Senadores do PMDB vão dar ultimato a Renan Calheiros: ou ele encaminha votação a favor das reformas trabalhista e previdenciária, prioridades do governo Temer, ou será destituído da liderança
Leonel Rocha, Congresso em Foco
Um jantar da bancada do PMDB no Senado marcado para a próxima terça-feira (9), na casa da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), servirá como ultimato do partido para enquadrar o líder da bancada na Casa, Renan Calheiros (AL), que está em rota de colisão com o governo Michel Temer. Duas vezes presidente do Congresso e um dos nomes mais importantes do partido desde o início de sua trajetória no Parlamento, como deputado federal na década de 1990, Renan será intimado a cumprir normas e procedimentos para seguir continuar liderando os outros 21 colegas de bancada.
Entre as normas e procedimentos exigidos pela bancada peemedebista está o encaminhamento, em votações no plenário do Senado, a favor da aprovação da reforma trabalhista e da emenda que muda as regras para as aposentadorias. O projeto que muda a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), já aprovado pelos deputados e em discussão pelos senadores, e a emenda da reforma previdenciária são prioridades do governo do presidente Michel Temer. Renan é contra as duas proposições nos termos em que estão formuladas. E mais: se aliou às centrais sindicais e aos partidos de oposição para barrar a aprovação de ambos os textos.
De 31 de janeiro, quando assumiu a liderança, até hoje Renan já comparou Temer ao ex-treinador da seleção brasileira Dunga, mal-sucedido no comando do time; classificou a atual gestão de “errática”; divulgou documento, com o apoio de oito colegas, pedindo (em vão) que o presidente não sancionasse o projeto de terceirização de mão de obra; e disse que não participava nem queria participar do governo. Também disse que Temer é vingativo, como o ex-presidente conservador Arthur Bernardes, ao propor as reformas trabalhista e previdenciária. Com isso, rompeu, na prática, com o Palácio do Planalto.
Caminho sem volta para 2018
Se quiser romper formalmente com o governo e, obrigatoriamente, deixar a liderança, Renan conta com o apoio certo de outros três colega de partidos: Roberto Requião (PR), já contabilizado pelo Palácio do Planalto como senador de oposição; Kátia Abreu (TO), que está negociando sua transferência para o PDT; Hélio José (DF), o suplente recém-chegado ao PMDB e egresso do Partido da Mulher Brasileira; e o ex-ministro de Minas e Energia no governo Dilma Rousseff Eduardo Braga (AM), o amigo que, na quarta-feira (3), fracassou com Renan na articulação de um abaixo assinado para tentar evitar a destituição do líder pelos colegas. Braga esteve nesta quinta-feira (4) com Temer para tentar encontrar uma saída honrosa tanto para o governo quanto para o colega de Senado.
Acusado de crimes como corrupção e improbidade administrativa pela Procuradoria-Geral da República, Renan responde a 11 inquéritos no Supremo Tribunal Federal e é réu em uma ação penal na corte por peculato, além de ser citado por delatores da Operação Lava Jato. O líder do PMDB é pré-candidato à reeleição em 2018 e sonha reeleger o filho Renan Filho governador de Alagoas.
Em Alagoas, defender as reformas propostas pelo governo Temer tira votos, e Renan já captou essa tendência. O senador pode ter encontrado um discurso para a sua campanha à reeleição – mas, para tanto, terá que sacrificar o cargo de líder no Senado. E já avisou: entre defender os direitos dos trabalhadores – e o projeto eleitoral da família – e a liderança, fica com a primeira opção. Os governistas do PMDB dizem publicamente que esperam superar a crise, mas sabem que não há esperança de acordo, uma vez que seria humilhante para Renan engolir o que disse até agora.
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