O jornal The New York Times repercutiu uma carta pública e inédita de mais de 100 diplomatas brasileiros que se manifestaram contra o governo de Michel Temer e denunciaram “tentações autoritárias”
Mais de 100 diplomatas brasileiros se manifestaram na quinta-feira contra o governo do presidente Michel Temer, cuja baixa popularidade diminuiu em meio a alegações de corrupção que estimularam protestos crescentes para ele renunciar.
Em uma carta aberta intitulada “Diplomacia e Democracia”, os diplomatas criticam o uso da força para conter manifestações e dizem que os líderes do Brasil devem escolher o diálogo em oposição a “tentações autoritárias”. A carta pública foi parar no The New York Times.
A carta surgiu poucos dias depois que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, comandado por Aloysio Nunes (PSDB), criticou duramente uma declaração das Nações Unidas condenando a violência contra os manifestantes em Brasília no dia 24 de maio.
Nessa manifestação, milhares de pessoas protestaram contra as medidas de austeridade econômica propostas por Temer, incluindo mudanças na previdência e nas leis trabalhistas. Os manifestantes também pediram que ele saísse por causa da investigação de obstrução da Justiça.
A seguir, a carta dos diplomatas:
Nós, servidoras e servidores do Ministério das Relações Exteriores, decidimos nos manifestar publicamente em razão do acirramento da crise social, política e institucional que assola o Brasil. Preocupados com seus impactos sobre o futuro do país e reconhecendo a política como o meio adequado para o tratamento das grandes questões nacionais, fazemos um chamado pela reafirmação dos princípios democráticos e republicanos.
2. Ciosos de nossas responsabilidades e obrigações como integrantes de carreiras de Estado e como cidadãs e cidadãos, não podemos ignorar os prejuízos que a persistência da instabilidade política traz aos interesses nacionais de longo prazo. Nesse contexto, defendemos a retomada do diálogo e de consensos mínimos na sociedade brasileira, fundamentais para a superação do impasse.
3. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a consolidação do estado democrático de direito permitiu significativas conquistas, com reflexos inequívocos na inserção internacional do Brasil. Atualmente, contudo, esses avanços estão ameaçados. Diante do agravamento da crise, consideramos fundamental que as forças políticas do país, organizadas em partidos ou não, exercitem o diálogo, que deve considerar concepções dissonantes e refletir a diversidade de interesses da população brasileira.
4. Para que esse diálogo possa florescer, todos os setores da sociedade devem ter assegurado seu direito à expressão. Nesse sentido, rejeitamos qualquer restrição ao livre exercício do direito de manifestação pacífica e democrática. Repudiamos o uso da força para reprimir ou inibir manifestações. Cabe ao Estado garantir a segurança dos manifestantes, assim como a integridade do patrimônio público, levando em consideração a proporcionalidade no emprego de forças policiais e o respeito aos direitos e garantias constitucionais.
5. Conclamamos a sociedade brasileira, em especial suas lideranças, a renovar o compromisso com o diálogo construtivo e responsável, apelando a todos para que abram mão de tentações autoritárias, conveniências e apegos pessoais ou partidários em prol do restabelecimento do pacto democrático no país. Somente assim será possível a retomada de um novo ciclo de desenvolvimento, legitimado pelo voto popular e em consonância com os ideais de justiça socioambiental e de respeito aos direitos humanos.
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