Juiz federal rejeita denúncia do Ministério Público pelo estupro e tortura da única sobrevivente da Casa da Morte. Decisão do magistrado foi inspirada em Olavo de Carvalho
Inspirado em Olavo de Carvalho, um juiz federal rejeitou denúncia contra o ex-militar Antonio Waneir Pinheiro Lima, o Camarão, acusado de tortura e estupro da presa política Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura clandestino da ditadura em Petrópolis, no Rio.
Na sentença, o juiz Alcir Luiz Lopes Coelho disse que o grupo que investiga crimes cometidos na ditadura militar é “um simulacro de tribunal de exceção”.
“Como escreveu Olavo de Carvalho, ninguém é contra os ‘direitos humanos’, desde que sejam direitos humanos de verdade, compartilhados por todos os membros da sociedade, e não meros pretextos para dar vantagens a minorias selecionadas que servem aos interesses globalistas”, afirmou o juiz Alcir Luiz.
Olavo de Carvalho é considerado o ‘guru’ da nova direita brasileira. Residente nos EUA, ele se autointitula filósofo e professor — embora não tenha formação alguma — e já trabalhou como astrólogo.
Celina Romeu, irmã de Inês Etienne, se disse indignada com a decisão da Justiça. “É o velho machismo de sempre. Eles mataram Inês diversas vezes: seu corpo, sua reputação. Agora é a palavra dela que não vale nada”, afirmou. “Quanto ao juiz, tenho pena por ele ser pessoa tão pequena. Ele não julgou uma ação. Tomou uma posição política.”
Para o procurador Sergio Suiama, a sentença é desprovida de sentido e lógica. “Que vantagem ele vê para minorias numa ação sobre estupro? O direito de não ser estuprada? Ele desconsidera e desqualifica a palavra da vítima. Parte da premissa de que o que ela fala não tem valor. E o mais grave é que, ao dizer que ela é uma terrorista, ele assume o discurso de que ‘merecia ser estuprada’”, disse.
Inês Etienne
Em 1969, Inês Etienne foi sequestrada pela ditadura e ficou 96 dias na Casa da Morte, onde foi torturada e estuprada. Militante de VPR, ela foi libertada quando os seus torturadores imaginaram que estava “convertida”.
Após sair da Casa da Morte, Inês ainda cumpriu 8 anos de prisão. Em seguida, dedicou a sua vida a denunciar as atrocidades da ditadura militar. A partir dos seus relatos, foi possível identificar a Casa da Morte em Petrópolis e militares que participaram das torturas, inclusive o coronel Paulo Malhães, o homem que recrutou Camarão, o torturador de Inês.
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Inês Etienne morreu em 2015 após sofrer um enfarte. Um ano antes, Paulo Malhães, comandante da Casa da Morte, foi morto em um assalto.
com informações de AE e ABR