Frase de cantora em programa de TV reacende discussão sobre o "racismo reverso"
“Essa é para quem é preconceituoso e acha que branco não pode tocar samba”. Fala da cantora Mallu Magalhães em programa da TV Globo reacende discussão sobre o mito do racismo reverso
A cantora Mallu Magalhães esteve no programa “Encontro com Fátima Bernardes” para se apresentar e falar sobre as acusações de racismo que recebeu após a divulgação do vídeo da música “Você Não Presta”.
Antes de cantar a canção, a artista deu uma declaração que lhe rendeu ainda mais críticas nas redes sociais: “Essa vai para quem é preconceituoso e acha que branco não pode tocar samba”.
Muitos internautas consideraram que Mallu defendeu a existência de “racismo reverso”, teoria segundo a qual brancos sofreriam preconceito por parte de negros.
A fala de Mallu Magalhães se deu exatamente após uma longa discussão com a jornalista e ativista negra Maíra Azevedo, a Tia Má, sobre a repercussão negativa que o clipe de sua música teve por conta do reforço a estereótipos racistas.
Como o comentário de Mallu sobre brancos, preconceito e samba foi feito assim que o intervalo comercial foi chamado, Tia Má não conseguiu responder à cantora e o debate foi encerrado. No entanto, a jornalista escreveu um texto no Instagram comentando o ocorrido.
“Quem me acompanha sabe que eu discordo…é uma roupagem do RACISMO REVERSO. Ela demonstrou incômodo de ter a sua obra questionada e quis se colocar também no lugar de vítima. Mallu é uma Jovem, branca, rica e que tem uma série de vantagens na vida. Para pessoas como ela, ser questionada é uma afronta”, escreveu Tia Má.
Ainda segundo Maíra, a ideia não era transformar o programa em uma “batalha” e como o comercial havia sido chamado ela não retomou a discussão para não ser classificada como a “preta raivosa”.
“Não iria transformar o palco do programa em uma batalha. Sabia que a internet daria conta. Ali, eu seria a ‘preta raivosa que não compreende as dores de uma artista’. Esse papo de que branco não pode cantar samba… a gente até ri. Os principais ritmos brasileiros foram criados por pessoas negras, em espaços negros e quando se tornaram populares ganharam roupagens e intérpretes brancos”, afirmou.
Racismo reverso
Sobre racismo reverso, a pesquisadora negra na área de Filosofia Política Djamila Ribeiro já fez as seguintes considerações:
“Não existe racismo de negros contra brancos ou, como gostam de chamar, o tão famigerado racismo reverso. Primeiro, é necessário se ater aos conceitos.
Racismo é um sistema de opressão e, para haver racismo, deve haver relações de poder. Negros não possuem poder institucional para serem racistas. A população negra sofre um histórico de opressão e violência que a exclui.
Para haver racismo reverso, deveria ter existido navios branqueiros, escravização por mais de 300 anos da população branca, negação de direitos a essa população.
Brancos são mortos por serem brancos? São seguidos por seguranças em lojas? Qual é a cor da maioria dos atores, atrizes e apresentadores de TV? Dos diretores de novelas?
Qual é a cor da maioria dos universitários? Quem são os donos dos meios de produção? Há uma hegemonia branca criada pelo racismo que confere privilégios sociais a um grupo em detrimento de outro”.