Cientista político e professor da USP, André Singer deu ao prefeito João Doria, na Folha, uma ótima chance de se apresentar como uma alternativa viável em 2018. Além de deixar passar a oportunidade, Doria se inspirou em Kim Kataguiri para rebater o acadêmico
André Singer é uma das grifes do jornal Folha de São Paulo, cientista político e professor da USP – seus leitores são o que se chama de “público qualificado”.
Singer deu ao prefeito João Doria a oportunidade perfeita de se apresentar como uma alternativa viável de candidatura à presidência da República. Singer fez um desafio a Doria, era o momento de Doria apresentar, se não um programa de governo, pelo menos, uma ideia central do que faria para tirar o Brasil da crise.
Mas ele deixou passar a oportunidade e, pior, baixou o Kim Kataguiri no prefeito.
André Singer em sua coluna na Folha de 01 de abril de 2017:
Candidatura de Doria é uma aventura desesperada
“A ascensão de João Dória é sinal do desespero que tomou conta dos partidos tradicionais. Ao atual prefeito de São Paulo falta o componente essencial para postular o cargo. Doria carece de um projeto nacional que esteja ancorado em bases sociais consistentes.
Fernando Henrique Cardoso alinhou a nação brasileira à globalização neoliberal, obtendo em troca a estabilidade monetária. Lula estabeleceu marco inédito nos investimentos voltados aos mais pobres, reforçando ao mesmo tempo a confiança na democracia.
FHC e Lula tinham legitimidade por resultarem de um lento enraizamento durante a luta contra a ditadura. Surgidos para a política representativa entre os anos 1970 e 1980, o professor renomado e o sindicalista carismático haviam contribuído para a construção de instituições desde a sociedade.
Perto deles, Doria soa apenas como um empresário “pop star” que flutua nas telas”
É verdade que PSDB e PT encontram-se numa tremenda encalacrada, assim como tudo o que foi construído desde a redemocratização. Tendo se envolvido, ao que parece, no sistema corrupto de financiamento político vigente a partir de 1945, os irmãos-adversários podem acabar ambos tragados pela Lava Jato. Mas se buscarem atalhos em lugar de uma renovação profunda, aí, sim, a porta será aberta para aventuras que nunca terminam bem.
Os exemplos de Jânio Quadros e Fernando Collor estão aí para nos lembrar.
Resposta de João Doria no Painel do Leitor da Folha em 02 de abril de 2017:
“Ao petista André Singer, quero dizer que não respeito suas posições e sua crítica, porque, depois de ter sido porta-voz do Lula, ele não tem credibilidade para fazer qualquer observação no plano político, muito menos a meu respeito. Vá passear em Curitiba, Singer”.
Resumo da ópera
Singer: “Doria carece de um projeto nacional que esteja ancorado em bases sociais consistentes”.
Doria: “Vá passear em Curitiba, Singer”.
Com tal poder de argumentação, Doria só emociona o pessoal do MBL.
O prefeito João Dória parece ter dificuldade em perceber que está se tornando rapidamente uma figura folclórica.