A luta dos pais de um bebê em estado terminal que envolveu o presidente dos EUA, Donald Trump, e o papa Francisco, líder da igreja católica
Uma comovente batalha judicial dos pais de um bebê britânico em estado terminal acabou envolvendo o presidente dos EUA, Donald Trump, e o papa Francisco.
Charlie sofre de síndrome de miopatia mitocondrial, uma síndrome genética raríssima e incurável que provoca a perda da força muscular e danos cerebrais. Ele nasceu em agosto de 2016 e, dois meses depois, precisou ser internado, onde permanece desde então, no Hospital Great Ormond Street, em Londres.
O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) explicou que Charlie tem danos cerebrais irreversíveis, não se move, escuta ou enxerga, além de ter problemas no coração, fígado e rins. Seus pulmões apenas funcionam por aparelhos.
O NHS disse que os médicos chegaram a tentar um tratamento experimental trazido dos EUA, mas Charlie não apresentou melhora. Por isso, defende o desligamento dos aparelhos que o mantêm vivo.
Mas seus pais, Chris Gard e Connie Yates – e uma comunidade de apoiadores -, lutam contra a decisão do hospital e pedem permissão para levar o bebê aos Estados Unidos para receber o tratamento experimental diretamente.
Determinação da Justiça
No dia 27 de junho, entretanto, eles perderam a última instância do pedido na Justiça britânica, que avaliou que a busca pelo tratamento nos EUA apenas prolongaria o sofrimento do bebê sem oferecer possibilidade de cura. A Corte Europeia de Direitos Humanos também concluiu que o tratamento “causaria danos significativos a Charlie“, seguindo a opinião dos especialistas do hospital, e orientou pelo desligamento dos aparelhos.
Nesse mesmo dia, um grupo de britânicos se reuniu em protesto em frente ao Palácio de Buckingham, em Londres, em favor da família de Charlie.
No domingo, após a decisão, o papa Francisco pediu que os pais de Charlie possam “tratar de seu filho até o fim“. O Vaticano disse que o papa estava acompanhando o caso “com carinho e tristeza“.
Num comunicado divulgado pela instituição, o papa expressou condolências aos pais de Charlie, dizendo que reza por eles, “na esperança de que seu desejo de acompanhar e cuidar de seu próprio filho até o fim não seja ignorado“.
O hospital pediátrico do Vaticano inclusive se ofereceu para assumir o tratamento do bebê, mas segundo o secretário de Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, razões legais impedem a transferência.
A presidente do hospital chegou a conversar por telefone com a mãe de Charlie e comentou que ela “é uma pessoa muito determinada e decidida e não quer ser parada por nada“.
Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se manifestou sobre o caso pelo Twitter, dizendo que gostaria de ajudar Charlie a receber tratamento.
“Se pudermos ajudar o pequeno #CharlieGard, como nossos amigos no Reino Unido e o papa, ficaríamos felizes de fazê-lo“, escreveu Trump.
Uma porta-voz da Casa Branca disse que Trump não chegou a falar diretamente com a família, mas que membros da administração o fizeram. “O presidente está tentando ser prestativo se isto for possível“, ela afirmou. Não está claro, porém, que tipo de ajuda seria oferecida pelo governo dos EUA.
A repercussão internacional do caso fez com que a premiê britânica, Theresa May, se manifestasse nesta quarta-feira. Ela disse confiar que o hospital onde Charlie está internado “levará em consideração quaisquer ofertas ou novas informações” que possam beneficiar o bebê.
Sem autonomia
Já Chris Gard e Connie Yates se disseram “decepcionados” com o resultado da longa batalha judicial. Eles chegaram a arrecadar 1,3 milhão de libras (R$ 5,5 milhões) num site de financiamento coletivo para custear o tratamento nos Estados Unidos e disseram que iriam doar o dinheiro a uma ONG voltada para a síndrome de miopatia mitocondrial se Charlie não se beneficiar do dinheiro.
Em um vídeo publicado no YouTube, eles afirmaram: “Estamos com o coração totalmente partido, passando nossas últimas horas preciosas com nosso bebê“.
“Não podemos escolher se nosso filho vive e não podemos escolher quando ou onde ele morre“, continuaram, lembrando que foram negados os pedidos para que Charlie fosse levado para casa para morrer.
O tratamento experimental não seria capaz de curar o bebê, mas traria esperanças de amenizar os efeitos da doença. Os médicos americanos afirmaram, no entanto, não terem observado melhora em casos tão avançados como o de Charlie.
De acordo com o NHS, quando os pais não concordam com a condução do tratamento de seu filho, o hospital pode recorrer à Justiça para tomar uma decisão, como ocorreu nesse caso. O processo se estendeu por três instâncias até a Suprema Corte britânica, além da corte europeia, todas em favor da unidade de saúde.
Nesse caso, a Justiça baseia sua decisão, diz o NHS, no que é melhor para Charlie. Por isso, mesmo que os pais queiram custear a viagem aos Estados Unidos com o dinheiro arrecado, eles não têm autonomia para isso, uma vez que a Justiça determinou que o tratamento não trará benefícios ao bebê.
BBC
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