Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Chegamos na metade do ano. A passagem do tempo, um abstracionismo relativo, parece ser cada vez mais rápida. Minha infância durou trinta anos. E os catorze anos da minha pretensa maturidade transcorreu em cinco. Semana passada o Brasil levava os 7×1. E ano que vem já tem Copa de novo! Ano, esse, que, como disse, chegará em seis meses burocráticos, que na verdade passará em três meses.
Mas me atenho a este ano, que chega à sua segunda metade dois meses depois de trocarmos feliz-ano-novo com nossos entes. É que durante esse tempo que passou – rápido pra alguns e ainda mais rápido pra outros -,não vejo progressos em áreas importantes.
O Inter não deslancha na Série B. Gremista, em dado momento do efêmero ano passado, torci pelo seu descenso (por questões políticas, pois sou gaúcho). Agora, contudo, começo a temer que nosso rival fique alguns anos sem subir. (se o Inter ficar, digamos, três temporadas na Segundona, vai demorar uns nove meses lá.)
Mas futebol é apenas passatempo. Como se precisássemos dessa aceleração. Preocupa-me as questões políticas e sociais. O golpe, ocorrido há três meses, na verdade completou mais de ano, segundo o equivocado calendário. O Michel Fora Temer, na ocasião de sua posse, avisou que que não ia tolerar a pecha de golpista e que iria se cercar somente de notáveis. Os brancos velhos e ricos que ele chamou pra compor seu ministério e assessorias são hoje notáveis réus ou presidiários. Isso porque andavam com malas recheadas de notáveis quantias em espécie. Ou pediam propinas também em notáveis somas. São, então e de fato, notáveis. Quanto ao contra-argumento de golpe, ninguém mais ousa defender. O Senador Romero Jucá deixou claro que o golpe – repito o termo porque agora posso fazê-lo sem receio – foi um grande acordo pra estancar a “sangria” (Operação Lava-Jato).
É julho e o Presidente(?) foi flagrado em comprometedoras conversas madrugadinhas e extra agenda no Palácio Jaburu com o bandido Joesley Batista. Foi o próprio empresário-bandido quem gravou e denunciou o anfitrião. E utilizo o adjetivo bandido porque o próprio Fora Temer assim qualificou o seu convidado. Mas, segundo ele, conversar com bandido na Sede do Governo sobre assuntos criminosos (Joesley lhe informou que subornara membros do Judiciário) não é crime. Essa acusação seria pura ilação. Ou seja, um presidente pode muito bem ouvir crimes contra a Coisa Pública e incentivar que isso continue ocorrendo – “tem que manter isso aí, viu” – e acusá-lo de crime seria, no mínimo, uma precipitada suposição.
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Já é julho. E os retrocessos da legislação trabalhista e previdenciária não se demoram no Congresso. E será tudo em regime de urgência. É que a precarização do trabalho e dos trabalhadores reclamam pressas. Os direitos trabalhistas continuam a ceifar em zero-vírgula-alguma-coisa-porcento o lucro do capital, que avisa em seu argumento rasteiro e falacioso: se não mudar – piorar – vai haver desemprego. É preciso modernizar as leis trabalhistas. Não é moderno pagar férias, 13º salário e outros “benefícios”. É preciso um Renascimento às avessas. A volta ao pensamento medieval.
Já é julho. Pouco ou nada há pra se comemorar (exceto pra classe empresarial). Questões pessoais e subjetivas podem acalentar (família, amigos, cerveja no vespertino e uma eventual conquista gremista).
É julho. E receio o porvir
*Delmar Bertuol é escritor, professor de história, membro da Academia Montenegrina de Letras e colaborou para Pragmatismo Político
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