Covardia racista sem limites: A dor da professora Camila frente à barbárie escrita no banheiro
Conceição Lemes e Marcelo Nassif, Viomundo
Nessa segunda-feira (06/03), estava tudo organizado, para ser uma grande festa no IFSP (Instituto Federal São Paulo) — Campus Avaré.
A chapa “Nada a temer”, vencedora da eleição do grêmio estudantil da instituto, tomaria posse.
A professora de Artes, Camila Aparecida da Silva, 34 anos, aproveitaria a reunião com os 300 alunos do ensino médio integrado para tirar dúvidas sobre o estatuto do grêmio.
Até que algumas alunas chegaram, mostrando fotos que haviam feito da porta do banheiro das mulheres, com três frases rascistas: #ForaPretas; #PretaFedidas; #IFBranko
Logo pela manhã as frases não estavam lá.
O responsável foi um aluno ou um grupo?
Independentemente do número, uma covardia racista sem limites.
Os alvos desse crime hediondo foram os negros da comunidade escolar, entre os quais a professora Camila, que é muito querida pelos alunos tanto na sala de aula quanto nos eventos.
Além do anonimato típico de canalhas fascistas, o autor ou autores escolheram tudo a dedo.
Um momento democrático de uma escola inclusiva (ingresso é feito pelo Enem e pelas diversas cotas previstas em lei) e uma professora progressista.
Pior que não foi a primeira vez.
Concursada do IFSP-Campus Avaré, Camila reagiu à altura a mais esta agressão anônima, como vocês podem ver no vídeo acima, gravado e legendado pelos próprios alunos.
Paulista de Marília, Camila e mais quatro irmãos foram criados apenas pela mãe, dona Sílvia, separada do marido.
Na casa, todos são formados, sendo quatro professores e um advogado.
Graduada em Educação Artística pela Universidade de Londrina (PR), ela é mestre e doutoranda em Políticas Educacionais pelo Uninove.
Sobre Camila os alunos observam:”A fala dela é sempre apaixonada, na busca de transformar, construir um senso crítico”.
A direção do IFSP encaminhou o caso à Reitoria.
Tomara que esse crime não fique impune. Um boletim de ocorrência já foi feito para as medidas judiciais cabíveis.
Se descobertos, que sejam punidos pela Lei Afonso Arinos.
Pedimos à professora mineira Luana Tolentino, militante dos movimentos negro e feminista, que assistisse ao vídeo.
“Forte, doloroso”, reage.
“A Sueli Carneiro afirma que as manifestações racistas estão cada vez mais violentas, pois o negro saiu do lugar”, expõe.
“Ela tem razão. Para os racistas é inaceitável uma negra doutoranda”, arremata.
*Sueli Carneiro é doutora em Educação pela USP e diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra.
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