O caso Guttenberg desencadeou decisões fulminantes. O jurista renunciou ao cargo de ministro e perdeu o título de doutor. O caso Moraes vai dar em algo? Pouco provável. Na Alemanha, houve pressão da mídia. E a imprensa brasileira, o que vai fazer?
Flávio Aguiar, Blogue do Velho Mundo
As paralelas, a gente sabe, só se encontram no infinito. E assim deve ser visto o caso das paralelas entre o ex-ministro Karl zu Guttenberg, da Alemanha, e o atual ministro da Justiça, futuro do STF, Alexandre de Moraes.
Ambos foram acusados de plágio. O de Guttenberg, é verdade, era bem mais grave: páginas e páginas copiadas, sem citar a fonte. Até agora, no caso Moraes, a acusação se prende a linhas e linhas, mas também sem citar a fonte.
No caso Guttenberg, as decisões foram fulminantes. Renunciou ao cargo do ministro, perdeu o título de doutor, ficou mais por baixo que poça sob tapete de banheiro, para não citar outras expressões mais chulas.
O caso Moraes vai dar em algo? Duvido. No caso Guttenberg a mídia alemã caiu-lhe em cima. Vai a mídia conservadora brasileira fazer o mesmo? Ora, ora, só no dia em que nevar em Belém do Pará.
A mídia conservadora no Brasil está disposta a empurrar aquele que considerava um ministro inadequado para o cargo que considera de um ministro do STF conveniente. Para quê? Para estancar os efeitos de quaisquer apurações de corrupção contra os que considera inabaláveis colunas da “sua” república, mantendo as acusações – mesmo as mais infundadas – apenas contra os políticos de esquerda, em particular, Lula.
Há uma visível queda de braço, nos bastidores da República do Cunha, entre os que querem proteger a impunidade dos políticos conservadores citados na Operação Lava Jato e arredores, e a ambição da República de Curitiba, com Moro e Dallagnol à frente. Vai ser uma disputa emocionante.
A República de Curitiba cumpriu seu papel apenas parcialmente. Não conseguiu reunir provas convincentes contra Lula e família. Mas conseguiu acuar o presidente mais popular do Brasil, fazendo dele o novo Tiradentes da nossa história, empurrando-o para a aura do martírio. Para tanto, contou com a aliança firme das empresas de comunicação, capitaneadas pela Globo, que foi e continua sendo copiada pelas demais.
Porém, se a República de Curitiba for deixada à solta, é capaz de sua sede de poder ir longe demais, desestabilizado de vez o fragilíssimo governo Temer. A queda deste pode mergulhar o projeto golpista num caos imprevisível, com a eleição de um presidente por um Congresso completamente desacreditado atém mesmo perante a mídia que hoje defende este status quo.
Por isto a mídia conservadora precisa investir em estancar a até agora decantada em prosa e verso Operação Lava Jato. Motivos não faltam para tanto. A antiga República do Galeão, de 54, dez estrepolias: torturou à vontade. e criou uma antecipação curiosa destes tempos de pós-verdade, quando conseguiu que a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, imprimisse uma edição de jornal com um único exemplar. Esta, que deveria estar no Guinness, era só para que Gregório Fortunato, o infeliz guarda-costas de Getulio, lesse, com a manchete de que seu protetor, Benjamin Vargas, irmão do presidente, fugira para o Uruguai, o que era mentira. Hoje em dia os próceres da Lava-Jato municiaram a mídia com acusações e acusações sem provas, mas com convicção, que foram reproduzidas ad nauseam.
Resta ver quem vai ganhar nesta queda de braço. No meio dela, Alexandre de Moraes é um peão, apenas, mas que pode ter poderes de bispo para blindar seus aliados no governo o Temer. Zu Guttenberg caiu. Mas aqui era a Alemanha, o governo era de Merkel, e a Universidade era a de Bayreuth. No caso de Moraes, trata-se do Brasil, o governo Temer, e a universidade é a USP.
A ver.
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