Professor humilha estudante negra de jornalismo em sala de aula
Estudante negra de 20 anos do curso de jornalismo foi humilhada por professor diante de toda a turma. Jovem registrou BO na delegacia e fez reclamação formal com a coordenação da faculdade, mas instituição tenta minimizar o caso
Uma estudante de 20 anos do curso de jornalismo de uma faculdade do nordeste foi humilhada pelo professor na frente de toda a turma. A jovem denunciou o caso ao portal R7.
Fernanda (nome fictício) estava apresentando um texto na bancada da aula de Comunicação e Expressão Oral quando o professor disse na frente de toda a sala que o tipo de cabelo que ela usava era inadequado para ser âncora de telejornal.
Fernanda é negra e usa um cabelo étnico afro. O professor não tem formação em jornalismo, ele é graduado em fonoaudiologia.
“Quando eu estava passando o texto na bancada, ele disse que, por conta dos padrões, o meu cabelo chamaria mais atenção que a notícia, por ser black e descolorido, e que dessa forma eu me encaixaria melhor como moça do tempo ou repórter“, contou a estudante.
A estudante ficou extremamente constrangida com a fala do professor durante o exercício em aula. Na hora, ela não teve reação e nenhum dos seus colegas de sala, a maioria brancos, reclamou ou discordou do comentário racista do professor.
“Fiquei muito triste. Chorei muito depois“, disse a estudante. O caso aconteceu em uma tradicional universidade particular, fundada em 1972, de uma capital nordestina.
“Na hora, fiquei bastante triste ao ouvir isso dele. Os alunos todos aceitaram isso como verdade, da mesma forma que eu no primeiro momento. Ele se aproveitou da autoridade como professor para impor o que é correto“, desabafou.
A estudante fez uma reclamação para a coordenadora do curso de comunicação e agendou um reunião com o ouvidor da universidade.
“Na primeira data para a reunião, a coordenadora cancelou o encontro sem me avisar e não fui recebida pelo ouvidor. No dia seguinte, voltei lá com uma amiga e contei para o ouvidor tudo o que aconteceu detalhadamente“, disse a estudante.
O ouvidor afirmou que o caso seria apurado, mas tentou, por diversas vezes, convencer a estudante a desistir da denúncia. Afirmou ainda não acreditava que houve racismo ou injúria na aula. Fernanda disse que sustentaria a acusação.
A garota é estagiária em uma empresa e paga R$ 669,90 de mensalidade no curso de jornalismo. No estágio, ela recebe R$ 510 por mês.
“Só consigo me manter na faculdade porque os meus pais se esforçam muito para me ajudar. O meu sonho é ser jornalista e apresentar um telejornal, do mesmo modo como outras jornalistas negras conseguiram“, disse a estudante.
O professor, autor da declaração racista, também é sócio de uma clínica de fonoaudiologia na cidade e é muito popular entre os alunos.
Fernanda foi em mais duas reuniões com o ouvidor para saber qual a atitude da universidade. Em uma delas, o ouvidor disse que não via “maldade nenhuma” no comentário do professor na sala de aula.
A estudante foi até a delegacia especializada em atendimento a grupos vulneráveis e registrou um boletim de ocorrência contra o professor.
A universidade não tomou nenhuma providência protetiva em favor da aluna. Nas semanas seguintes, ela teve mais duas aulas e uma prova com o mesmo professor, que já estava ciente da denúncia, porém, nem sequer pediu desculpas pelo comentário na sala de aula.
“Eu só queria que ele me pedisse desculpas e soubesse o quanto foi cruel com os meus sentimentos. A universidade também não deu importância para os meus sentimentos“, disse.
Racismo
Segundo a advogada Mayara Silva, é evidente que se trata de um caso de racismo.
“Dizer que alguém não pode ocupar um espaço para o qual ela tem total capacidade, competência e desejo só por causa do cabelo é um caso de racismo escancarado. Na aula, o professor declarou, mesmo não sendo especialista na área, que aquele determinado tipo de cabelo não servia. Logo, todos com aquele cabelo, seja homens ou mulheres, são incluídos na fala dele sobre uma característica de raça. Ou seja, está atingindo uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça“, disse a advogada, levando em conta os artigos da lei 7.716/89 do código civil.
as informações são do Portal R7