, houve surtos registrados na Suécia, estados da antiga União Soviética, Estados Unidos e China.
2. Parechovirus
Pesquisadores também verificam se o parechovirus poderia ter provocado os sintomas. Amostras de fezes de alguns dos pacientes avaliadas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) indicaram a presença do vírus, mas uma investigação mais aprofundada ainda é aguardada. Casos de infecção pelo vírus já ocorreram anteriormente no Brasil, Estados Unidos e Austrália.
CONTÁGIO. Se for um vírus, há chance de a doença se espalhar. Se for uma intoxicação, os casos tendem a ser pontuais. Um caso registrado na cidade de Alagoinhas, na Bahia, traz indícios que apontam para a transmissão por vírus. Segundo o infectologista Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), uma mulher grávida desenvolveu os sintomas após entrar em contato com a irmã. Ela diz que não consumiu peixe. Uma criança de 5 anos, da mesma família, também foi infectada. “Estes casos mostram que a transmissão pode ser fecal/oral. Pode ser de uma família de vírus que se dissemina desta maneira”, afirmou o médico.
PREVENÇÃO. Enquanto as causas não forem identificadas, o infectologista Tiago Lobo recomenda que quem for visitar Salvador não consuma as duas espécies de peixe que estão sendo investigadas como possível causa da doença: olho de boi e badejo. “Não é motivo para pânico, mas é motivo para preocupação: se tiver algum dos sintomas, procure assistência médica.”
com informações de Bem Estar
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