Além de pedir para que Joesley Batista continuasse com a mesada para manter Eduardo Cunha em silêncio, áudio revela que Michel Temer ofereceu informações privilegiadas ao dono da JBS
Um dos áudios que pode levar à renúncia ou cassação de Michel Temer foi divulgado na noite desta quinta-feira (18) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O arquivo de áudio tem duração de 38 minutos com conversas entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o presidente Michel Temer.
Em um dos trechos da conversa, Joesley Batista afirma que está “segurando” dois juízes responsáveis por um processo do qual é alvo.
Além do pedido de Temer para que mantenha o pagamento de propina a Eduardo Cunha, o áudio revela que o presidente sabia que o grupo J&F (controladora da JBS) havia infiltrado um procurador da República nas investigações contra o grupo que tramitam na Justiça Federal.
“Consegui um procurador dentro da força-tarefa que está me dando informação e que eu estou pra dar conta de trocar o procurador que está atrás de mim”, disse Joesley ao presidente.
“Eu consegui colar um no grupo e agora estou tentando trocar [o procurador titular] (…) então eu estou me defendendo”, repetiu Joesley ao presidente, que responde assentindo. “É”, disse Temer.
Joesley também detalha a Temer os detalhes sobre o quanto estaria pagando ao procurador infiltrado. “Tô fazendo [pagando] R$ 50 mil por mês, me dá informação, pelo menos me dá informação. [Inaudível]”
Joesley conta a Temer que evitou uma investigação contra a JBS na Lava Jato ao pagar propina ao procurador infiltrado.
Durante a conversa, Temer concorda com as críticas de Joesley contra o processo de delação adotado pelo MPF (Ministério Público Federal).
O dono da JBS afirma que a empresa já foi alvo de “quatro ou cinco” delatores. Ele afirma que o MPF recusou delatores que não falavam do grupo empresarial.
Joesley imita a postura de um procurador: “fala, se não [você vai ficar preso)”. Temer responde: “para se livrar, fala”.
Há mais críticas ao MP por parte do empresário: “Eu falo lá pro procurador: doutor procurador, o senhor quer me investigar, não tem problema. Mas não fica dando solavanco, não. E fazendo medidas destemperadas, e divulgando pra imprensa… Doutor, eu posso estar certinho, mas eu vou chegar lá morto. De tanto solavanco que o senhor vai me dar, se eu tiver 100% certo, eu morro. Para com isso”, declara Joesley.
O áudio revela também que Temer encoraja Joesley a pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a adotar políticas econômicas que favoreçam a sua empresa.
Michel Temer revelou ainda uma informação privilegiada a Joesley: forneceu ao empresário a porcentagem exata da queda da taxa de juros que viria a ocorrer dias depois.
Confira abaixo a transcrição de trechos do áudio:
Joesley Batista: Queria primeiro dizer: estamos junto aí. O que o senhor precisar de mim, viu, me fala. Queria te ouvir um pouco, presidente. Como tá nessa situação toda, Eduardo, não sei o que, Lava Jato.
Michel Temer: O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu que… Eu não tenho nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não tem ada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada [inaudível].
Joesley: Eu queria falar assim. Dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui para ali, zerou tudo. E ele foi firme em cima e já estava lá, veio, cobrou, tal, tal, tal. Pronto. Acelerei o passo e tirei da fila. [Inaudível] O outro menino, companheiro dele que tá aqui, né? [Inaudível] O Geddel sempre estava… [barulho] O Geddel é que andava sempre ali, mas o Geddel também, com esse negócio, eu perdi o contato porque ele virou investigado, agora eu não posso, também…eu não posso encontrar ele.
Temer: É, cuidado, vai com cuidado. (inaudível) obstrução da Justiça (inaudível)
Joesley: Agora… o negócio dos vazamentos. O telefone lá [inaudível] com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, e não sei o que. Eu estou lá me defendendo. Como é que eu… o que é que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok…
Temer: Tem que manter isso, viu… [Inaudível]
Joesley: Todo mês, também, eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado, assim, no processo [inaudível]…
Joesley: É investigado. Eu não tenho ainda denúncia. Então, aqui eu dei conta de um lado do juiz, então eu dei uma segurada, do outro lado do juiz substituto que é um cara que ficou…
Temer: Está segurando os dois…
Joesley: É, estou segurando os dois. Então eu consegui um procurador dentro da força tarefa que também tá me dando informação. E lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador. Se eu der conta tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal, e o lado ruim é que se vem um cara com raiva…
Entenda o caso
As delações premiadas de Joesley e Wesley Batista já foram homologadas pelo ministro do STF Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, o que dá validade jurídica ao acordo e permite novas investigações com base nos relatos.
Além de documentos, há gravações e vídeos feitos pelos delatores e também pela Polícia Federal no caso.
Diante da intensa repercussão do assunto, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento nesta quarta no qual declarou que não renunciará ao cargo.
Com base nas delações dos empresários, Fachin autorizou a abertura de um inquérito para investigar o presidente.
ÁUDIO
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