Morte de menina de 14 anos durante briga em sala de aula ainda é um mistério. Laudo médico sugere que escola, professores e outras alunas tentaram abafar verdadeiras causas da morte. Informações intrigam delegado. Família está inconformada e pede Justiça
A morte de uma adolescente de 14 anos dentro de uma sala de aula em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, ainda está cercada de perguntas sem respostas.
De acordo com a polícia, Marta Avelhaneda Gonçalves morreu após se envolver em uma briga com outras três meninas na última quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
O ano letivo começou no dia 6 de março, dois dias antes do incidente, e Marta era novata na escola.
Após o caso, as três adolescentes foram levadas para a Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA). Em seguida, foram liberadas. A polícia também está apurando a conduta dos funcionários da escola.
Nesta sexta-feira (10), o laudo médico da morte de Marta foi divulgado: “estrangulamento”. O exame diz que a menina foi enforcada, morreu por asfixia e teve os músculos do pescoço quebrados.
“Legistas do DML constataram que para a asfixia foi usada muita força. Não descarto a participação de um outra pessoa, mais forte que as três adolescentes envolvidas”, disse Leonel Baldasso, delegado encarregado do caso.
VERSÕES
A diretora da escola, Fani Drehmer de Oliveira, afirmou que a adolescente não tinha nenhuma marca e não estava machucada. Ela que Marta foi encontrada já deitada no chão, desacordada e convulsionando durante a troca de períodos, na tarde de quarta-feira.
O delegado plantonista Eduardo Amaral, que atendeu o caso, registrou que “quatro adolescentes trocavam empurrões às 15h30min”, quando duas delas caíram no chão. Ao tentar separar a briga, os colegas perceberam que Marta Gonçalves estava passando mal. “O relato das meninas é que ela apresentava sintomas de parada cardiorrespiratória, como se estivesse tendo uma convulsão”, explicou.
As alunas envolvidas na briga apresentaram cenário diferente do que foi revelado pelo laudo. No Boletim de Ocorrência, uma das adolescentes diz que Marta puxou os cabelos de uma das colegas quando o tumulto começou. Ao tentarem apartar, as outras duas meninas perceberam que Marta começou a tremer e convulsionar. Outro relato aponta que Marta teria se ofendido ao ter entendido que colegas tinham a chamado de “feia”, o que teria dado início à briga.
A coordenadora do posto de saúde onde a adolescente foi atendida, Gelci Machado Rodrigues, relatou que a menina não apresentava marcas de agressão. “Não tinha lesão alguma, estava no chão, ela espumou um pouco pela boca, acredito que na hora do óbito”.
Gelci conta que foi chamada por uma professora que chegou à unidade de saúde pedindo ajuda, relatando que uma “menina tinha passado mal e desmaiado”. “Quando chegamos, ela estava sendo reanimada por um professor, com massagem cardíaca, enquanto uma professora fazia respiração boca a boca, e outra passava álcool nas extremidades”, lembra.
Pouco tempo depois, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local. “Quando o Samu chegou, se tentou por várias vezes fazer a massagem, deram choque, sem resultado algum”, diz a coordenadora, acrescentando que a jovem foi levada para o Hospital Padre Jeremias, aparentemente já sem vida.
A coordenadora do posto observa que na escola ninguém relatou briga entre adolescentes. “Em momento algum se falou em briga. Perguntei o que tinha acontecido, e um professor me disse que ela caiu da cadeira, em momento algum foi falado em briga. Fiquei sabendo da briga, depois, pelas redes sociais”, afirma.
Por fim, delegado Leonel Baldasso voltou a reforçar a hipótese de participação de terceiros na morte de Marta, chamando atenção para o fato de que o laudo médico desmente a versão das envolvidas e da escola.
“Como existiu um estrangulamento com força bruta e foi algo que ocasionou lesões nos nervos do pescoço, pode indicar a participação de alguém com mais força do sexo masculino”.
PROFESSORES DA ANTIGA ESCOLA
Professores da antiga escola disseram ao canal RBS que Marta “jamais puxaria uma briga”. Valesca Simões, professora de português na escola que Marta estudava no ano passado, garante que a menina não seria capaz de iniciar uma briga. Segundo ela, a adolescente tinha notas boas e era educada.
“Era uma aluna quieta, na dela, tudo que se pedia ela fazia. Não estou acreditando nisso”, disse.
A professora Mary Jane Côrrea, que também era vizinha de Marta e a conhecia desde criança, não lembra de nenhum problema que a menina já tenha se envolvido no ambiente escolar.
“É algo sem explicação. Era uma excelente aluna. E é difícil ver hoje em dia um aluno que não retruca o professor, que não é indisciplinado”.
FAMÍLIA
Inconformada, a irmã de Marta pede justiça. “Meu Deus do céu, tem que ter justiça isso. Pelo amor de Deus… Não sei se a responsabilidade é do colégio… Essas gurias, não interessa se são menores de idade, de algum jeito têm que ser penalizadas, eu não sei… Pelo amor de Deus…”, desabafa Géssica Gonçalves.
A irmã define a adolescente como uma menina tímida, que pouco saía de casa. “Era tímida, mais na dela, bem amiga… Não gostava nem de sair mais, o que ela fazia era ir para o colégio, e se a mãe mandava ir no mercado. Ela só ficava no celular e no quarto”, conta.
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