Andrea Dip, Agência Pública
Pouco a pouco, as lonas pretas vão se abrindo sobre as estruturas de bambu e ferro, formando as tendas que passam a abrigar colchões, cadeiras e um fogão. Pessoas que saem do trabalho reduzem a velocidade dos passos, curiosas para saber o que interrompe o trânsito na movimentada esquina da avenida Paulista com a rua Augusta – no coração de São Paulo – naquele fim de tarde de 15 de fevereiro. No pequeno carro de som, Chico Buarque e Racionais MC’s convivem com funks conhecidos em versão de luta – “A militância me deu onda”. A trilha anima cerca de 20 mil pessoas que saíram caminhando do largo da Batata ou da praça da República, debaixo do sol forte, e agora ocupam a calçada em frente ao escritório paulista da Presidência da República. A principal reivindicação é a retomada da faixa 1 do programa federal Minha Casa Minha Vida para famílias com renda de até R$ 1.800 por mês, mas eles também gritam “fora, Temer” e protestam contra as mudanças nas reformas trabalhista e da Previdência.
À frente do ato, está o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, que sobe e desce do carro de som, intercalando palavras de ordem no microfone com negociações com a PM. Quando está no chão, o líder conversa com militantes que conhece pelo nome, provenientes de caravanas vindas de ocupações de toda a cidade. Cumprimenta, bate um papo rápido, dá instruções. Quando está no alto, imposta a voz e se dirige à multidão na primeira pessoa do plural: “Para todos aqueles que desacreditaram da nossa luta, para o sr. Michel Temer, para todos aqueles que estão incomodados, o nosso recado é direto e reto: daqui não arredamos pé até ter nossa conquista nas mãos. Não tem arrego: ou negocia, ou não vai ter sossego”.
Boulos tem voz de comando, mas suja os sapatos visitando uma a uma as ocupações do movimento. Um estilo tradicional de líder de movimento social que quase não se vê mais, como observa a doutora em ciências sociais e pesquisadora Esther Solano: “Nós vivemos um momento de vácuo de lideranças de esquerda. Nesse contexto, acredito que o Guilherme Boulos é a maior liderança de movimentos sociais agora. Porque faz uma ponte entre os movimentos sociais e o institucional, em um momento em que não há mais essa conexão que era tão presente nos primeiros anos do governo Lula”.
Também de Frei Betto, experimentado na mobilização popular, o homem tem a admiração. E a bênção: “Guilherme Boulos é uma das mais jovens e promissoras lideranças de movimentos sociais brasileiros. Dotado de boa formação ética e intelectual, fez uma opção radical, evangélica, pelos mais pobres, concentrando sua atividade no segmento da população sem acesso ao direito de moradia. Modesto, despojado, inteligente, Boulos pôs a sua vida a serviço dos direitos humanos fundamentais definidos pelo papa Francisco, os três T: teto, terra e trabalho”, diz.
O fato é que Boulos tem conseguido chamar atenção para a causa que abraçou. A ocupação dos sem-teto na Paulista segue firme há mais de uma semana e aumenta a cada dia com a participação de outros movimentos sociais, shows de cantores famosos, aulas públicas. O caldo está em ponto de fervura e não só em São Paulo, mas por todo o país, em lugares onde a mídia por vezes não chega. Prestes a completar 20 anos, o MTST duplicou de tamanho nos últimos quatro anos e hoje conta com cerca de 35 mil famílias em todo o país e uma crescente lista de espera para participar das ocupações. Em 2016, a Câmara dos Deputados teve de reconhecer sua importância – contra muitos gostos – e o homenageou com a Medalha do Mérito Legislativo. Também ganhou uma coluna em um dos principais jornais do país, a Folha de S.Paulo.
Sem romance
“Tudo bem. Eu te dou a entrevista e topo que faça meu perfil, mas com a condição de que não entre muito na minha vida pessoal. Não vou falar ‘meus gostos’, essas coisas. E sem romancear demais. Vamos conversar e ver no que dá”, acedeu finalmente um desconfiado Guilherme Boulos, após alguns dias de conversas e negociações por telefone do que seria esse perfil, mais focado em sua trajetória de luta – que considera a parte interessante de sua vida.
Para o público, o homem, hoje com 34 anos, nasce aos 15, quando, vindo de uma família de classe média de São Paulo, filho de pais médicos professores da USP, se envolveu com o movimento estudantil da União da Juventude Comunista, conheceu o MST e depois o MTST, seu destino. Apaixonou-se pela legitimidade da bandeira. Diz: “A luta por moradia no Brasil foi certamente a principal luta urbana, para além do movimento sindical. Nós tivemos um processo de formação das cidades que nunca assegurou esse direito. E que isso continue a ser uma questão em 2017 não é qualquer coisa. O Brasil tem quase 90% da população urbana, está entre as dez economias do mundo, é um país com uma indústria importante. Que as pessoas tenham que se organizar pra lutar pra ter um teto, para ter o direito básico de morar, é uma tragédia. Isso faz da luta por moradia algo muito legítimo, dá uma potência muito significativa, como poucas outras. Esse conjunto de elementos me levou a ver uma importância e me aproximar do MTST”.
A chuva que cai forte sem trégua na lona da barraca de madeira na ocupação “Povo Sem Medo”, na divisa de São Paulo com Embu das Artes, nos obriga a falar mais alto. Foi ali que ele quis marcar nossa conversa. As roupas molhadas e cheias do barro da subida do morro onde 1.300 pessoas reivindicam um pedaço de chão são uma pequena amostra dos ossos desse ofício ao qual ele se dedica com razão e emoção desde 2002. E uma prova de resistência necessária para os que pretendem conhecer Boulos: é na peregrinação pelas ocupações que se revela o sentido de sua liderança.
“O Guilherme é o nosso norte, é uma referência pra periferia. Porque ele traz para as pessoas a perspectiva de alcançar seus direitos. Na sua fala informativa, na forma de liderar. E não é uma liderança que ele queira, as pessoas entregam pra ele. Ele pra nós é sem dúvida nosso ponto de referência maior”, me disse a militante Jussara Basso, na Nova Palestina, enquanto caminhamos pela ocupação que é uma das mais antigas de São Paulo, com mais de três anos, e provavelmente é a maior da América Latina, com 4 mil famílias. Maria, moradora da Nova Palestina, que vive com o marido e três filhos, acrescenta: “Ele é um cara que enfia o pé no barro pra andar junto com a gente. Não é porque é liderança que não chega aqui, não quer saber dos acampados. Eu aprendi muito com ele, com a forma dele lutar. Ele não precisava estar lutando, mas faz isso pelo próximo. Eu aprendi com ele e repito que, enquanto estiver sem teto na rua, eu vou estar lutando. Mesmo quando eu conseguir minha moradia. Meus filhos também”.
Boulos é alvo de adoração mas também de ódio. O rapaz que deixou a casa de classe média aos 20 anos para morar em uma ocupação do MTST (A Carlos Lamarca, em Osasco) incomoda muita gente. A militância nunca impediu seus estudos, ele é formado em filosofia e, embora poucos saibam, é psicanalista. Casado com uma militante, dedica seu conhecimento ao movimento social, desafiando a especulação imobiliária que empurra a população pobre para as bordas da cidade, agindo na contramão do que se espera dos mais aquinhoados e despertando mais ressentimento. O conhecimento transferido ao movimento social também é uma arma que assusta.
Guilherme Boulos foi portador de uma novidade no movimento de moradia: a análise de conjuntura como prática semanal. “Isso sem dúvida permite o crescimento e a formação política dos quadros do MTST. Essa prática é comum a todos os movimentos que tiveram origem no MST, como o MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], Levante Popular da Juventude, a Consulta Popular”, explica a urbanista, ativista e professora da Faculdade de Arquitetura da USP Ermínia Maricato. “Grande parte dos movimentos de moradia, na luta, que é natural, por resultados, deu prioridade à ação institucional quando não claramente clientelista. O MTST foge dessa limitação e por isso tem inovado bastante. Destaque-se ainda a coragem de Boulos e seus seguidores, que é notável”, diz.
Apesar do bombardeio de opiniões, Boulos se mantém sereno. Sua maior preocupação, diz, não é com a própria pele: “Se eu ouvir a Jovem Pan, vou sair convencido de que sou um calhorda e não presto! Os blogs da Veja, os editoriais do Estadão… Eu coleciono!”, brinca. “Há um processo de desmoralização que não é só contra mim, é sobre as lideranças de movimentos sociais. Eu não deixo de dormir por isso. Diria até que num certo sentido ser atacado por tipos como esses é um atestado de caminho correto. Mas uma coisa é as pessoas mexerem com você, te atacarem. Alguém que se dispõe a estar na linha de frente de um movimento social tem que se preparar psicologicamente pra esse tipo de ataque. Outra coisa é começarem a atacar sua família, sua casa. Aí entra num patamar mais complicado. É importante se preservar.”
O que não o impede de ser, além de xingado, preso. A última detenção foi no 17 de janeiro passado, quando participava das negociações durante uma reintegração de posse extremamente violenta de um terreno em São Mateus, na zona leste da capital paulista. A ocupação nem era do MTST, ele foi chamado para ajudar na negociação. A prisão foi política?, pergunto. Ele acena afirmativamente com a cabeça. “Não foi a minha primeira prisão, já fui preso algumas vezes, quase todas em desocupações. A penúltima foi na do Pinheirinho, respondo processo até hoje.” Responde a quantos processos? “Respondo a alguns”, desconversa. E segue adiante: “Você tem um sistema de criminalização dos movimentos sociais no país que é feito historicamente e que, no último período, tem se acentuado. Qual a melhor maneira de criminalizar? Você desmoralizar primeiro. Por exemplo, o que estão fazendo com o Lula, com a figura dele. Desumaniza, desmoraliza, depois se prenderem, se matarem, vai ter aplauso. O processo de desmoralização do movimento social está a todo vapor. ‘Movimento social é vagabundo’, ‘movimento social quer boquinha’, ‘movimento social quer favores e privilégios’. A criminalização nasce de uma desmoralização brutal que vem principalmente da mídia. Porque, quando você fala ‘esse cara não presta’, se ele for linchado em praça pública, você não está nem aí, ele merece. A criminalização pode ser judicial, pode ser física, prender, espancar, matar. E pode vir com processos judiciais. Aí não podemos deixar de mencionar a lei do terrorismo aprovada pela Dilma. A biografia dela vai estar manchada por isso. ‘Ah, excluiu movimento social, tirou as piores partes’, mas, meu amigo, no fim das contas, a caneta que vale é a do promotor, a do delegado. E qual é a mentalidade de delegado e promotor nesse país?”, questiona.
E conta uma história de arrepiar mesmo para quem conhece a violência policial constante nas ocupações. “Pouca gente sabe disso, mas a desocupação mais violenta que eu já presenciei ocorreu em 2004 ou 2003 em Osasco. As pessoas moravam lá há um ano e meio mais ou menos, e a polícia chegou sem aviso prévio, entrou, arrancou as pessoas dos barracos na porrada. Me lembro de uma cena que me marcou muito, que foi uma senhora bem forte, bem grande, que não queria sair da casa dela. E foram cinco policiais, pegaram ela, derrubaram no meio da lama. Estava uma chuva como a de hoje. Deram uma gravata nela. E um menino, o filho dela de 12 anos, gritando ‘mãe, mãe’. Pegaram o menino e algemaram. Assim começou essa desocupação. Ela terminou com a polícia juntando todos os pertences das pessoas, botando gasolina e queimando. Foi brutal. As pessoas saíram, não tinham pra onde ir, tentei fazer uma assembleia, pra tentar organizar as pessoas pra sair. Quando eu comecei a reunião, a polícia jogou uma bomba no meio da reunião. Eu fui preso nesse dia, outros dirigentes foram presos. As pessoas não tinham pra onde ir. Tentamos por as pessoas em um ônibus e ir pra uma outra área, mas a polícia foi pra essa outra área, pegou as pessoas, colocou em caminhões-baú, atravessou a divisa de Osasco, deixou as pessoas na lateral da Marginal Pinheiros. Largou lá. Hoje, depois de dez anos, as pessoas que continuaram conseguiram suas casas. Mas aquilo foi… Eu nunca tinha visto uma barbaridade daquelas”, conclui com a voz embargada.
Boulos não é alinhado ao PT nem poupa críticas a Dilma Rousseff, mas se destacou como uma das figuras mais proeminentes nos protestos contra o impeachment e depois nos atos “Fora Temer”, quando ficou conhecido para além da sua atuação no MTST. Para ele, o Brasil vive agora um “golpe continuado”. O militante, porém, não acredita que foram as manifestações do lado contrário, pedindo o impeachment, que derrubaram a presidente. “Sim, as manifestações contra a Dilma foram maiores [dos que as contrárias ao impeachment] por uma série de razões, até porque com o apoio da Globo fica tudo mais fácil. Mas eu não acredito que as manifestações foram decisivas. Foram um fator, mas você tinha um bloco de poder muito forte, que pegava a elite brasileira mais atrasada, os ranços da casa-grande, que soube trabalhar isso muito bem na classe média urbana, o grande poder econômico, o Judiciário, o escroque do Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Tudo isso levou à vitória do golpe. Foi a vitória de um programa de rapinagem nacional. O tripé do governo Temer, que é a emenda constitucional e o teto de gastos, que é uma “desconstituinte” que liquida com a capacidade de investimento social do Estado; a reforma da Previdência que querem aprovar – e quem mora nesse acampamento não vai se aposentar, já que a expectativa de vida na maioria da periferia de São Paulo não ultrapassa os 65 anos – e a reforma trabalhista, que é de uma ousadia inacreditável. Nós tivemos 21 anos de ditadura militar e nem os milicos ousaram mexer na CLT. Nós entramos na era do escárnio, não há mais a maior pretensão de esconder ou manter as aparências. Essa etapa já foi. Se deixar essa galera até 2018, vão revogar a Lei Áurea”, diz.
Sobre o papel da esquerda, que anda calada, acrescenta: “A esquerda organizada no Brasil está pagando o preço do que deixou de fazer nos últimos 20 anos. Se dependesse de qualquer dirigente de movimento social, esse governo tinha sido arrancado do Planalto pelo colarinho. O problema é o seguinte: a esquerda perdeu no último período base social, capilaridade social. Não basta você ter compreensão da gravidade do que está acontecendo, não basta ter ideias boas do que deve acontecer, ter um bom programa pra enfrentar o golpe, uma denúncia convincente. Você precisa ter força social, você precisa ter gente na rua. A história é movida por isso, não pelas boas ideias. E a esquerda deixou de fazer trabalho de base. Por que o PT conseguiu gerar um caldo social, expressar e representar um caldo social a ponto de construir um fenômeno político como construiu independente do que se deu depois? Porque estava ali, nas comunidades eclesiais de base, no sindicalismo, nas ocupações urbanas, nas ocupações rurais, uma militância pisando no barro, subindo os morros, dialogando com o povo, ouvindo o povo”.
Esquerda lacaniana
Quando fala em ouvir o povo, Boulos não se refere apenas ao convívio por meio da militância. Em 2002, na Argentina, enquanto acompanhava o pós-Argentinazo – grande levante popular causado por uma crise política, econômica, social e institucional que derrubou cinco presidentes –, ele se aproximou do movimento Piquetero e participou de grupos de reflexão com militantes que haviam sido marcados por uma tragédia que ficou conhecida como Massacre de Avellaneda, quando dois jovens foram assassinados pela polícia da província de Buenos Aires enquanto participavam de um protesto contra o fechamento de uma ponte ao sul da capital federal. O massacre, que deixou 33 feridos, foi televisionado e mostrou os policiais arrastando os corpos dos jovens pelo chão. “Agora imagina as feridas que ficaram, para além das feridas físicas, nas pessoas que participaram disso”, questiona.
“Nestes grupos de reflexão, que aconteciam em bairros da periferia da Argentina, psicanalistas trabalhavam os aspectos subjetivos e a elaboração desses efeitos”, conta. “Aquilo foi extraordinário. Ver o que esse encontro da psicanálise com a periferia é capaz de gerar. Ali tinha ao mesmo tempo formação de sujeito, um elemento de elaboração de sofrimento, empoderamento. Tudo isso me seduziu e me levou a ter um interesse maior pela psicanálise”, explica com empolgação. “Depois fui estudar, me formei em uma escola lacaniana e hoje dou aula em um curso de especialização que tem foco na psicanálise, mas não clinico, não tenho consultório. A psicanálise é muito elitizada hoje no Brasil, infelizmente.”
O conhecimento da psicanálise enriqueceu a militância. Seguindo uma tendência abraçada por novos filósofos e pensadores como Vladimir Safatle e o esloveno Slavoj Zizek, Boulos diz que começou a pensar o movimento social sob um novo viés, não só como massa em movimento, mas a partir do vínculo, do que aproxima as pessoas. “Eu concluí há pouco um mestrado com esse tema. Como em ocupações de terra as pessoas estabelecem vínculos que permitem que elas deem saltos subjetivos, é muito frequente você ouvir relatos de pessoas que estavam em sofrimento psíquico atroz e que, vindo para as ocupações, criaram um círculo de relações sociais, um espaço de reconhecimento, um resgate de autoestima de gente que estava pisada, humilhada por essa máquina de moer carne que é a vida urbana. Hoje as pessoas estão em multidão, mas sozinhas. E as histórias familiares são dramáticas para as pessoas pobres no país. São crivadas de sofrimento, às vezes de abusos, as das mulheres em especial. E claro que a ocupação não é o paraíso na terra, mas é um lugar em que se pode construir um espaço de convivência. Isso tem muito a ver com a psicanálise.”
Para o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP Christian Dunker, Boulos é “o que se pode chamar de representante brasileiro da esquerda lacaniana”. Ele explica que muitas tendências da esquerda encontraram em Lacan uma espécie de renovador da crítica da ideologia e um teórico potente das relações de poder. “Ao mesmo tempo a teorização do laço social entre psicanalistas feita por Lacan oferece subsídios que inspiram uma reflexão crítica sobre o funcionamento do poder em movimentos sociais.”
O entusiasmo com a psicanálise é a face menos conhecida do homem que insiste em se resguardar. Mais sobre a vida pessoal dele é difícil arrancar. Temos um trato, afinal. Entre raios, trovões e a chuva que não arreda naquela casinha de madeira, o militante/professor/psicanalista/filósofo prefere falar de futuro. Do nosso futuro: “Se o Temer ficar até 2018 e não houver reação popular, a gente vai ver a dilapidação do que restou. Ou vamos por um caminho que pode empurrar o país pra convulsão social. Não descarte a possibilidade de vermos algo que não acontece por aqui desde os anos de 1990, que são os saques, o povo saqueando. Porque grande parte da população assistiu o golpe pela TV por entender que aquilo era uma briga entre partidos políticos. E ela pode fazer diferença no jogo e se enxergar como protagonista com o avanço brutal do desemprego, o arrocho salarial, a iminência de colapso dos serviços públicos. No ano passado, 1,7 milhão de pessoas saíram dos convênios médicos e foram para o SUS, no momento em que o SUS está com contingenciamento de recursos. Isso é explosivo, vai dar colapso. Falência dos estados, polícia sem receber, ataque aos direitos trabalhistas, à aposentadoria. A chance de isso gerar um caldo de reação popular espontânea, para além dos movimentos sociais, está dada e é real. Eu não duvido de que ainda vamos presenciar uma explosão de gente nas ruas ainda esse ano.”
Se Boulos estiver certo, o governo que pise ligeiro. Como diz o bordão, tantas vezes repetido nas manifestações populares, “quem não pode com formiga não atiça o formigueiro”.
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