Manuela D'ávila faz desabafo sobre o ódio que mulheres sentem do próprio corpo
Deputada Manuela D'ávila faz desabafo sobre sua relação com a balança e o espelho e comenta o ódio ao próprio corpo que acompanha muitas mulheres
Em sua página pessoal do Facebook, a deputada Manuela D’ávila publicou um desabafo sobre sofrer com transtorno de imagem e muitos usuários se identificaram com a história. Leia abaixo.
Por Manuela D’ávila
Eu tenho transtorno de imagem (ou distorção de imagem corporal).
Esses dias minha sobrinha de sete anos respondeu a uma brincadeira minha com a seguinte frase: “cada vez mais tenho certeza que tu tens aquela doença que a pessoa se acha gorda”, fazendo menção a anorexia.
Não, não tenho. Nunca tive.
Depois que Isadora me disse isso, decidi voltar pra terapia para enfrentar um problema escondido de mim mesma e visível para muitos. Decidi tratar dessa doença contagiosa antes que ela contamine minha filha.
Algumas pessoas sabem que eu fui obesa até os 17 anos. A obesidade fez de mim essa pessoa que “debocha de si mesma”, para que os outros não precisem debochar. A obesidade fez de mim a divertida, a líder de turma, a corajosa.
Eu precisava mostrar que meu corpo não importava. E ele, de fato, importava pouco. Eu era tão segura de mim que as pessoas não ligavam muito para o fato de eu pesar cem quilos.
Mas eu sabia o que era não ter onde comprar roupas tamanho 48 ou 50. Claro, existem as lojas pra gordo, mas eu queria as mesmas roupas de minhas colegas.
Eu sabia o que era ouvir que eu não era feminina pois afinal, mulheres femininas andam de Mini saia e Mini blusa (chamava assim em minha adolescência). Mulheres femininas não usam camiseta larga e calça preta.
Eu sabia e um dia decidi emagrecer. E emagreci, afinal sou uma das pessoas mais determinadas que eu conheço.
Emagreci 40 quilos. Entrei no terceiro ano do ensino médio gorda e formei magérrima. Não fiz nada de errado, apenas reeducação alimentar. Passei a comer bem, regrada e com horários.
Passaram muitos anos e eu engordei — um pouco — apenas duas vezes: quando parei de fumar (doze quilos) e na gestação de Laura (dezoito).
ao contrário do que as pessoas imaginam nunca fiz loucuras muito loucas para perder peso. Apenas todas as dietas – razoavelmente – saudáveis. O meu problema não reside aí. Até porque eu perco peso com razoável facilidade.
O meu problema é que eu sempre me acho gorda. Mesmo quando estou um palito eu me vejo mais gorda do que estou.
Eu tenho um peso magro magro, um peso magro ideal e um peso magro limite (quase o que me considero gorda). Agora estou no magro limite. Racionalmente eu decidi comer o que sinto vontade. Eu amamento Laura, não durmo a noite, faço mestrado, sou deputada, faço roteiros pelo estado inteiro. Acho razoável que eu não faça grandes sacrifícios alimentares. Mas Eu disse “racionalmente”.
Fora da razão eu odeio meu corpo 24 horas por dia. Basta minha cabeça não estar trabalhando que eu fico pensando em tudo o que eu poderia fazer se estivesse mais magra.
Ontem eu vi aquele filme EMBRACE – pelo amor de suas filhas, vejam!!! Chorei do início ao fim. É difícil para um homem entender ao que somos submetidas. E ainda mais difícil para uma mulher feminista como eu reconhecer o quão envolvidas podemos ser nessa trama de horror aos nossos corpos promovida pela indústria da moda, do entretenimento, da “saúde”…
Eu, que nunca quis agradar ninguém, que sempre dei minhas opiniões e mesmo que mudei de opinião quando quis, eu não consigo agradar a mim mesma. E como uma versão moderna do “anjo do lar”, de Virgínia Woolf. E como se todas nós tivéssemos dentro de nós uma “Anja do corpo”. Alguém que nos lembra o que comeria, quantas horas de exercício, que número de calça usaria uma verdadeira Anja do corpo.
Eu decidi enfrentar minha Anja do corpo. Decidi “embrace” (abraçar, aceitar) meu transtorno de imagem para que minha filha não sofra como eu sofro. Decidi falar sobre isso pois conheço mulheres lindas que odeiam seu corpos.
Conheço mulheres que trabalhavam com seus corpos e não podem ficar velhas pois a Anja do corpo não fica velha.
Eu não sei o caminho. Mas decidi caminhar. Por Laura. Por todas as meninas. Por mim.