Discurso de Temer já seria considerado ultrapassado em 1960
Até os aliados reconheceram que Temer pisou na bola no discurso que proferiu no Dia da Mulher. Afinal, foi uma gafe, uma anti-homenagem ou ele está perdido no tempo?
1. “A mulher é, seguramente, a única responsável pela gestão da casa e o futuro das filhas e dos filhos”
2. “A grande participação da mulher na economia é através da administração do lar”
3. “A mulher deve ser feliz por poder trabalhar, desde que não abandone os afazeres domésticos”
4. “Homens e mulheres são igualmente empregados”
As quatro frases acima poderiam ter sido pinceladas da boca de um coronel que viveu no início do século XX, mas foram proferidas em 2017 pelo atual presidente do Brasil, Michel Temer, em pleno 8 de março, dia em que as mulheres do mundo inteiro celebram uma data que marca a luta histórica por direitos e igualdade.
A repercussão foi péssima. Na mídia, nas redes sociais, na população em geral. O discurso de Temer foi indefensável até mesmo para os veículos da grande imprensa.
“Dificílimo saber onde Michel Temer estava com a cabeça quando decidiu homenagear as mulheres no Dia Internacional delas com um discurso em que enaltece o papel doméstico das homenageadas”, escreveu Josias de Souza, blogueiro do UOL, concluindo que a fala do presidente representou uma ‘hedionda anti-homenagem’.
Segundo Bernardo Mello Franco, colunista da Folha, aliados do presidente reconheceram, longe das câmeras, o constrangimento causado pelo discurso. “Fora dos microfones, aliados reconheceram a bola fora. Não foi a primeira neste campo”, escreveu Mello.
A secretária de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, foi a única representante feminina que saiu em defesa do chefe. Possivelmente pressionada para assegurar o cargo, ela disse que “o presidente Michel é muito mais do que palavras”.
Equívoco?
O professor Leonardo Sakamoto considera que a fala de Temer não foi um simples equívoco, mas uma clara representação do que o próprio presidente, e outros milhões de homens, pensam sobre as mulheres.
“Infelizmente, não é só o ocupante do Palácio do Planalto que pensa dessa forma. Ele apenas externou a opinião de milhões de outros homens que, agora, estão se sentindo empoderados pelas porcarias ditas por seu presidente. O desserviço prestado por ele vai custar mais tempo de negação da dignidade para muita gente”, observou Sakamoto.
A maioria dos leitores de Pragmatismo Político que comentaram o discurso de Temer divulgado neste portal também concorda com essa análise.
“Parem de achar que ele fez isso por descuido, por falta de um assessor ou por estar ultrapassado. Temer fez isso para marcar um território, para institucionalizar o machismo. Foi um ataque proposital às conquistas femininas e ao processo civilizatório. É como um líder da Árabia Saudita, do Irã ou do Afeganistão falando: machista, conservador, violento e contra os mais fundamentais princípios da modernidade”, ponderou um leitor.
Houve ainda quem brincasse: “É preciso que se faça datação de carbono 14 nesse homem. Ele é um fóssil”.