Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 21/Fev/2017 às 12:50 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

O relato de uma jovem assediada e agredida no carnaval 2017

Publicado em 21 Fev, 2017 às 12h50

Atriz de 22 anos que vendia 'geladinho' em bloco de carnaval foi abusada e agredida. Carolina teve seu sutiã desamarrado, ficou com o seio de fora, foi estrangulada e atirada ao chão. "Foi uma situação muito humilhante. Chorei sem parar. O cara foi embora sorrindo e ninguém fez nada"

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A atriz Carolina Froes, 22 anos, divulgou em seu Facebook um relato chocante sobre um abuso seguido de agressão física que sofreu em um bloco de Carnaval em São Paulo, no último sábado (18), enquanto vendia ‘geladinho’.

Depois de quatro horas de trabalho, Carolina conta que um homem alto e muito forte a abordou e desamarrou a parte de cima de seu biquíni. Carolina reagiu, perguntou se ele estava louco e desferiu-lhe um soco.

O homem foi para cima da vítima e agarrou o seu pescoço. A jovem foi estrangulada e atirada ao chão. Ela caiu em cima do próprio braço, o que agravou o machucado.

Carolina conta que o pior de tudo foi a apatia das pessoas diante de tamanha covardia. “Levantei e cinco pessoas me seguraram, mas ninguém segurou o cara. Eu estava com o peito de fora, foi uma situação muito humilhante. Na hora que ele saiu de lá, sorrindo, eu comecei a chorar sem parar e saí andando. Só queria ir para a minha casa. O que me deixou pior foi ninguém ter feito nada”.

Com a intenção de não deixar o crime impune e denunciar a violência sofrida, a atriz postou em seu perfil no Facebook um desabafo, que até o fechamento desta nota já conta com quase 30 mil curtidas. Confira a íntegra:

ABUSADA E AGREDIDA NO BLOCO CASA COMIGO

Sábado, 18/02, fui abusada e agredida por um homem no bloco Casa Comigo, na Faria Lima. Depois de três horas trabalhando embaixo de sol, minhas amigas e eu estávamos indo embora junto com uma multidão, quando ele, vindo por trás, puxa e tira a minha parte de cima da roupa. Virei já reagindo, socando o homem que tinha o dobro do meu tamanho. Ele riu. Comecei a gritar, “Tá maluco?”, “Ele tirou minha roupa”. Um espaço se abriu. Continuei reagindo e tentando segurar o cara. “Chama a polícia, ele tirou minha roupa”, também lembro de gritar.

Nisso ele me agarra pelo pescoço e me enforca enquanto eu tento chutar. Me levanta pelo pescoço, e então me joga no chão. Caí. Sem blusa e sem ajuda. Foi quando machuquei meu braço. Levantei ainda mais nervosa, gritando mais alto e preparada pra machucá-lo mais. No único momento em que realmente nos olhamos nos olhos, lembro de ver que o pescoço dele estava todo arranhado. Depois me disseram que o braço dele também sangrou. Minhas unhas estão todas quebradas, então provavelmente é verdade.

Quando levantei, cinco pessoas me seguraram. Ninguém segurou o agressor. Enquanto eu gritava pra me largarem, enquanto eu gritava pedindo pra que o segurassem, vi ele indo embora rindo. RINDO. Tive uma crise de choro sem fim e fui embora. Andei por uns 30 minutos sem fôlego, sem força, sem chão. Heiko foi a única pessoa que me ajudou, que tentou segurar o cara, que andou atrás de mim e me acompanhou. (Obrigada!) O resto das pessoas ao nosso redor, homens e mulheres, não fizeram nada além de assistir, além de gritar, além de abrir espaço pra eu apanhar, além de tentar me impedir de reagir. Meu braço vai desinchar, os hematomas vão sumir. Os arranhões na pele do agressor também. Mas eu nunca vou esquecer.

Depois do que aconteceu, senti vontade de sumir. Pensei em ficar em casa, não correr mais esse risco e me isolar.

Mas a resposta é, deve ser, só pode ser exatamente o contrário. Eu amo o Carnaval. O que aconteceu comigo no sábado não é Carnaval. O que aconteceu comigo no sábado é abuso, é assédio, é agressão, é violência. É criminoso e doentio. O carnaval continua. Eu continuo no Carnaval. Eu continuo na rua e na vida. Essa é a minha resposta.
Se a presença de uma mulher precisa ser afrontada dessa forma, serei uma afronta ainda maior. Sou mulher. Estou viva. Reajo e existo. Esse texto é uma forma de dizer: você, mulher, não está sozinha. Por mais que possa se sentir. Estamos juntas.

Esse texto é um pedido: se virem alguém sendo assediada, abusada e/ou agredida, ajude. Se você for assediada, abusada e/ou agredida, REAJA E DENUNCIE.

Por um carnaval e uma vida sem assédio, agressão e violência. Existo e respondo. Falo e compartilho. Não me calarei. NÓS POR NÓS! Cada dia mais e mais fortes.

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