Redação Pragmatismo
Cultura 10/Fev/2017 às 16:22 COMENTÁRIOS
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7 reflexões do filósofo e linguista Tzvetan Todorov

Publicado em 10 Fev, 2017 às 16h22

Filósofo, linguista, historiador e crítico literário búlgaro ‘previu’ crise humanitária dos refugiados na Europa. Confira as ideias de Tzvetan Todorov a partir de 7 reflexões

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Tzvetan Todorov, filósofo e linguista búlgaro radicado em Paris (reprodução)

Juliana Domingos de Lima, Nexo

O filósofo, linguista, historiador e crítico literário búlgaro Tzvetan Todorov morreu aos 77 anos na terça-feira (7), na França, país onde residia desde os anos 1960.

Todorov foi um dos nomes mais importantes do Estruturalismo francês e um dos responsáveis por difundir o formalismo russo na Europa, escola de crítica literária’ existente na Rússia entre os anos 1910 e 30 que se dedicava ao estudo da linguagem poética até ser banida pelo regime de Stálin. Seu último livro, “Le Triomphe de l’Artiste” (O triunfo do artista) deve sair na França em março, segundo a “Folha de S. Paulo”.

Todorov em datas

A rádio francesa “France Culture” sintetizou a trajetória do pensador em cinco momentos fundamentais.

— 1939: Nasce em Sófia, capital da Bulgária;
— 1963: Foge da Bulgária sob o domínio soviético e se instala em Paris;
— 1970: Funda, como o crítico e teórico literário Gérard Genette, a revista “Poétique” e publica a obra “Introdução à literatura fantástica”, precursora nos estudos do gênero;
— 1977: Publica “Qu’est-ce que le structuralisme?” (O que é o Estruturalismo);
— 2012: Publica “Os Inimigos Íntimos da Democracia”, sobre “a corrosão da democracia no mundo contemporâneo” e a ameaça à cidadania pelo “cinismo dos políticos tradicionais” e a ascensão de movimentos populistas à direita e à esquerda.

7 reflexões de Todorov

O século 21 se apresenta como aquele em que muitos homens e mulheres deverão abandonar seu país de origem e adotar, provisória ou permanentemente, o status de estrangeiro. (…) Todos os países estabelecem diferenças entre seus cidadãos e aqueles que não o são, justamente os estrangeiros. [Eles] não gozam dos mesmos direitos, nem tem os mesmos deveres. (…) Isto nos atinge a todos, porque o estrangeiro não é só o outro, nós mesmos o fomos ou o seremos, ontem ou amanhã, ao acaso de um destino incerto: cada um de nós é um estrangeiro em potencial

Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes. Os bárbaros são os que consideram que os outros, porque não se parecem com eles, pertencem a uma humanidade inferior e merecem ser tratados com desprezo ou condescendência. Ser civilizado não significa haver cursado estudo superior ou ter lido muitos livros (…): todos sabemos que certos indivíduos com essas características foram capazes de cometer atos de absoluta barbárie. Ser civilizado significa ser capaz de reconhecer plenamente a humanidade dos outros, ainda que tenham rostos e hábitos diferentes dos nossos

Trechos do discurso do pensador ao receber o Prêmio Príncipe de Astúrias (hoje Princesa de Astúrias) por sua contribuição às ciências sociais, em 2008

A noção de choque de civilizações é passível de crítica do ponto de vista científico, porque as civilizações não correspondem aos blocos impermeáveis de que falam os autores. O choque não acontecem entre as civilizações, mas entre Estados e grupos de Estados. Os conflitos de hoje não são de natureza religiosa, mas de natureza política

Em entrevista à emissora “Euronews”, em 2008

Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas

Em entrevista ao programa “Tira ta Langue” da rádio francesa “France Culture”, em 2009

Não acho que o ataque a Bin Laden ajude muito no combate ao terrorismo, justamente porque ele não passava de um símbolo. Ele não dirigia um centro secreto de sua caverna nas montanhas, como num filmes de James Bond, que enviava assassinos a todas as partes do mundo. Os assassinos decidiam por si sobre suas ações. Eu diria que o primeiro grande passo para diminuir o terrorismo deveria ser rever as ocupações armadas nos países onde [as organizações terroristas] se encontram. Porque, já há algum tempo, esses exércitos destinados a combater o terrorismo na verdade o nutrem

Em entrevista ao canal francês “TV5 Monde” concedida em 2011

Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas

Em entrevista concedida durante o evento “Fronteiras do Pensamento”, em 2012

Enquanto existiam ditaduras de um e outro tipo, podia-se sonhar com o fim delas, não como se isso fosse o paraíso, mas como o momento em que se poderia começar a solucionar os problemas. Mas nós seres humanos necessitamos de algo mais que a falta de uma opressão direta. Precisamos encontrar um sentido na vida. E aos que vieram logo depois [do fim dos regimes autoritários do século 20], faltou esse sentido, um projeto político, uma perspectiva

Em entrevista ao jornal espanhol “El País” em junho de 2016

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