Motorista diz que está abalado desde que soube da morte do pequeno Breno depois que sua ambulância foi embora do local. Robson contou detalhes do que aconteceu e desmentiu a informação de que a médica estava em fim de expediente. Haydee Marques da Silva foi demitida
“Eu gosto de socorrer. Gosto de salvar vidas. O que ela fez não existe. Ela omitiu socorro. Não importa a idade. Se tem um, dois, mil anos. É uma vida e a gente tem que socorrer. A empresa, eu e a técnica fizemos tudo que podíamos ter feito. Tentamos convencê-la. É de uma tristeza sem fim“.
O depoimento acima é de Robson Oliveira, de 50 anos, motorista da ambulância que levava a médica que omitiu socorro ao pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva, de 1 ano e 6 meses. A criança morreu cerca de uma hora e meia depois que a profissional se recusou a atendê-lo.
Robson trabalha como socorrista desde 2013. O motorista disse à Polícia Civil que está inconsolável desde que recebeu a notícia sobre a morte de Breno.
SAIBA MAIS SOBRE O CASO: VEJA AQUI O DEPOIMENTO DOS PAIS DO PEQUENO BRENO
Segundo Robson, a médica Haydee Marques, de 59 anos, havia acabado de iniciar o plantão. A equipe seguia para uma ocorrência na Penha, na Zona Norte do Rio. No entanto, quando passavam pelo Recreio dos Bandeirantes, receberam um “código vermelho”.
Breno sofria de uma doença neurológica rara, a síndrome de Ohtahara, que provoca consulsões severas. Na quarta-feira, ele apresentou um quadro infeccioso, e a família chamou uma ambulância da Cuidar Emergências Médicas, através do plano de saúde Unimed-Rio.
O veículo chegou ao prédio pouco depois de 9h, mas a médica decidiu não socorrer o paciente e foi embora. Segundo a diretoria da Cuidar, ela decidiu não prestar atendimento quando soube que o paciente era uma criança, alegando que não é pediatra, mas, sim, anestesista.
“Como trabalhamos com a UTI Móvel, trabalhamos com agilidade. Fui o mais rápido que pude. Quando chegamos lá, pedi para o porteiro anunciar a chegada da ambulância. Enquanto ele foi fazer o contato, a doutora pediu à tecnica de enfermagem as informações sobre o paciente. Quando ela falou o nome, a médica logo pediu a idade. Ela disse “tem um ano”. Depois disso, a médica começou a gritar, fez um escândalo e disse que era para irmos embora. Ela rasgou a guia de internação e ficou histérica”, contou Robson ao jornal Extra.
Robson disse ainda que ele e a colega tentaram acalmar a médica e convencê-la a fazer o atendimento. Mas foi em vão.
“Tentamos convencer, falar que a criança precisava. A técnica ainda falou “doutora, vai ser rápido. Fazemos o atendimento, levamos ele e vai ser bem rápido”. Mas ela não parava de gritar. Começou a discutir comigo e se recusou a atender. Eu acionei a base e avisei que a médica não queria atender o paciente. Eles perguntaram o que tinha acontecido e me pediram para aguardar o retorno”, contou.
De acordo com o motorista, após a resposta da empresa, a profissional pediu que fossem embora. Ele, então, fez o retorno para deixar o condomínio.
“Ela estava muito nervosa e gritava muito. Dentro da ambulância, o médico é a autoridade. Saímos segundo as ordens dela e íamos aguardar o retorno da base do lado de fora. Ela desceu da ambulância e foi embora. Eu e a técnica avisamos a empresa e aguardamos a ordem de retornar para a base. A empresa me ligou e me pediu para que voltássemos porque outra ambulância estava a caminho. Ela se omitiu. A empresa mandou a ambulância e ela se omitiu”, disse.
Robson somente soube da morte de Breno quando chegou à sede da empresa.
“Quando cheguei, todo mundo já sabia. Foi quando me contaram que o paciente que eu ia atender tinha vindo a óbito. Isso acabou comigo”, lamentou.
“Começando o plantão”
O presidente da “Cuidar Emergências Médicas”, Orlando Rubens Lisboa Corrêa, empresa responsável pelo serviço de atendimento que trabalha a médica que se recusou a atender Breno, revelou que ela não estava no final do plantão e sim começando o turno, contrariando o que a profissional disse para não atender a criança, segundo os pais da vítima.
“Ela começou às sete da manhã o plantão. Se não era o primeiro, era o segundo atendimento dela. Ela estava próximo do condomínio e chegou com rapidez”, afirmou, confirmando o depoimento do motorista Robson Oliveira.
Demissão
Nesta quinta-feira (8), a médica foi demitida pela Cuidar, empresa que presta serviço para o plano de saúde Unimed.
De acordo com a Policia Civil, agentes analisaram as imagens das câmeras de segurança e disseram que há indícios dos crimes de homicídio culposo e supressão de documento.
“A delegada que presidiu o inquérito no momento do registro informou que a médica, na situação em que teriam ocorrido os fatos, era agente garantidora da vida do bebê e por isso poderá responder por homicídio culposo com aumento de pena por inobservância de regra técnica de profissão”, disse a Polícia Civil em nota.
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar o caso.
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