Exorcistas brasileiros estão na mira do Vaticano após imagens de ritual violento
Uma série de imagens que apresentam rituais de exorcismo e reuniões para eliminar "demônios" incorporados em meninas menores de idade colocaram um grupo católico brasileiro na mira do Vaticano
O grupo ultraconsevador católico Arautos do Evangelho, liderado pelo monsenhor brasileiro João Clá Dias, está na mira do Vaticano após a revelação de uma série de vídeos em que aparecem realizando rituais de exorcismo.
Nas reuniões, os religiosos dialogam com “demônios” incorporados em fiéis e dão tapas nas pessoas que estão supostamente possuídas. As informações foram divulgadas no site “Vatican Insider”, do jornal italiano “La Stampa”.
Em dois dos vídeos que provocaram a polêmica, jovens do sexo feminino, aparentemente menores de idade, participam de um ritual comandado pelo monsenhor João Clá Dias.
Nas imagens, as jovens, vestidas com a túnica característica do grupo, são tratadas como se estivessem possuídas por demônios.
Ao final do ritual, é assumido por eles que foram curadas. É possível ver Dias lendo orações em latim e dando tapas diversas vezes na cabeça e no rosto das jovens atormentadas.
Em outros dois vídeos, o líder dos Arautos discute em uma reunião privada com outros membros supostas conversas que padres ligados ao grupo teriam tido com “demônios” incorporados em fiéis durante rituais que não são mostrados.
Em mais um vídeo, o demônio, ao se referir ao fundador original do grupo, diz: “Doutor Plínio, o autor das mudanças climáticas e do aumento do calor. É o Plínio quem faz tudo”.
O diabo também prevê que um meteorito atingirá o Oceano Atlântico e que a América do Norte vai “desaparecer”. E acrescenta: “O Vaticano? É meu, meu!”.
Continua afirmando: “O papa faz o que eu quiser, ele é um estúpido! Ele me obedece em tudo. Ele é minha glória, ele me serve”. E, por último, afirma que o “papa morrerá caindo” e que será substituído por Plínio.
Um porta-voz do Vaticano afirmou que um inquérito será instaurado para apurar o caso. Os Arautos do Evangelho, por sua vez, afirmam que as acusações são “obsoletas, todas respondidas e devidamente refutadas conforme os ditames da mais estrita doutrina católica”.
ARAUTOS DO EVANGELHO
A organização Arautos do Evangelho é um grupo subordinado ao Vaticano e surgido de uma dissidência da TFP* (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade) após a morte do fundador Plínio Correa de Oliveira, nos anos 90. De acordo com a CNBB, trata-se de uma Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício.
Segundo dados deles mesmos, os Arautos do Evangelho estão hoje presentes em 78 países e contam com cerca de 200 sacerdotes. No total, são 50.557 pessoas entre homens, mulheres e “terciários”.
O grupo nega qualquer prática que não seja autorizada pela hierarquia eclesiástica da Igreja Católica.
De acordo com o monsenhor José Correa, chanceler da Diocese de Bragança Paulista (interior de SP), região administrativa da Igreja Católica onde fica a principal casa dos Arautos, diversas denúncias acompanhadas dos vídeos chegaram ao conhecimento do bispo Dom Sérgio Aparecido Colombo, responsável pela diocese, em meados de abril, e foram remetidas para o Vaticano.
O bispo Colombo emitiu comunicado no início de maio afirmando que nenhuma pessoa na região da Diocese possui autorização da Igreja Católica para fazer rituais de exorcismo canônico, uma prática litúrgica rara, mas oficial da Igreja Católica, que depende de formação e autorização específicas.
Hoje o Brasil possui cerca de 30 padres autorizados a realizar rituais de exorcismo oficialmente, de acordo com as regras do Direito Canônico.
EXCOMUNGAR CORRUPTOS
No último domingo, a imprensa italiana informou que o Vaticano estuda uma medida para excomungar todos os mafiosos e corruptos, qualquer que seja seu país de origem.
Um grupo de 50 pessoas de vários países – altos prelados, magistrados, diplomatas e chefes de polícia – se reuniu no Vaticano para participar no “Debate Internacional sobre a Corrupção”.
O jornal “La Repubblica” afirma que se trata de “uma mudança histórica”, já que coloca no mesmo plano corruptos e mafiosos, recordando que a excomunhão é a pena mais severa da Igreja Católica contra seus membros.
O papa Francisco já excomungou em julho de 2014 a “Ndrangheta”, a poderosa máfia calabresa, durante uma visita a essa região no sul da Itália.
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*Fundada em 1960, a TFP era um grupo católico da sociedade civil ultraconservador de direita que promovia marchas e protestos contra a reforma agrária, entre outros temas, nas décadas de 1980 e 1990. Neste século, perdeu protagonismo e membros para os Arautos. Quando Plínio Corrêa (o fundador da TFP) morreu, em 1995, houve uma cisão entre dois grupos da organização, que disputam até hoje na Justiça quem tem direito ao nome e aos bens da TFP –o caso começou em 1997 e hoje está no STF (Supremo Tribunal Federal). Enquanto a TFP minguava em meio à disputa judicial, os Arautos cresciam.
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com informações de agências internacionais, UOL e O Globo