O 1º bebê do mundo a ter documento sem identificação de gênero
Bebê canadense é o 1º do mundo a ter documento sem identificação de gênero. Isso quer dizer que a criança não será necessariamente categorizada como "homem" ou "mulher" em sua certidão de nascimento
Nesta semana, o Canadá se tornou o lar daquele que pode ser o primeiro bebê sem identificação oficial de gênero em todo o mundo, graças a Kori Doty.
Isso quer dizer que o bebê não será necessariamente categorizado como “homem” ou “mulher” em sua certidão de nascimento.
Doty se identifica como uma pessoa não-binária queer, classificação usada por aqueles que não se consideram homem ou mulher, e utiliza os pronomes eles e deles para se identificar.
Doty deu à luz ao bebê Searyl Atli, na casa de um amigo, em novembro de 2016, na província de British Columbia e deseja que o filho descubra por conta própria seu gênero quando for mais velho.
Em uma entrevista em vídeo no YouTube, Doty explica sua filosofia quando se trata de criar uma criança sem gênero.
“A maneira como eu estou lidando com o gênero do meu bebê, Searle, basicamente é deixar espaço para que o bebê autodetermine seu gênero“.
Doty faz parte da organização canadense Gender Free ID Coalition e propôs remover a classificação de gênero da certidão de nascimento de Searyl porque queria pelo menos um de seus documentos oficiais que não incluísse “um marcador de gênero incorreto para o bebê“.
O governo de British Columbia recusou o pedido de Doty, pois a legislação local exige a escolha de um sexo na certidão de nascimento.
Porém, as alterações da Lei de Estatísticas Vitais, feitas em 2014, permitem que as pessoas mudem em seus documentos a sua designação de gênero de acordo com aquela que melhor se identifica, sem a necessidade de cirurgia de redesignação sexual.
De acordo com a CBC News, o governo enviou um cartão de saúde para Searyl com um “U” na categoria de sexo no mês passado, assim o bebê pode ter acesso aos serviços médicos.
Desde 2013 Doty faz parte de um processo judicial contra o Estado em que se baseia na ideia de que a atribuição de gênero em certidão de nascimento é discriminatória.
“O governo sabe que o sistema atual de designação de gênero em documentos desde que o bebê nasce permanece ao longo da vida, e pode ser incorreto para muitas pessoas trans e intersexuais. O governo sabe exatamente a dificuldade e o perigo que esses sistemas podem causar em nossas vidas. É completamente desapontante que eles estão escolhendo ignorar isso, enquanto permanecem conscientes do risco e dos danos que essa decisão tem sobre a população“, argumenta Doty.
barbara findlay, que prefere escrever seu nome sem maiúsculas, é a advogada da família. Em entrevista ao site Global News, ela afirma que “a designação de gênero nesta cultura é feita quando um(a) médico(a) abre as pernas e olha para os genitais de um bebê. Mas nós sabemos que a identidade de gênero do bebê só será desenvolvida alguns anos após o nascimento.”
No início deste ano, em janeiro, os canadenses passaram a ter três opções (masculino, feminino e uma terceira alternativa) na documentação de Emprego e Desenvolvimento Social do país, que está ligado ao número do seguro social, graças ao trabalho da ativista dos direitos trans Christin Milloy.
Sete países ao redor do mundo, incluindo Austrália, Paquistão e Nepal, permitem uma terceira opção de gênero em seus passaportes, e o Canadá também está trabalhando para isso.
Em outros lugares do Canadá, outras pessoas também estão tentando remover a classificação de gênero de seus documentos.
Alguns anos atrás, o bebê Storm, nascido em Toronto, se tornou um fenômeno internacional quando seus pais escolheram não revelar seu gênero por vários anos. Eles fizeram isso para que a criança pudesse escolhê-lo.
O HuffPost Canada conversou com a família em 2016, cinco anos após o artigo inicial sobre Storm. O pai David Stocker observou que, embora a sociedade não tenha mudado em geral, as pessoas estão se abrindo a novas ideias.
“Se você olha as consequências de todas as discussões que ocorreram, e os documentários que foram produzidos depois, e as conversas em maior profundidade, acho que tudo está sendo realmente valioso. Precisamos conscientizar [as crianças], de que são seus direitos nesta província, neste país. Precisamos ter certeza de que teremos os discursos e as palavras para articular isso tudo, expressar a experiência de cada um, e lutar junto com todos os outros por seus direitos“.
Rebecca Zamon, Huffington Post Canada